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Artes

Obrigada a deixar o Paraguai para casar, Eugênia levou uma nova ‘mãe’

Aos 82 anos, ela conta sobre como precisou deixar os estudos no PY para formar família em solo brasileiro

Por Aletheya Alves | 17/12/2024 08:06
Eugênia mantém um pequeno altar na sala de casa, em Porto Murtinho. (Foto: Henrique Kawaminami)
Eugênia mantém um pequeno altar na sala de casa, em Porto Murtinho. (Foto: Henrique Kawaminami)

Todos os dias, dona Eugênia Fleitas tira sua cadeira de casa, leva para a calçada em frente à avenida Rio Branco e tem mais certeza de que seu lugar continua sendo em Porto Murtinho. Ali, na avenida em que mora há longo tempo, ela guarda a história de quem, contrariada, foi obrigada a deixar seu país para se casar, levou consigo uma nova “mãe” e, no fim das contas, se encontrou na paz murtinhense.

“Eu até morei em outros lugares, morei em Campo Grande também e gostei, mas como que lá vou colocar minha cadeira assim (em frente de casa) e ficar em paz?” pontua a paraguaia que se casou com um gaúcho em Mato Grosso do Sul. Hoje, aos 82 anos, Eugênia mantém o sorriso fácil e conta que o início da sua história brasileira não foi tão tranquilo quanto suas risadas.

Em suas palavras, para contar sobre como foi parar em Porto Murtinho, precisa me explicar uma “história bonita” que, de início, foi complicada. Ela ainda era menina quando sua mãe ficou viúva, tendo de cuidar das cinco filhas e dois filhos em Assunção.

Ainda na escola, Eugênia viu uma de suas irmãs sair do Paraguai e é aqui que começa a motivação para que ela também saísse. “Minha irmã começou a namorar cedo e minha avó era brava também. Então, uma mulher apareceu e perguntou se ela não podia ir trabalhar junto com ela em Miranda”.

Sem se lembrar o nome da senhora, ela se recorda de que a mulher trabalhava vendendo algumas cadeiras e tinha uma pequena pensão na cidade. Na época, a irmã aceitou e deixou Assunção de navio, levando dois dias para chegar ao Brasil.

“Era uma casinha de tábua, todas as casas eram assim lá na época. Minha irmã vendia as coisas e ajudava a servir quem ficava na pensão. Um dia, ela foi servir a mesa para um militar e ela era muito bonita. Ali mesmo, ele gostou dela e logo namoraram”, descreve Eugênia.

Imagens de Nossa Senhora de Caacupé, a quem Eugênia é devota. (Foto: Henrique Kawaminami)
Imagens de Nossa Senhora de Caacupé, a quem Eugênia é devota. (Foto: Henrique Kawaminami)
Hoje, a senhora paraguaia faz questão de dizer que não abandona o Brasil. (Foto: Henrique Kawaminami)
Hoje, a senhora paraguaia faz questão de dizer que não abandona o Brasil. (Foto: Henrique Kawaminami)

Ao ver que o relacionamento era sério, a irmã enviou um relato por carta e, em pouco tempo, foi visitar a família. “Ela foi até Assunção, eu continuava morando lá com minha mãe, e disse que só voltava para o Brasil comigo”.

Se lembrando de como se sentiu na época, a paraguaia narra que, por um lado, com curiosidade, queria conhecer a nova vida da irmã, mas por outro, queria ainda mais seguir estudando.

“Eu tinha só o terceiro ano, não queria sair do colégio, mas olha como era naquela época. Sabe o que minha mãe falou? Ela falou que não era só estudo que dava futuro, um bom marido também”.

No fim das contas, contrariada por não querer deixar a vida em Assunção e a escola, Eugênia seguiu com a irmã até Miranda. “Ela se casou com o militar e a gente se mudou para Murtinho. Logo eu comecei a conversar com as pessoas, ir para os bailes e, no fim das contas, gostei daqui, não queria mais ir embora”.

Consigo, ela trouxe a fé que já cultivava no Paraguai e, de lá, trouxe mais uma “mãe”, a Nossa Senhora de Caacupé. Dividindo a devoção com uma série de outras mulheres da cidade, Eugênia construiu sua família na cidade fronteiriça.

“Depois, eu me casei também, tive meus filhos e sempre ia para o Paraguai ver minha mãe. E eu tenho também Nossa Senhora de Caacupé, que sempre me ajudou, que é uma santa muito milagrosa”.

Esse título de “mãe” também é dividido com as outras devotas de Caacupé, a santa paraguaia que ganhou o coração das famílias em Porto Murtinho. No caso de Eugênia, é mais uma conexão com a vida que tinha em Assunção.

Assim como a santa já quase tem um status brasileiro graças à sua conexão com a vida cotidiana em Porto Murtinho, Eugênia também divide sua história com os dois países e garante que não tem vergonha de dizer sobre seu país. E, no fim das contas, com a família brasileira e a santa paraguaia, uma história que começou complicada se tornou a escolha de vida da senhora de 82 anos.

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