Fábrica de Pequi da 7 fechou há 44 anos, mas saudade ainda existe
Bebidas feitas com a fruta do cerrado de Jacinto Paniago conquistaram Campo Grande de 1945 a 1981
Você se lembra da fábrica de licor de pequi da Rua Sete de Setembro? Em 1945, Jacinto Vieira Paniago abriu um negócio que cairia no gosto do povo. Com garrafas de vidro e o nome “Licor de Pequi Creme Renascença”, o homem transformou a fruta do Cerrado no que ele chamou de “fino presente regional”. Não demorou muito para que o sabor atraísse compradores de outros lugares e turistas que batiam ponto por lá.
RESUMO
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A Fábrica de Pequi Renascença, fundada por Jacinto Vieira Paniago em 1945, na Rua Sete de Setembro em Campo Grande, foi um marco na história da cidade. O estabelecimento transformou a fruta do Cerrado em um produto refinado, comercializando licores e coquetéis que atraíam turistas e compradores de diversas regiões. Durante seus 36 anos de funcionamento, a fábrica manteve produção artesanal e familiar, empregando poucos funcionários. Apesar do sucesso comercial e da variedade de produtos, como o licor de pequi com vodka e maracujá, a empresa enfrentou dificuldades financeiras devido aos altos impostos, que chegavam a 72%, levando ao seu fechamento em 1981.
O Lado B mergulhou na história para responder o que muitos não entenderam na época: por que o lugar fechou.
Quem conta parte do enredo é um dos cinco filhos de Jacinto, José Ribamar Soares Paniago, de 66 anos. Inclusive, os registros presentes na reportagem são dele. A funcionária Deolinda Pereira Fernandes, de 92 anos, e a afilhada Isabel Christina Barbosa, que também trabalhou na fábrica, contam como era a produção e as lembranças que têm da época.
Para início de conversa a fábrica teve dois endereços: um inicial na 7 de setembro, 799 e depois na mesma rua, no número 777. Estivemos por lá para ver no que se transformou os imóveis e não havia nada além de prédios abandonados à venda. Ribamar conta que a família vendeu de vez os pontos comerciais em 2000. A fábrica funcionou no primeiro endereço até 1970, os últimos 11 anos foram no segundo prédio. Ao todo o negócio durou 36 anos.
"Meu pai comprou um terreno ao lado para a construção de um novo prédio, que seria a ampliação da estrutura das instalações da fábrica. Com isso, ele conseguiu expandir e aumentar a produção, pois com o novo prédio ele pôde melhorar a infraestrutura e os maquinários para aprimorar a qualidade do produto".
Filho de Elias Paniago e Maria Isabel do Carmo, Jacinto nasceu em Rio Pardo e era o penúltimo de seis irmãos. Ribamar explica que o nome da fábrica era 'Licor de Pequi Renascença' e o nome da empresa era 'Fábrica de Bebidas Riabelmo' O nome vem do final do nome da mãe dele.
"Ele era apaixonado pela fábrica de licor. Tinha um espírito inovador por criar uma atividade industrial, artigo de luxo porque naquela época Campo Grande ainda era uma cidade muito pequena. Ele era rigoroso no tratamento, era sério, mas demonstrava carinho. Formou 5 filhos em faculdades: uma arquiteta, dois engenheiros, um economista e uma pedagoga".
Isabel tinha 17 anos quando o padrinho Jacinto deu a chance de um trabalho na fábrica. A função era como secretária. A jovem ficou no local por oito meses, mas foi o suficiente para ter memórias que guarda até hoje. Ela conta que a empresa viveu tempos maravilhosos, mas que foi decaindo aos poucos.
"Ele gostava muito da fábrica; tinha um amor muito grande por ela. Por isso insistia, porque dali também vinha o seu ganha-pão. A fábrica era pequena, tinha poucos funcionários e o trabalho era todo artesanal e manual. Até na hora do envase, os rótulos eram colocados um a um: passava-se cola e, em seguida, fixava o rótulo na frente e atrás".
Ela se lembra de cortar os ramos e colocar dentro da bebida; o tamanho tinha que ser perfeito para caber no recipiente. Também lembra de quando o padrinho ia aos campos buscar pequi e demorava uma manhã inteira.
Receitas com o fruto ganharam o coração dos clientes. Tinha Licor de pequi com vodk, licor com maracujá, drink batizado de pequijá; licor com guaraná, pequianá. O licor foi parar até em bolo. Veja receitas originais de Jacinto.

"Ele ia com os funcionários, tinha uma Kombi. Sempre falava assim: 'agora está cada vez mais difícil, está acabando os pequis' então eles tinham que ir cada vez mais longe para encontrar a fruta".
A fábrica atraiu muita gente e, mesmo nos tempos de procura mais baixa, ainda vendia bem. Apesar disso, Jacinto se sentia triste por não ter enriquecido com ela e se queixava de não ter conseguido comprar sequer um carro particular.
"Eu lembro que ele tinha vários representantes comerciais em Minas Gerais e São Paulo. Eu adorava que lá tinha o piqui-axi, que era a mistura do suco de abacaxi. Ele tinha a receita e ficava uma delícia. Lembro de uma geladeira muito antiga, mas muito boa, que o padrinho não desfazia. Dentro dela tinha uns cálices, uma bandejinha e o coquetel. Eu gostava tanto que tomava muito. Um dia ele me deu uma dura".
Uma das tarefas de Isabel era emitir notas. Nesse momento, Jacinto se queixava do preço do imposto sobre bebidas alcoólicas. De acordo com ela, o valor chegava a 72% na época.
"Ele falava para os clientes: 'essa fábrica não me dá lucro, eu não enriqueci com esse ofício aqui". Porque fora o IPI, tinha o ICMS que cobrava em cima também. Sobrava muito pouco para ele tirar e para ele, ter as despesas e pagar funcionário e tudo. Mas ele falava que dali ele deu estudo para os filhos".
Deolinda veio parar na fábrica através de um conhecido que ofereceu a vaga. Ela ficou por 10 anos na empresa e, quando soube que fechou, ficou desapontada. A saída do emprego só aconteceu porque ela engravidou e, na época, os direitos de uma mulher gestante não existiam. Da fábrica ficaram só as lembranças.
Embora não tenha fotos no local, Deolinda permitiu ser gravada contando um pouco sobre o período que trabalhou na fábrica. Confira acima.
"Jacinto foi um ótimo patrão. Nunca tive nenhum problema, nada a reclamar. Era uma pessoa boa com todos que trabalhavam com ele. Lá era uma família mesmo. Na minha função, quando não estava embalando, ajudava a encher as garrafas. Ele foi uma pessoa boa mesmo, e era um lugar gostoso de trabalhar".
Sempre falo que um patrão faz o funcionário e um bom funcionário conquista um patrão. Eu era muito responsável, eu que ficava com a chave, abria e fechava a loja. A fábrica foi muito importante para Campo Grande
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