Adolescente autista tinha medo, até calçar o tênis e mandar bem no skate

Diagnosticado com autismo aos 7 anos, o adolescente João Guilherme, de 13, enfrenta desafios diários, mas se recusa a ser definido pela condição. Com o apoio da mãe e de um professor, encontrou no skate uma forma de se expressar, superar limitações e conquistar novos horizontes.

Gisele Coronel, mãe de João, lembra como foi o momento do diagnóstico. “Quando o João nasceu, percebi que ele tinha algo diferente, mas não sabia o que era. Ele demorou a falar, não fazia contato visual... Eu sentia que algo não estava certo e fui em busca de respostas”, conta.

Com a confirmação do autismo, Gisele passou a se dedicar integralmente aos cuidados com o filho. “Ser uma mãe atípica exige resiliência. É preciso ter esperança e se entregar de verdade”, afirma.

O caminho até o skate começou com um episódio de hiperfoco de João, um traço comum em pessoas com autismo. E foi em pesquisas na internet que o menino descobriu uma escola para skatistas em Campo Grande. Decidida a buscar novas terapias para o filho, a mãe entrou em contato com João Nantes, professor de skate.

“Falei para o João que meu filho era autista e não tinha noção nenhuma, mas ele não hesitou em ensinar. E foi aí que tudo mudou”, lembra Gisele.

Profissional de educação física, João Nantes nunca tinha treinado um aluno autista no skate, mas já tinha experiência com autistas no boxe. “Aceitei o desafio, porque acredito que o problema não está na condição, mas na metodologia de ensino”, afirma o professor.

Segundo ele, o início foi desafiador. João Guilherme tinha muito medo, especialmente de cair. No entanto, o xará focou as aulas em algo que vai além do aspecto físico do esporte. “Não é só sobre andar de skate, é sobre lidar com os próprios medos e dificuldades. O skate ajuda a trabalhar a ansiedade e a desenvolver coragem”, explica João.

O processo de aprendizagem do aluno foi gradual e notável. “No começo, ele mal conseguia se equilibrar. Hoje, ele anda de skate perfeitamente. Não faz manobras ainda, mas a evolução é visível. Ele aprendeu a superar a falta de coordenação e a ganhar mais confiança em si mesmo”, conta Gisele.

Para a mãe, o skate se tornou uma verdadeira terapia, que trouxe não só progresso motor, mas também emocional e social para o filho. “É um ambiente acolhedor. A galera do skate é super acolhedora e isso é muito importante para a gente, porque o João sente que está ali, como qualquer outra criança”, acrescenta.

Inspirado pela filosofia das artes marciais, João Nantes introduziu um sistema de graduação no skate. “Quis dar algo a mais para as crianças. Além do aprendizado físico, queria incentivá-las com uma graduação, como no judô. O João vai receber a primeira graduação no skate neste fim de semana”, relata o professor.

Hoje, apesar das dificuldades que ainda enfrenta, João Guilherme segue a jornada no skate, levando a lição de que a verdadeira superação não está em vencer, mas em tentar, cair e sempre tentar mais uma vez.

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