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Comportamento

Placa em carrinho de recicláveis guarda história de amor que se foi

“No jardim da minha vida, só de uma flor eu tenho saudade”, escreveu Luis em seu meio de trabalho

Por Aletheya Alves e Clara Farias | 06/01/2025 07:19
Placa em carrinho de recicláveis guarda história de amor que se foi
Luis ao lado de seu carrinho de materiais recicláveis. (Foto: Juliano Almeida)

Sentado debaixo de uma árvore no Jardim Los Angeles, Luis Barros, de 80 anos, descansava antes de seguir caminho até os compradores de recicláveis. Ali, escutou mais uma vez a pergunta que sempre sorri ao responder: “o que é essa plaquinha ali no seu carrinho”?

Preocupado em ter tempo de seguir até o endereço para conseguir vender os materiais de plástico e lata, perguntou o horário umas tantas vezes, mas decidiu contar um pedacinho da história.

No jardim da minha vida, só de uma flor eu tenho saudade”, é dito na plaquinha.

A flor que tanto faz falta é Maria Castorina, o grande amor de sua vida, como ele mesmo diz. Viúvo desde 1992, Luis viu sua companheira partir “assim, do nada, igual a gente tá aqui”.

Placa em carrinho de recicláveis guarda história de amor que se foi
Catador de recicláveis trabalha todos os dias por necessidade, apesar da idade. (Foto: Juliano Almeida)
Placa em carrinho de recicláveis guarda história de amor que se foi
Recado escrito por ele costuma chamar atenção nas ruas. (Foto: Juliano Almeida)

Ele conta que a esposa amanheceu, fez café e, nesse pequeno espaço de tempo, teve um derrame cerebral. Ali, o viúvo decidiu que não dividiria a vida com mais ninguém.

Na época, eram três filhos pequenos para criar e, com medo de encontrar alguém que os maltratasse, teve a decisão reforçada. “Eu tô sozinho, nunca mais arrumei alguém. Não queria arrumar uma mulher para bater neles, eram crianças e criei eles sozinhos”.

Hoje, um dos orgulhos do pai é ser cuidado por dois dos filhos, enquanto um deles “se perdeu para as drogas”, diz. E, para conseguir ver os meninos se tornarem adultos, começou a história do carrinho de recicláveis.

Ao todo, foram 18 anos ao lado de dona Maria. Quando ela partiu, Luis começou a coletar os recicláveis e, desde então, se passaram mais de 30 anos.

E ter a plaquinha ali no carrinho não é questão de esforço para se lembrar da esposa, diz o catador. Não é necessário empenho porque a dor da perda não desaparece, assim como as memórias.

O que difere é que, com o passar do tempo, a morte começa a ser mais compreendida, ao menos para ele. E aceitar a passagem da esposa, com as lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto conta para a equipe, depois de certa idade também começou a significar aceitar sua própria ida, “quando Deus quiser”, completou o homem, antes de tomar seu rumo para vender os recicláveis.

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