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Lado Rural

Aquecimento da água turbina veneno dos microplásticos em peixes, mostra pesquisa

Quando combinado com cobre, plástico vira “coquetel tóxico” que ameaça rios, piscicultura e cadeia alimentar

Por José Cruz | 21/11/2025 08:54
Aquecimento da água turbina veneno dos microplásticos em peixes, mostra pesquisa
Os ecossistemas aquáticos enfrentam pressões crescentes devido à poluição e à degradação ambiental. Foto: Freepik

O aumento da temperatura da água — consequência direta das mudanças climáticas — pode transformar microplásticos em um veneno ainda mais forte para peixes. A constatação vem de pesquisas feitas por cientistas da Embrapa e do Laboratório Nacional de Nanotecnologia (LNNano/CNPEM), com apoio da Fapesp. O estudo aponta que, quando essas partículas se encontram com metais pesados, como o cobre, o perigo se multiplica.

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O aquecimento da água pode potencializar os efeitos tóxicos dos microplásticos em peixes, segundo pesquisa realizada pela Embrapa e pelo Laboratório Nacional de Nanotecnologia. O estudo revela que a combinação entre partículas plásticas e metais pesados, como o cobre, torna-se ainda mais prejudicial em temperaturas elevadas.Os cientistas utilizaram zebrafish e tilápia como modelos para avaliar os impactos. Os resultados preliminares indicam que o calor intensifica a toxicidade do plástico e do metal, podendo comprometer o desenvolvimento dos peixes e afetar toda a cadeia alimentar aquática, incluindo a piscicultura comercial.

Esses fragmentos minúsculos de plástico chegam aos rios, lagos e mares com o descarte de lixo e pelo desgaste de tecidos sintéticos. No ambiente, eles sofrem ação do sol, reagem com poluentes e, segundo os cientistas, podem ficar ainda mais agressivos se a água estiver mais quente.

“No meio aquático, essas partículas não estão sozinhas. Elas passam por mudanças e interagem com poluentes. Isso pode gerar efeitos mais severos para a fauna”, explica Vera Castro, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente.

Peixe modelo, água quente e plástico envelhecido

Para medir o impacto dessa mistura, os pesquisadores trabalham com duas espécies que representam tanto o ambiente natural quanto o setor de piscicultura: o zebrafish (Danio rerio) e a tilápia (Oreochromis niloticus). Eles são expostos a microplásticos envelhecidos pela radiação ultravioleta e contaminados com cobre, metal comum em efluentes industriais e agrícolas.

Os peixes ficam em águas com temperaturas médias e também três graus mais altas, numa simulação do cenário de aquecimento global. Além de verificar se os animais sobrevivem, os cientistas analisam sangue, metabolismo e reações bioquímicas capazes de mostrar danos antes da morte.

A conclusão parcial assusta: o calor intensifica a toxicidade do plástico e do metal. O resultado pode atingir tecidos, comprometer o desenvolvimento e afetar a cadeia alimentar aquática — incluindo a piscicultura, que abastece mercados e a segurança alimentar no país.

Controle rígido: cobre oscila, experimento trava

No laboratório, manter a concentração de cobre estável é um desafio. Para evitar que resíduos se acumulem, a água precisa ser trocada com frequência, o que altera a quantidade de metal e pode comprometer o experimento.

“É preciso calcular tudo de novo a cada troca e ainda analisar a água para garantir que a concentração continua correta”, diz o pesquisador Alfredo Luiz, da Embrapa. No caso do zebrafish, as larvas são tão pequenas que ficam em microplacas com vários poços, enquanto as tilápias juvenis são usadas para permitir coleta de sangue.

O que acontece dentro do corpo do peixe

De acordo com o pesquisador Claudio Jonsson, da Embrapa Meio Ambiente, água mais quente aumenta a probabilidade de o organismo absorver o poluente. A soma do estresse químico com o climático gera radicais livres — moléculas instáveis que podem destruir células e até o DNA.

O organismo tenta se defender ativando enzimas antioxidantes, espécie de “escudo interno”. Monitorar essa reação ajuda a determinar concentrações seguras de poluentes e prever impactos antes que rios e tanques de criação entrem em colapso.

Como o corpo reage à mistura tóxica

  • Radicais livres: moléculas produzidas em excesso quando há poluição e calor; podem danificar células e DNA.

  • Estresse oxidativo: desequilíbrio entre radicais livres e defesas do organismo; compromete o metabolismo e reduz a sobrevivência.

  • Enzimas antioxidantes: defesa natural contra os danos; quando ativadas, revelam que o organismo está sob ataque, mesmo sem sinais visíveis.