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Comportamento

Setenta anos depois, a família de Maria Baiana volta a se abraçar

Foram 16 reuniões online até o grande dia para o reencontro familiar entre 71 familiares

Por Thailla Torres | 03/11/2025 06:05
Setenta anos depois, a família de Maria Baiana volta a se abraçar
Foto antiga da família de Maria Baiana (Foto: Arquivo Pessoal)

Há histórias que parecem dormir nas páginas do tempo, até que um gesto simples desperta a memória e devolve rostos, vozes e afetos há muito guardados. Foi o que aconteceu quando, depois de quase meio século, os descendentes de Miguel Dias dos Santos e Maria Ferreira de Souza, a eterna Maria Baiana, voltaram a se reunir. O reencontro aconteceu em Pirapora (MG), cidade onde vivem os dois últimos filhos vivos do casal, Antônio e Adalécio, testemunhas vivas de uma história que começou ainda nos anos 1910, no sertão da Bahia, e que se espalhou por todo o Brasil.

RESUMO

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Após 70 anos, descendentes de Miguel Dias dos Santos e Maria Ferreira de Souza, conhecida como Maria Baiana, realizaram um reencontro histórico em Pirapora (MG). O evento reuniu 71 familiares vindos de diferentes estados, incluindo os dois últimos filhos vivos do casal, Antônio e Adalécio.A história da família começou nos anos 1910, no sertão da Bahia, quando Miguel e Maria se casaram e tiveram sete filhos. Após a morte de Miguel em 1946, a família se dispersou pelo Brasil. O reencontro, organizado por meio de tecnologia moderna, marcou a reconexão de gerações e o resgate de memórias familiares.

“Foi como costurar os pedaços de uma colcha antiga”, resume José Carlos Ribeiro, neto de Maria Baiana e um dos organizadores do encontro que hoje mora em Campo Grande. “Muitos de nós nunca tínhamos nos visto. Mas bastou um abraço para sentir que o sangue e as lembranças nos reconhecem.”

Setenta anos depois, a família de Maria Baiana volta a se abraçar
Encontro que uniu todas as gerações da família de Maria Baiana (Foto: Arquivo Pessoal)

A trajetória da família começa com Miguel e Maria, que se casaram por volta de 1919. Tiveram sete filhos: João Miguel, Claudina, Bartolomeu, Militão, Antônio, Francisca e Adalécio. A busca por novas oportunidades levou o primogênito João ao Mato Grosso ainda jovem, e logo o pai seguiu o mesmo caminho, em tempos de garimpo e esperança.

Mas a viagem teve um fim trágico: Miguel contraiu tuberculose durante o trajeto de volta à Bahia, falecendo em 1946, quando o filho Bartolomeu completava 15 anos. Sem o pai, a família se espalhou. João e Bartolomeu fixaram-se no Mato Grosso, enquanto os demais irmãos seguiram Militão, que se tratou da mesma doença em Belo Horizonte e decidiu permanecer em Minas Gerais, levando consigo os irmãos e a mãe.

A matriarca, porém, ficou em Goiás, conhecida como Maria Baiana, mulher de fibra que criava os filhos entre Rio Verde e Ouruana, e que, apesar da distância, nunca deixou de sentir saudades dos que partiram.

Setenta anos depois, a família de Maria Baiana volta a se abraçar
Antonio, Ana Lúcia e Adalécio, filhos e nora de Maria Baiana no encontro. (Foto: Arquivo Pessoal)

Trinta anos depois da morte do pai, o filho caçula, Adalécio, atendeu a um desejo antigo da mãe: reencontrar os irmãos perdidos em Mato Grosso. Com ela, fez uma longa viagem, sem endereço certo, apenas com os nomes de cidades, Nortelândia, Nobres e Diamantino. Encontraram João e Bartolomeu, e o reencontro uniu novamente os dois ramos da família.

A partir dali, Minas e Mato Grosso nunca mais se perderam. A história, contada nas cartas e nas memórias, passou a ser o ponto de partida para novos laços.

Décadas depois, a tecnologia substituiu o papel e a caneta. Em junho de 2024, José Carlos, que mora em Campo Grande, juntou-se aos primos Marilúcio (Belo Horizonte) e Marco (Pirapora) para transformar um antigo desejo em realidade: reunir todos novamente. Criaram o grupo de WhatsApp “Reunião Família Dias”, com representantes de cada núcleo familiar, e começaram a organizar o que seria o 1º Encontro dos Descendentes de Miguel e Maria Baiana.

Setenta anos depois, a família de Maria Baiana volta a se abraçar
Francisca e o irmão Adalécio na juventude (Foto: Arquivo Pessoal)

Foram 16 reuniões online e duas presenciais até o grande dia. Vídeos gravados pelos filhos e uma nora de Maria Baiana os últimos remanescentes da primeira geração serviram de convite e comoção. “Quando os vídeos circularam, não teve quem não quisesse participar”, conta José Carlos.

O encontro reuniu 71 familiares, vindos de sete cidades de Minas Gerais, quatro de Mato Grosso, duas de Mato Grosso do Sul, uma de Sergipe e até do Distrito Federal. Gerações inteiras se viram pela primeira vez. Houve homenagens, músicas, brincadeiras e lágrimas.

“Ver o tio Adalécio, com sua saúde frágil, firme do início ao fim do evento, foi um dos momentos mais emocionantes”, relembra José Carlos. Outro episódio marcante foi o encontro entre os primos Marco e Toninho, que se conheciam apenas por videochamadas e se abraçaram como velhos irmãos.

Entre as histórias de superação, a de Jeane, que acabou de vencer um câncer agressivo e percorreu 1.800 km de carro com a família para participar. “Ela chegou sorrindo, com uma força que contagiou a todos”, diz José.

O reencontro para os mais velhos significou o cumprimento de um ciclo e a prova de que o esforço de Maria Baiana e Miguel para manter os filhos unidos resistiu ao tempo. Para os mais jovens, foi a chance de conhecer suas raízes.

“Os mais novos entenderam que família não é só sangue. É história, é memória, é o desejo de continuar juntos”, diz José Carlos.

Com o sucesso do evento, já ficou decidido: o próximo encontro será em janeiro de 2027, em Belo Horizonte. “Agora é tradição”, afirma José. “Nossa missão é registrar, contar e celebrar para que os bisnetos e tataranetos saibam de onde vieram. Assim, o amor de Maria Baiana continua viajando pelo tempo”, finaliza.

Setenta anos depois, a família de Maria Baiana volta a se abraçar
Essa era a Maria Baiana (Foto: Arquivo Pessoal)

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