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Comportamento

Honrando família, John carrega mais de 10 kg ‘incendiados’ nas costas

Murtinhense é um dos únicos ‘toreros’ da cidade e responsável por guardar detalhes originais de Candil

Por Aletheya Alves | 09/12/2024 06:45
John é um dos poucos toreros que resistem em Porto Murtinho. (Foto: Henrique Kawaminami)
John é um dos poucos toreros que resistem em Porto Murtinho. (Foto: Henrique Kawaminami)

Quando era criança, John Christian Barrios começou a ouvir falar sobre Nossa Senhora de Caacupé e os ritos envolvendo Toro Candil. Sem nem perceber, aprendeu os detalhes conforme crescia e, hoje, além de ser um dos únicos ‘toreros’ (homens que dão vida ao Candil), tem mantido cada detalhe original vivo em Porto Murtinho.

“Na cabeça do toro, precisa ter os desenhos kadiwéu, essa é parte da versão mais original. Antes, quando a dona Mara começou, ela não sabia e eu expliquei. Continuar usando a juta (tecido) também é uma coisa que vem lá dos antigos”, detalha.

Anualmente, antes de encarnar o toro, ele ajuda Mara Silvestre (a responsável por retomar a tradição da festa e transformá-la em um festival) a orientar as novas gerações. Mas, antes de seguir, se você ainda não conhece a festa de Porto Murtinho, é só clicar aqui.

Torero em ação durante o Festival de Rua Toro Candil, neste ano. (Foto: Henrique Kawaminami)
Torero em ação durante o Festival de Rua Toro Candil, neste ano. (Foto: Henrique Kawaminami)
No início da festa, é necessário incendiar os chifres e molhar a 'fantasia'. (Foto: Henrique Kawaminami)
No início da festa, é necessário incendiar os chifres e molhar a 'fantasia'. (Foto: Henrique Kawaminami)

Com isso em mente e voltando ao John: preparar o toro não é fácil. Feita principalmente de cipós, arames e tecido, a fantasia é moldada meses antes da festa (realizada nos dias 7 e 8 de dezembro). John descreve que a tradição paraguaia é usar os materiais mais simples possíveis tanto para que o gasto não seja alto quanto para facilitar a vida do torero.

Os cipós vão sendo moldados para ficar no formato do corpo do toro e, depois, são revestidos. Com tudo já pronto, chega o momento de encharcar os chifres de combustível diariamente para manter o fogo alto e aceso.

Nesse processo é que John vai orientando os voluntários que se juntam à organização. Enquanto isso, também aplica os conhecimentos artísticos para construir as decorações instaladas na festa.

O gosto pela parte artística veio, inclusive, em uma outra fase da festa na cidade, quando existia uma competição entre os touros bandido e encantado (basicamente, uma versão sul-mato-grossense do Caprichoso e do Garantido). Nesse período, John participou da produção e aprendeu a desenhar, além de fazer esculturas de isopor e argila.

Essa versão acabou, mas o gosto pela arte seguiu e hoje é aplicada no Candil. Unindo as técnicas de produção à vontade de honrar a tradição familiar (já que seus avós e tios são paraguaios), o murtinhense não deixa nenhuma oportunidade passar.

Desde sua participação na festa dos touros, o amor pela arte pulsa. (Foto: Henrique Kawaminami)
Desde sua participação na festa dos touros, o amor pela arte pulsa. (Foto: Henrique Kawaminami)
Agora, faz questão de manter a tradição de dar vida ao Candil. (Foto: Henrique Kawaminami)
Agora, faz questão de manter a tradição de dar vida ao Candil. (Foto: Henrique Kawaminami)

“Quando eu comecei a fazer parte da festa, foi porque entrei em uma brincadeira quando já tinham poucas pessoas. Se você ver, em Porto Murtinho, nós temos poucos envolvidos e isso que a tradição não é algo que precisa de muito dinheiro. É uma questão de gostar e de saber da importância”.

É, inclusive, essa justificativa que ele dá para carregar os mais de 10 quilos nas costas e se movimentar com o traje parcialmente em chamas. Considerando, além disso, o calor de Porto Murtinho, o compromisso não é nada fácil.

Na dinâmica, ele reveza a tarefa com outros dois toreros e todos saem encharcados ao fim dos 30 minutos de brincadeira. Queimando alguns mascaritas que não se curvam à fera e cansando os outros, o papel é finalizado na praça.

“Essa é a nossa festa, é a nossa tradição. Não é fácil e a gente fica preocupado em ver menos pessoas envolvidas. Mas todos os anos a gente tenta e só vamos parar quando realmente não der mais”, completa o torero.

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