Na calçada, ‘Sr. Miyagi’ alivia estresse e vira amuleto de sorte de advogados

Na Rua José Antônio, uma cena se repete das 6 da manhã até à tarde e chama a atenção de quem passa. Uma cadeira de massagem e uma mesa de quiropraxia na calçada fazem os curiosos se perguntarem quem faria massagem ali no meio de todo mundo. Quem se aventura se entrega a 15 minutos de alívio nas mãos daquele que ficou conhecido como “Sr. Miyagi" ou “Sr. Miyagi das causas ganhas”.

Julio Tsunokawa virou amuleto da sorte de advogados que resolveram pausar a correria para relaxar ali na calçada. Há 1 ano no local, em frente a um supermercado e hortifruti da rua, o profissional já tem clientes fiéis, entre eles inúmeros advogados. O apelido pegou: toda vez que eles estão tensos e com um processo difícil, Julio faz massagem e eles ganham.

Seja com olhar de reprovação ou curiosidade, as pessoas param para ver o que está acontecendo. Em alguns minutos que ficamos no local, a pergunta foi sempre a mesma: “Faz massagem aqui?”

Há 26 anos na área, Júlio não tem medo do que as pessoas possam achar. Ele estaciona a Kombi todos os dias e faz o que sabe fazer de melhor. Antes de entrar na profissão, ele foi garçom em restaurante de comida japonesa.

Hoje, além da calçada, ele trabalha nas feiras do Guanandi, Rita Vieira e Coophavila no mesmo esquema, ao ar livre. A vontade de ter o próprio espaço sempre existiu, mas a vida depois da pandemia complicou; para ele, isso ainda é um gasto alto.

“Aqui você não tem luxo, mas não é questão de valor, é da atividade acessível mesmo. As pessoas têm que poder pagar, dá pra qualquer um vir. Não precisa ter vergonha. Eu faço o que a pessoa precisa. Tem gente que fala que quer relaxar o trapézio, tem gente que quer que trabalhe mais a parte de cima das costas. Eu trabalho isso, a cervical e os braços.”

A sessão de 15 minutos custa R$ 50, mas há clientes que fazem 1 hora ali mesmo. Nesse caso, o valor vai para R$ 200. Uma das reclamações mais frequentes são as dores na cervical ou no pescoço. Julio fala que isso é muito comum devido ao uso do celular, que exige que a pessoa olhe para baixo constantemente.

Para o massoterapeuta, 15 minutos é o suficiente para quem sofre com dores ter qualidade de vida. Mesmo o local sendo improvisado, Júlio não vê problema. Claro que o frio, o calor e a chuva atrapalham, mas parecem problemas pequenos para ele.

“Antes eu fazia massagem nos jogadores dos clubes de Poker, depois em lojas de vestidos, nas debutantes. Já pensei em ter um espaço, mas depois da pandemia é a questão financeira que pega.”

Júlio conta que, além dos clientes que chegam, as clínicas de psicologia ao redor e de exames de imagem nas redondezas indicam os serviços dele.

“Me indicam e a pessoa chega, é na rua. Muitas ficam tímidas, mas fazem. Às vezes a pessoa vem fazer uma compra do outro lado da rua, no mercado, e o marido vem. Nem deixo mais cadeira porque as pessoas querem sentar e conversar; se fizer isso, não trabalho.”

Julio trabalha na Rua José Antônio, em frente ao supermercado Santa Rita. Ele atende de segunda a sexta,  das 6h às 15h e ao sábado, das  6h às 11h.