Drag queen indígena, Pryara leva cultura terena na arte transformista

A descrição no perfil do Instagram chama atenção até mesmo de quem já entende que a arte drag é plural e para todos. Na bio, o jovem Gabriel Medeiros, de 19 anos, se apresenta sem rodeios: "Indígena terena e drag queen".

Em um meio onde a criatividade e a autenticidade são essenciais, Gabriel, ou melhor, Pryara Mattel, se destaca pela representatividade. Morador de Campo Grande, ele tem um diferencial: leva a cultura indígena para a arte transformista, incorporando símbolos, pinturas e acessórios típicos do povo Terena às suas montações. E o mais surpreendente? Sempre teve apoio incondicional da família, incluindo os avós idosos, o que é um alívio e tanto em um mundo onde muitos artistas LGBTQIA+ enfrentam resistência dentro de casa.

Foi cedo, aos 12 anos, que o jovem falou abertamente sobre a sexualidade e o amor pela arte drag. Uma mensagem foi publicada em um post no Facebook, onde ele já fez a primeira aparição produzido com uma maquiagem.

A reação da família? Zero choque e 100% de apoio. “Nunca escondi que era gay, então, quando falei abertamente, foi só uma reafirmação. Ninguém nunca teve preconceito. Na minha família todos são de mente aberta. Eles não seguem nenhuma religião específica, então acho que isso ajudou”, explica.

Inclusive, foi a avó, dona Arminda, quem ensinou Gabriel a costurar. “Ela me ajudava a fazer minhas perucas, me ensinou a costurar, e meu avô, Antenor, me ajudava com dinheiro para eu comprar algumas coisas”, conta.

Segundo ele, o sonho de ser drag começou a tomar forma em meio a pandemia e recursos limitados. “Não conseguia comprar muita coisa, então desfiava lã de tapetes da minha avó para fazer perucas e usava maquiagem emprestada das minhas primas e irmãs. Na época estava bombando os challenges do instagram e eu gravava vídeos no celular da minha irmã e postava nas redes sociais”, relata.

Orgulho de Ser Terena e Drag Queen - A identidade indígena sempre esteve presente na vida de Gabriel. “Minha mãe e toda minha família materna é Terena. Eles moravam na aldeia Olho d’Água, em Dois Irmãos do Buriti, e vieram para Campo Grande morar no Bairro Guanandi. Eu ia na aldeia, participava dos festivais do Dia da Cultura Indígena, sempre tive muito contato com minhas raízes e orgulho de quem sou", afirma.

E essa cultura também transborda na estética de Pryara Mattel, que inclui elementos indígenas nas montações, seja nas pinturas, nos acessórios ou nos símbolos culturais. Uma prova de que arte e identidade caminham juntas.

Apesar de ainda serem poucas as drag queens indígenas no Brasil, Gabriel nunca se sentiu deslocado. “Dentro da aldeia, sei que existem muitos LGBTs, inclusive na minha família. Nunca foi um problema. Pelo contrário, vejo como um sinal de evolução. Nossa cultura está em toda parte.”

Por um tempo, Gabriel deu uma pausa na carreira drag para se dedicar ao trabalho em uma loja, mas Pryara voltou com tudo no Carnaval deste ano. Agora, o jovem pretende se inserir de vez na cena drag e mostrar seu talento. “Quero levar minha arte adiante e fazer as pessoas apreciarem o trabalho de um garoto indígena e drag queen”, afirma.

Segundo ele, o nome Pryara Mattel nasceu de duas inspirações: Priyanka, drag e cantora do reality "RuPaul’s Drag Race", e Mattel, a fabricante da Barbie. “É barbiezinha indígena”, brinca.

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