Envelhecimento saudável é construção diária e começa antes dos 60 anos

A expectativa de vida tem aumentado, mas a longevidade nem sempre vem acompanhada de qualidade. Para a geriatra Ana Carolina Sawaris, envelhecer com saúde e autonomia é resultado de um processo que começa antes dos 60 anos e depende de escolhas cotidianas. “Envelhecer bem não é uma questão de sorte, e sim de estratégia. Envolve alimentação de verdade, sono de qualidade, movimento regular, bons vínculos e propósito de vida”, afirma.

Ela explica que o envelhecimento traz alterações naturais, como perda de massa muscular e mudanças na percepção de paladar. No entanto, a perda de autonomia, de memória e a dificuldade para realizar atividades simples não devem ser consideradas normais. “Essas condições fazem parte de um processo que pode ser evitado ou minimizado com acompanhamento adequado e mudanças de estilo de vida”, explicou.

A geriatria, segundo a especialista, não se limita ao tratamento de doenças. “É uma especialidade que busca compreender a história de vida da pessoa, seus hábitos, objetivos e prioridades. A partir disso, é possível construir um plano de cuidado que respeite a individualidade do paciente”, destacou.

A médica afirma que parte do trabalho do geriatra é desmistificar a ideia de que envelhecer significa adoecer. “Existe uma crença de que todas as perdas na velhice são inevitáveis. Mas muitas condições podem ser prevenidas ou controladas. O objetivo é manter o paciente funcional, autônomo e com qualidade de vida”, pontuou.

Conforme a especialista, o processo de envelhecimento é influenciado pelas escolhas feitas ao longo da vida. “Alimentação equilibrada, sono adequado, prática regular de atividade física, manutenção de vínculos sociais e estímulos cognitivos são ações simples que fazem diferença. Também é importante fazer acompanhamento médico regular, com foco na prevenção", disse.

Para Ana Carolina, o futuro do cuidado com idosos tende a ser mais centrado na escuta e no respeito à trajetória de vida de cada pessoa. “O cuidado deve considerar os valores e desejos do paciente. Aos 80 anos, não se trata de redefinir a vida de alguém, mas de entender suas prioridades para oferecer um cuidado mais adequado”, afirmou.

A profissional defende que o idoso deve ser parte ativa do próprio processo de cuidado. “O envelhecimento não precisa ser marcado por sofrimento. Mesmo em casos em que não há possibilidade de cura, é possível aliviar sintomas, garantir conforto e promover bem-estar”, disse.

Indagada sobre a diferença na forma como homens e mulheres devem se preparar para um envelhecimento saudável, a médica explicou que o processo de envelhecimento apresenta particularidades entre homens e mulheres, especialmente por fatores hormonais. As mulheres iniciam por volta dos 40 anos o período do climatério e, em seguida, da menopausa, o que influencia diretamente na perda de massa óssea e pode provocar sintomas cognitivos, como dificuldade para lembrar palavras.

“No homem, o processo tende a ser mais estável e linear, especialmente em relação à perda de massa muscular”, afirma a médica. Apesar das diferenças, ela reforça que é possível adotar estratégias eficazes para minimizar os impactos desse processo. “A terapia de reposição hormonal pode ser uma alternativa para algumas mulheres, mas o tratamento vai além do uso de medicamentos”.

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