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Artes

Conhece Onna Silva? Atriz de MS que já representou o Brasil em Cannes

Artista transexual trabalhava como empregada doméstica quando surgiu oportunidade no cinema

Por Aletheya Alves | 09/01/2024 07:13
Onna venceu categoria coletiva no Festival Mix. (Foto: Arquivo pessoal)
Onna venceu categoria coletiva no Festival Mix. (Foto: Arquivo pessoal)

Aos 26 anos, a atriz e modelo transexual Onna Silva já trabalhou com Lázaro Ramos, venceu premiação nacional e integrou grupo de atores representando o Brasil no Festival de Cannes. Douradense, ela viu sua vida mudar após fazer um teste para o universo do cinema e deixar a vida como empregada doméstica em Mato Grosso do Sul para trás.

“O começo da minha trajetória foi bem atípica, ou digamos assim, foi bem o que quase todas passam”, introduz Onna sobre sua história pessoal. Hoje morando em São Paulo, a artista acumula conquistas e conta sobre como os desafios continuam presentes.

Em 2016, Onna fazia graduação na UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) e trabalhava em um escritório quando começou o processo de transição. “Foi ali que entendi o processo da minha vida. Minha família não aceitou, fui demitida do trabalho e a faculdade também não estava dando para continuar com toda a rejeição das pessoas”.

Na época, a artista ainda não tinha consciência de que estava passando por diversos episódios transfóbicos e, como ela diz, apenas abaixava a cabeça e tentava seguir.

Deixando para trás o emprego no escritório, a douradense começou a trabalhar como empregada doméstica na casa de uma advogada e permaneceu assim por seis meses até ser “encontrada” pelo diretor de cinema Thiago Rotta.

“Fiz um teste para uma série chamada Natasha que estava rodando em Dourados. Nós gravamos em três meses e, terminando o processo da série, em 2017, decidi ir para o Rio de Janeiro”, conta a artista.

Registro antes de ir para a premiação do Festival de Cannes. (Foto: Arquivo pessoal)
Registro antes de ir para a premiação do Festival de Cannes. (Foto: Arquivo pessoal)

Definindo a mudança como conturbada, Onna não conseguiu emprego no outro estado, perdeu o dinheiro que tinha e precisou morar em uma casa de acolhimento para pessoas trans. “Ali eu entendi o que é a questão de saúde pública porque eu morava em uma casa com pessoas em transição que não tinham nenhum acesso à educação, meninas que saíram expulsas de casa muito cedo”.

Onna permaneceu na casa de acolhimento até que Thiago Rotta fizesse uma ponto com um produtor de elenco sul-mato-grossense que morava no Rio de Janeiro. “Ele me apresentou para outro produtor de elenco da Rede Globo, então fiz outro teste e depois de quase um ano me chamaram para um projeto de desenvolvimento artístico”.

Nesse processo, que durou três meses, a douradense recebeu mentoria de Lázaro Ramos. “Ele me acolheu de uma forma tão linda e foi muito chocante porque eu cresci vendo esses gigantes na televisão brasileira e em filmes. Com isso, fui me virando como bartender mesmo com as promessas da Rede Globo”, diz.

A artista chegou a voltar para Mato Grosso do Sul por um tempo, mas após ser agredida por um homem com quem se relacionava, recebeu um convite de Lázaro Ramos. Aceitando a oportunidade, Onna atuou no longa metragem “Medida Provisória”.

Hoje, sua lista de trabalhos inclui o filme musical “Chega de Saudade”, uma participação em “As Five”, do Globo Play, e “hero” de campanhas do Spotify, Avon e Salonline.

Em 2023, Onna foi ao festival cinematográfico de Cannes, um dos principais do mundo, devido à sua participação no filme “Levante”. Outra conquista foi ter vencido categoria do Festival Mix Brasil, destinado à cultura LGBTQIA.

Pensando sobre sua trajetória, a artista explica que ter passado por tantos episódios difíceis, incluindo a morte de seu noivo, fez com que ela percebesse o quanto conseguia lutar. Desde a batalha por papéis no mundo cinematográfico até não tolerar episódios de preconceito, Onna completa dizendo que aprendeu sobre sua força e continua sonhando com seus caminhos.

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