ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
NOVEMBRO, QUARTA  05    CAMPO GRANDE 32º

Meio Ambiente

Em um ano, Pantanal foi bioma que mais esquentou no País: 1,8ºC acima da média

A região superou a Amazônia, segundo dados divulgados hoje nesta quarta-feira

Por Cassia Modena | 05/11/2025 08:08
Em um ano, Pantanal  foi bioma que mais esquentou no País: 1,8ºC acima da média
Trecho do Rio Paraguai seco em 2024, um dos efeitos relacionados às temperaturas extremas (Foto: Divulgação/Jornal Diário Corumbaense)

Em 2024, as temperaturas no Pantanal ficaram 1,8ºC acima da média registrada nos últimos 40 anos. É o maior aquecimento entre os biomas brasileiros. O dado é apresentado na plataforma MapBiomas Atmosfera, lançada nesta quarta-feira (5).

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

O Pantanal registrou temperaturas 1,8ºC acima da média dos últimos 40 anos em 2024, segundo dados da plataforma MapBiomas Atmosfera. O valor supera a meta do Acordo de Paris, de 1,5ºC em relação ao período pré-industrial. A Amazônia atingiu exatamente este limite. Como consequência, o Pantanal enfrentou incêndios que destruíram 17% de sua área e uma crise hídrica sem precedentes. O Rio Paraguai registrou seu menor nível histórico, enquanto rios amazônicos também secaram drasticamente, afetando comunidades ribeirinhas e a biodiversidade local. Especialistas atribuem as temperaturas extremas ao aquecimento global intensificado pelo El Niño.

O valor também é superior à meta estipulada no Acordo de Paris: 1,5ºC em relação ao período pré-industrial. No estudo do MapBiomas, a Amazônia aparece no limite dessa comparação, com 1,5ºC de aumento.

Professora do laboratório de Física Atmosférica da USP (Universidade de São Paulo) e integrante da plataforma, Luciana Rizzo afirmou à Folha de S. Paulo que os dados validam as secas sem precedentes que ambos os biomas enfrentaram no ano passado.

Em um ano, Pantanal  foi bioma que mais esquentou no País: 1,8ºC acima da média
Diferença entre as temperaturas médias é a maior entre os biomas (Arte: Lennon Almeida)

Como resultado, o Pantanal enfrentou incêndios que consumiram 17% de sua área em 2024, segundo dados divulgados pelo Lasa (Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais), da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), além de uma crise hídrica histórica.

Vital para o bioma, o Rio Paraguai registrou o menor índice já medido oficialmente, e a bacia à qual ele pertence registrou índices de chuva semelhantes aos do semiárido. Rios da Amazônia também secaram como nunca, afetando a subsistência de comunidades ribeirinhas, atividades econômicas e a biodiversidade.

O aquecimento global intensificado pelo fenômeno El Niño explica as temperaturas extremas de 2024, segundo Luciana Rizzo. "Isso é uma pequena amostra de eventos que vão ser, infelizmente, cada vez mais frequentes", completa a professora.

Sobre a comparação com a meta do Acordo de Paris, ela esclarece que isso não significa que os biomas atingiram o limite previsto, pois não são considerados o prazo estabelecido até o final do século e a frequência dos eventos, já que somente um ano acima da média não é o suficiente para a análise. "Não quer dizer que o Acordo de Paris foi necessariamente violado. Mas dá uma amostra de como o planeta pode ser se o acordo for rompido", concluiu.

Mata Atlântica (1,2°C), Cerrado (1°C), Caatinga (0,7°C) e Pampa (0,6°C) também registraram aumentos em relação à média.

Em um ano, Pantanal  foi bioma que mais esquentou no País: 1,8ºC acima da média
Incêndio de grandes proporções na região da Serra do Amolar, Pantanal de Corumbá/MS (Foto: André Zumak/Instituto Homem Pantaneiro)

2º estado mais quente - Dados relacionados ao País e aos estados, ainda não disponíveis na plataforma, mostram que Mato Grosso do Sul e Amazônia tiveram o segundo maior desvio nas temperaturas médias em 2024.

Roraima, onde o bioma amazônico é encontrado, registrou a maior variação, com 2°C a mais que a média. Amazonas e Mato Grosso do Sul tiveram a segunda maior, com 1,7°C. São Paulo e Paraná tiveram a terceira maior, com 1,5°C.

Mato Grosso do Sul lidera quando se considera o desvio nos 40 anos analisados, com 0,4°C acima da média. Atrás estão Mato Grosso (0,36°C) e Piauí (0,34°C).

Número positivo e adaptação -  Este ano já tem dados positivos ao menos em relação às queimadas. As registradas no Cerrado e no Pantanal de Mato Grosso do Sul tiveram redução de mais de 70% em comparação a 2024, conforme levantamento divulgado pelo Cemtec (Centro de Monitoramento do Tempo e do Clima).

O estudo considera o período de 1º de janeiro a 2 de novembro e utiliza dados do Lasa e do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

O Pantanal foi o bioma com maior queda nos registros tanto em área queimada quanto em focos de calor. Em 2024, o bioma teve 1.767.542 hectares queimados e 8.122 focos de calor. Em 2025, os números despencaram para 89.138 hectares e 359 focos, representando redução de 95% e 95,6%, respectivamente.

Presidente do IHP (Instituto Homem Pantaneiro), que administra uma RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) localizada no coração da Serra do Amolar, no Pantanal de Mato Grosso do Sul, Ângelo Rabelo observa que o cenário climático começou a melhorar no final de 2024, contribuindo para a redução das queimadas. Porém, as condições atuais continuam criando dificuldades para o enfrentamento das que surgem.

"Começou a chover em dezembro e só foi parar em abril, o que encheu as baías e canais do Pantanal. À medida que é maior a ocupação de água, menor é a do fogo. Mas essa equação começa a não fechar em períodos de altas temperaturas. A evapotranspiração faz as áreas secarem muito rápido, contribuindo para o fogo ressurgir em locais onde já havia sido extinto", detalha.

As brigadas do IHP, PrevFogo (Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais) do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e do Corpo de Bombeiros Militar tiveram que se adaptar. Foram instalados novos pontos de combate, formados novos brigadistas, inclusive em aldeias indígenas, e inseridas novas estruturas e tecnologias para deter o fogo. Rabelo reconhece a evolução. "Nossa curva de aprendizado foi bastante significativa nos últimos anos", pontua.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.