José cansou de só arrumar pneu e há 10 anos faz cadeira de borracha
Na profissão há duas décadas, borracheiro viu no artesanato com material velho uma forma de diminuir o cansaço
Sentado na cadeira de pneus que inventou, José Carlos Holanda, de 57 anos, encontrou no artesanato com o material velho uma maneira de diminuir o impacto do trabalho como borracheiro, que já dura 20 anos. Ele divide os dias entre os pequenos consertos e as peças de pneus. Inclusive, já fez de tudo com eles: até carriola para plantas, cama de cachorro e xícara gigante para decoração de jardim.
RESUMO
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José Carlos Holanda, borracheiro de 57 anos, encontrou no artesanato com pneus uma forma de diversificar seu trabalho de duas décadas. Em sua oficina na Avenida Ernesto Geisel, em Campo Grande, ele produz cadeiras, camas para pets e peças decorativas, além de realizar serviços convencionais de borracharia. Após superar problemas com drogas e álcool, José reconstruiu sua vida vindo de Miranda, São Paulo. Hoje, trabalha ao lado da esposa Edilene, que administra uma lanchonete anexa ao estabelecimento. O artesão vende conjuntos de móveis feitos com pneus reciclados, com preços a partir de R$ 60.
Para chegar até a Avenida Ernesto Geisel, foi preciso primeiro saber levantar dos tombos que levou na vida, muitos causados por ele mesmo.
Sozinho para dar conta dos clientes fiéis que chegam e dos novos que aparecem ali, ele conta que nunca encontrou alguém para dividir as tarefas da borracharia. Ao longo dos anos, foram inúmeras tentativas de contratar uma equipe para ajudar no ofício, mas desistiu por achar que ninguém levava a coisa tão a sério quanto ele.
Vindo de Miranda, interior de São Paulo, José já fez de tudo: mexeu com lanchonete, foi mototaxista e segurança, mas depois que aprendeu a mexer com os pneus, a vida foi só isso. Ele conta que teve problemas com álcool e drogas quando mais novo e que isso custou caro.
“Eu aprendi a trabalhar de borracheiro com um irmão mais velho. Nessa época, eu trabalhava em uma companhia de terraplenagem em São Paulo. Viajava de um estado para outro. Já tive borracharia na beira da BR, entre Coxim e Sonora. Mexia com carreta, caminhão e trator. Mas perdi tudo e resolvi vir para Campo Grande. Aluguei e fui construindo minha casa, a dos meus filhos.”
O artesanato entrou na vida dele há 10 anos. A ideia surgiu após ver um vídeo na internet dando outra utilidade para os pneus. No local, ele vende os produtos e faz pequenos trabalhos, como troca de e vulcanização, reparo em partes secas e furadas. O preço das cadeiras é de R$ 60 a unidade, e o combo com cinco delas e uma mesa de centro custa R$ 300. Os outros itens são feitos por encomenda e com preços variados. A entrega é cobrada à parte, R$ 30.
“Essas cadeiras foram uma inspiração que tivemos. Vimos algo, aperfeiçoamos e ficou muito bom. Como eu tenho a matéria-prima, foi fácil. Já fiz caminhas de cachorro e gato, pufe e banco, mas é muito trabalhoso e não tenho mão de obra. Fui ficando só com o mais prático. Faço a cadeira com pneu e tiras de pneu de moto, com parafusos que não enferrujam. O pessoal gosta.”
Sobre a falta de funcionários, José comenta que entende que o trabalho não é para qualquer um e que os jovens estejam mais interessados em gravar vídeos para a internet. Hoje ele agradece por ter condições de rejeitar trabalhos, mas nem sempre foi assim.
“Consertei muita moto na minha vida. O tipo de serviço de borracharia é para jovem. Com a idade, o corpo cobra. Na época em que comecei, não recusava serviço: se tivesse que arrumar pneu de avião, eu ia. Hoje fui conseguindo uma certa estabilidade e consigo escolher. Aqui é trabalho com responsabilidade. Mexemos com carro para apertar roda, calibrar pneu. Se não for fazer certo, prefiro pegar menos trabalho.”
O espaço foi crescendo aos poucos e, este ano, ele colocou uma lanchonete anexa à borracharia. Quem toma conta é a esposa, Edilene Souza de Lima, de 50 anos. O casal está junto há 33 anos. Ali, ela vende água de coco a R$ 9,00 e salgado a R$ 8,00.
“Eu mesma faço frango com catupiry, hambúrguer e enroladinho de presunto e queijo. Antes eu trabalhava como babá em casa; então fui fazer bico em uma panificadora. O coco era do meu cunhado, mas ele foi trabalhar em outro lugar e passou para mim.”
Sobre o passado, José não tem vergonha em admitir que não vivia o melhor da vida, pelo contrário, estava longe disso.
“Em Coxim, fiquei sem nada. Cheguei aqui e fui fazer bico de segurança. Aí, no local, havia uma Bíblia aberta no Parque dos Poderes. Eu nunca tinha lido uma em 37 anos. Aí tomei consciência, me arrependi e recomecei a vida com duas crianças pequenas. Ele me ajudou e eu permaneço até hoje.”
José trabalha na Avenida Presidente Ernesto Geisel, 4745, e funciona das 6h30 às 18h.
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