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Comportamento

Motorista que não dispensa fofoca diz que 90% envolve traição

Para quebrar o gelo, Raquel pendurou plaquinha sobre fofoca no banco do passageiro

Por Clayton Neves | 19/06/2025 07:24
Motorista que não dispensa fofoca diz que 90% envolve traição

Aos 51 anos, Raquel Stroppa é bem mais que uma motorista de aplicativo em Campo Grande. Se tornou confidente, conselheira informal e, quando o passageiro colabora, a plateia de primeira fila das histórias mais absurdas e engraçadas que acontecem na vida real. Tudo isso graças a uma plaquinha fixada no banco do passageiro.

“Atenção! Ao iniciar uma fofoca, um caso ou um desabafo, favor concluir antes de terminar a corrida. A motorista é curiosa e passa mal se não souber o final da história”, diz o anúncio.

“Coloquei para quebrar o gelo mesmo. Campo-grandense é fechado, entra no carro com cara amarrada. Aí lê a placa e começa a rir. E onde tem risada, tem conversa. Aí vem a história. E, olha, 90% dessas histórias envolvem traição”, garante Raquel, que já coleciona muitos causos.

Segundo ela, a profissão surgiu por acaso, há quase oito anos. Raquel trabalhava com carteira assinada até ser demitida em um corte coletivo. “A Uber tinha acabado de chegar, eu tinha um carro que se enquadrava e  resolvi tentar. Comecei de curiosa e me apaixonei. Sempre amei dirigir e conversar, então juntou o útil ao agradável”, detalha.

Ela até tentou voltar ao regime CLT. “Fiquei nove meses fora, mas não consegui me adaptar mais. Voltei pro aplicativo e estou até hoje. Acordo cedo, trabalho de segunda a sexta-feira umas oito horas por dia, e sigo com amor”, relata.

Motorista que não dispensa fofoca diz que 90% envolve traição

A placa que virou canal de fofocas

A ideia da plaquinha foi construída em parceria com a filha, Carol, que trabalha com marketing digital. “Todo mundo só coloca aviso de proibição, sobre não comer, não fumar. Eu queria algo que gerasse conexão. A Carol me ajudou e ficou a minha cara. Coloquei e virou um sucesso”, diz.

Desde então, passageiros sorriem ao entrar e se sentem encorajados a contar seus maiores segredos, mesmo que durem só até o fim da corrida.

Casos que dariam filme

Um dos episódios da coleção de histórias começou em uma corrida às 6h da manhã. Um casal se despede, ela paga a corrida e até exige um beijo antes da partida. Mas, dentro do carro, o homem faz uma revelação. “Raquel, eu nunca vi essa mulher na minha vida!”

Na confissão, o passageiro disse que havia ido até a casa com amigos, bebeu demais e acordou lá, sozinho com a mulher que se dizia apaixonada. “O pior de tudo é que ele era casado e ainda estava preocupado com o que iria dizer para a esposa quando chegasse em casa fedendo cachaça’”, lembra Raquel.

Outro episódio aconteceu em um domingo, também de manhã. Um homem entrou no carro desesperado, descalço, calça com o zíper aberto, camisa no ombro e tênis debaixo do braço. “Corre, Raquel, o marido da mulher tá chegando”, gritou.

Motorista que não dispensa fofoca diz que 90% envolve traição

Raquel arrancou o carro e no caminho o passageiro explicou que tinha dormido com uma mulher enquanto o marido pescava. “Só que choveu demais no dia e o pescador voltou. O marido só avisou quando já estava na cidade e os dois tiveram que improvisar a fuga”, conta.

E os personagens são de todas as idades. Na véspera do Dia dos Namorados, uma senhora de 65 anos leu a plaquinha e confidenciou estar traindo o marido de 85. “Disse que ele já não funcionava mais e me contou detalhes. Fiquei chocada. Mas é assim, traição domina os relatos”, acrescenta.

Apesar da leveza, Raquel não romantiza a rotina. “A vida do motorista de aplicativo tá bem difícil. A cidade tem muito buraco, as tarifas caíram, o carro exige manutenção. Não dá mais pra viver bem, é para sobreviver. No começo dava pra trocar de carro, hoje você luta pra bater a meta diária”, lamenta.

Mas, apesar disso, ela não perde o bom humor nem a humanidade. “Eu compartilho histórias, ouço desabafos, dou risada, aconselho. E tudo isso dentro de um carro. Às vezes, uma conversa muda o dia de alguém. E isso vale muito mais do que a corrida.”

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