De MS, Nádia Kazan revolucionou o transformismo do País nos anos 1970
Nascida em Bela Vista, artista conquistou o País nas décadas de 70 e 80 com atuações luxuosas
Muito antes de nomes como Pabllo Vittar, Liniker ou das atuais divas da comunidade LGBT+ terem espaço na mídia e nos palcos do País, uma sul-mato-grossense já brilhava como estrela no cenário nacional.
RESUMO
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Nádia Kazan, nascida em Bela Vista, Mato Grosso do Sul, em 1943, foi uma das maiores artistas transformistas do Brasil nas décadas de 1970 e 1980. Com performances impecáveis e figurinos luxuosos, ela conquistou São Paulo e parte da Europa, tornando-se nome disputado na icônica boate Nostro Mondo. Conhecida por seu profissionalismo e refinamento, Nádia ganhou destaque nacional ao participar do quadro "Eles e Elas" no programa Clube do Bolinha, em 1988. A artista, que faleceu em maio de 2023 aos 79 anos, deixou um legado importante para a comunidade LGBT+ brasileira, abrindo caminhos para as gerações futuras.
Nascida em outubro de 1943, na cidade de Bela Vista, Nádia Kazan foi uma das grandes artistas transformistas do Brasil, referência de glamour, sofisticação e profissionalismo nas décadas de 1970 e 1980, quando conquistou São Paulo e parte da Europa com suas dublagens e performances impecáveis.
A artista deixou Mato Grosso do Sul ainda jovem e construiu uma carreira sólida na capital paulista, onde se tornou nome disputado na icônica boate Nostro Mondo, uma das mais importantes vitrines da noite brasileira naquele período. Com estilo de vedete, figurinos luxuosos e uma postura refinada, Nádia ajudou a escrever a história do transformismo no Brasil, em uma época em que ser quem se era exigia coragem redobrada.
Um dos registros emblemáticos dessa trajetória é a participação de Nádia no quadro “Eles e Elas”, do programa Clube do Bolinha, exibido pela TV Band em 1988. O programa de auditório levava artistas transformistas renomados da noite para apresentações transmitidas para todo o País, parando o Brasil aos sábados.
No vídeo, Nádia dubla a cantora francesa Dalida com domínio da língua estrangeira, uma habilidade que conquistou durante os anos em que morou em Paris. Em cena, ela aparece com um vestido longo bordado em strass e um boá de plumas vermelho, traduzindo o luxo que sempre marcou sua imagem artística.
Após a apresentação, a artista conversa com o apresentador Bolinha, conta que é de Mato Grosso do Sul, nascida em Bela Vista, e os dois comentam sobre a proximidade da cidade com o Paraguai. Bolinha, inclusive, diz que já esteve no município.
Quem conviveu de perto com Nádia guarda lembranças vívidas da artista. Amigo pessoal e DJ nos tempos da Nostro Mondo, Zeca Prudente conheceu Nádia em 1985, quando ela retornou de Paris. “A primeira impressão era aquela maquiagem perfeita. A Nádia era muito impecável. Peruca, maquiagem, figurino. Ela usava Yves Saint Laurent, Chanel. Era muito chique”, relembra.
Segundo ele, o cuidado estético era uma marca registrada da sul-mato-grossense. “Eu lembro exatamente da roupa que ela estava usando quando a conheci, era um vestido lindíssimo, com um detalhe no busto que parecia um leque”, pontua.
Zeca conta que, após a morte de Condessa Mônica, fundadora da Nostro Mondo, Nádia assumiu a direção artística da casa, ajudando a revitalizar a boate em um momento delicado.
“Ela tinha muito gosto para figurino, era extremamente exigente. Quem participava dos shows tinha que seguir tudo à risca. Não entrava sem maquiagem, sem meia. Ela era extremamente profissional e cuidou muito bem da Nostro Mondo”, relata.
Além do palco, Nádia também deixava sua marca nos bastidores com as festas de fim de ano que fazia na boate. “Ela cozinhava como ninguém. Fazia um pernil maravilhoso, um bolo de amendoim que eu nunca mais comi igual. Era tudo impecável, como ela”, lembra Zeca, que manteve amizade com a artista até o fim da vida.
Safira Benguell, artista transformista que integrou o elenco original da Nostro Mondo, também destaca o requinte de Nádia. “Ela falava pouco, mas tinha um guarda-roupa luxuoso, impecável. Muito bem maquiada, muito bem penteada. Não era alguém que se destacava só pelo talento isolado, mas pelo conjunto da obra. O luxo, a limpeza em cena, o cuidado”, afirma.
Para Safira, Nádia representava uma geração extremamente profissional, comprometida com a arte. “A nossa amizade era muito ligada ao trabalho. Era um período de muito profissionalismo. A gente ganhava dinheiro com isso, então precisava agradar o público”, destaca.
Safira contextualiza ainda a importância histórica daquele momento. “Nós ocupamos uma lacuna deixada pelo teatro de revista e pelas vedetes. Era um trabalho sério, profissional, que infelizmente hoje quase não existe mais.” Segundo ela, foi nesse contexto que artistas como Nádia chegaram à televisão. “O Brasil inteiro parava para assistir ao quadro ‘Eles e Elas’. Era um fenômeno”, afirma.
Fora dos palcos, Nádia levava uma vida simples, mas cercada de afeto. Morou por décadas em um apartamento próximo à Estação da Luz, em São Paulo, e manteve uma relação próxima com a família. “Os irmãos sempre a trataram como irmã. Isso era muito bonito. Quando ela ficou doente, foi acolhida pela família. Teve uma morte digna, cercada de amor”, revela Zeca.
Nádia Kazan morreu no dia 13 de maio de 2023, aos 79 anos, em decorrência de um AVC. Na ocasião, nomes importantes da comunidade LGBT+, como Nany People, Silvetty Montilla e Marcinha do Corintho, lamentaram a perda da artista que ajudou a abrir caminhos para tantas outras.
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