Filha ensinou mãe a tocar taiko por amor a tradição que não é só tambor
No Dia da Imigração Japonesa, Kris e Nanci mantém tradição e mostram que equipamento não é "só tambor"
Desde os 5 anos, Kris Tokeshi Tiguman aprendeu a se expressar por meio dos “tambores” japoneses e encontrou no som ritmado dos taikos um jeito de fazer a cultura japonesa pulsar ainda mais dentro de si. O encanto pela percussão, também chamada de wadaiko, era tamanha que, após anos tocando, virou professora e, melhor, hoje ela dá aulas para a própria mãe. As duas tocam lado a lado há mais de um ano e, entre uma batida e outra, descobriram que isso as conectou ainda mais.
Aos 26 anos, ela explica que se apaixonou pela arte milenar e que o tempo só reforçou o que já sabia: que o taiko não era só tambor, era sentimento.
A professora conta que assistiu ao interesse dos jovens crescer com o tempo e que, há cinco anos, quando começou a ensinar o instrumento, tinha apenas 4 tocadores. Hoje, o número é quase cinco vezes maior. Nesta quarta-feira (18), Dia da Imigração Japonesa, ela conta um pouco de como tudo aconteceu.
“Nasci em Campo Grande e sempre via minha irmã mais velha participando do taiko desde sempre. Então, sempre esteve na minha vida, seja por herança, seja por ter essa paixão pela arte do taiko. Para mim, taiko, além de ser uma atividade onde podemos honrar a nossa cultura, também é um meio de expressão. Então, cada música tem um tipo de expressão diferente, o que vai muito além de simplesmente ‘tocar tambor’. É um sentimento. Comecei a tocar taiko no mesmo grupo que a minha irmã porque eu me espelhava nela.”
As aulas foram acontecendo naturalmente por ela ter habilidades e didática para ensinar. Formada em Artes Visuais, Kris começou a fazer taiko na Associação Okinawa, no Kariyushi Taiko (hoje Kariyushi Eisa Daiko). Atualmente, ela é líder e dá os treinos de taiko no Raiden Daiko, grupo da Associação Esportiva e Cultural Nipo-Brasileira.
A dedicação à cultura japonesa vai além do tambor. Para ela, é herança, símbolo de orgulho e um elo entre gerações. Bisneta de imigrantes, ela carrega na memória o que a avó contava sobre a mãe (bisavó de Kris), principalmente que ela tocava taiko e sanshin, instrumento musical de três cordas originário de Okinawa, no Japão. “Sou yonsei (descendente de quarta geração de imigrantes japoneses), então foram meus bisavós que vieram do Japão”, comenta.
Embora o pai não tenha o gosto pelos instrumentos, a mãe, Nanci Tokeshi, se deixou conquistar pelo taiko. Ela começou no início de 2024, achando que era só para dar uma força no número de tocadores, conta Kris. Mas o que parecia temporário se transformou em algo maior.
“Acho que o taiko conquistou ela. Hoje, ela é uma tocadora avançada e, para mim, significa tudo. É indescritível o sentimento de apoio da minha mãe fazendo parte desse grupo. E ela é meu maior exemplo de que idade não significa nada, qualquer um pode tocar.”
Imigração
Há 117 anos chegava a bordo do navio Kasato Maru, os primeiros imigrantes vindos do Japão em busca de uma nova vida no Brasil. A imigração japonesa em Campo Grande teve início em 1909, com a chegada de imigrantes, principalmente de Okinawa, contratados para trabalhar na construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.
Ao longo dos anos, esses imigrantes se fixaram na região e contribuíram com o desenvolvimento da cidade, atuando principalmente na agricultura e em atividades ligadas à cultura japonesa.
Atualmente, Campo Grande abriga a segunda maior comunidade okinawana do Brasil, com cerca de 15 mil descendentes, o que representa aproximadamente 70% da colônia japonesa local.
A presença cultural se reflete em instituições como a Associação Okinawa, que preserva tradições por meio de festivais, grupos de dança e de taiko. Ao longo do tempo, a comunidade nipo-brasileira enfrentou desafios como o clima, o idioma e o isolamento, mas manteve viva sua identidade.
Este mês, a visita da princesa Kako do Japão destacou a importância histórica da imigração japonesa na Capital, reforçando os laços diplomáticos e culturais entre Brasil e Japão e homenageando o legado de gerações que ajudaram a construir Campo Grande.
Nesta quarta-feira (18), Dia da Imigração Japonesa, a Associação Okinawa vai comemorar a data com culto ecumênico, celebrado às 16h. O evento sera realizado no Clube de Campo Associação Nipo Brasileira de Campo Grande, localizada na Avenida Min. João Arinos, 140, no bairro Jardim Veraneio.
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