Pai foi sepultado com farda do Samu após vida dedicada à emergência
Motoristas de ambulância morreu vítima da covid-19 e deixou exemplo de dedicação e amor ao próximo
Quando a pandemia levou Hélio Fernandes Alves, em 2021, aos 53 anos, a despedida foi marcada por um gesto carregado de significado: ele foi sepultado com a farda do Samu, onde construiu sua trajetória profissional. Quatro anos depois, a memória desse momento segue viva nas filhas, que decidiram abrir o coração para relembrar a paixão do pai pela emergência e a dedicação que marcou sua vida.
RESUMO
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Hélio Fernandes Alves, servidor público de Campo Grande (MS), dedicou sua vida ao Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). Em 2021, aos 53 anos, faleceu vítima da Covid-19, sendo sepultado com a farda do Samu, a pedido da família, em homenagem à sua trajetória profissional. Hélio ingressou na prefeitura em meados dos anos 90 e, em 2005, juntou-se à equipe do Samu. Conhecido pela dedicação, raramente faltava ao trabalho, mesmo doente. Aposentou-se por invalidez devido à fibromialgia pouco antes da pandemia. Deixa duas filhas e uma neta, que o recordam com carinho e admiração pelo seu altruísmo e paixão pelo trabalho.
“Ele sempre falava sobre o cuidado que tinha com a ambulância e do quanto gostava do que fazia. Ele cuidava de tudo, se ouvia um barulhinho já queria resolver. Era apaixonado por carro, mas pelo Samu ele tinha um amor ainda maior”, lembra a filha Regihellen Alves, de 33 anos.
Nascido em Jaraguari, Hélio cresceu na chácara da família e trouxe para a vida urbana a rigidez e o senso de responsabilidade aprendidos no campo. Quando se casou, mudou-se para Campo Grande, onde criou as duas filhas.
“Ele era bravo, mas querido por todos. Depois da separação da minha mãe, ele ficou mais aberto, mais parceiro. Virou alguém muito tranquilo, que enxergava a vida de outra forma”, recorda a filha.
Concursado da prefeitura desde meados dos anos 90, começou como motorista em setores diversos até que, em 2005, foi convocado para integrar a equipe do recém-chegado Samu.
“Ele nunca deixava de ir para o plantão, mesmo quando estava doente. Nessas ocasiões eu falava que ele não precisava ir, mas ele dizia que aguentava. Ele queria socorrer todo mundo”, conta Regihellen.
Com o trabalho, vieram também os apelidos. No posto do Coronel Antonino, era chamado de “jabuti” porque não abria mão de usar o macacão completo em vez de só a camiseta de serviço. Já entre os amigos, “gordinho” era como todos o reconheciam de imediato. Carismático, Hélio colecionava amizades e histórias nas madrugadas de socorro.
A aposentadoria por invalidez, em razão da fibromialgia, veio pouco antes da pandemia. O descanso merecido, porém, foi interrompido pela covid-19. Mesmo tendo se isolado, Hélio contraiu o vírus e, em poucos dias, perdeu a luta contra as complicações da doença.
“Ele sempre dizia que, se um dia fosse entubado, não resistiria. Quando chegamos ao hospital, eu já senti que seria assim”, lembra a filha.
O adeus foi silencioso, com caixão lacrado, como exigiam os protocolos da época. Mas, para a família, restava a certeza de que ele não poderia partir sem vestir a farda que simbolizava sua vida.
“A gente entregou o uniforme para que fosse colocado nele, porque era o que fazia ele se sentir orgulhoso. Ele gostava muito do trabalho, sentia orgulho de ser servidor público e as pessoas conheciam ele pelo Samu. O pessoal pegou o uniforme e nos disseram que colocariam”, explica Regihellen.
Além do profissional, Hélio foi pai, avô e amigo. Conheceu apenas a neta mais velha, mas, como diz a filha, deixou lições que seguem vivas. “Admiro nele o fato de sempre estar pronto para ajudar as pessoas. Ele se doava muito, às vezes até esquecendo de cuidar dele mesmo. Esse foi o maior ensinamento que ele nos deixou”, finaliza.
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