Reforma tributária: o desafio de transformar incentivo fiscal em eficiência
Durante anos de guerra fiscal, muitas empresas decidiram onde produzir com base em uma lógica simples: onde o imposto é menor. O ICMS virou moeda de troca. Estados disputavam com crédito presumido, isenção parcial e redução de base de cálculo. Muitas operações foram parar longe do consumo, mas perto do benefício fiscal — e a conta fechava. O incentivo compensava o custo logístico, apesar de trazer um desafio de prazo maior negociando o nível de serviços com os clientes.
Mas isso vai mudar.
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Com a reforma tributária aprovada, a lógica muda radicalmente. Os novos tributos (IBS e CBS) serão cobrados no destino — onde está o cliente, não mais onde está a fábrica. O ICMS, regimes especiais, ICMS-ST e incentivos estaduais vão desaparecer. Isso torna obsoleto o modelo baseado em benefício fiscal interestadual.
As empresas hoje instaladas em regiões incentivadas, mas que vendem majoritariamente para o Sudeste, precisam reavaliar suas estruturas. O que antes era vantagem pode virar custo logístico. O concorrente instalado no Sudeste, mesmo pagando mais imposto hoje, pode ser mais competitivo amanhã.
Outro ponto crítico que não está passando desapercebido é que o crédito de IBS/CBS será apropriado somente após o pagamento da nota fiscal. Se sua empresa compra a prazo, o crédito do imposto será da mesma forma: parcelou em três vezes? Crédito em três vezes. Isso pressionará o caixa e trará mudanças na dinâmica do capital de giro.
A reforma tira o protagonismo da área fiscal e coloca a estratégia no centro das decisões. A pergunta agora não é mais “onde pago menos imposto?”, mas sim “como chego melhor no meu cliente?”. Esse novo cenário impacta logística, finanças, precificação, margem e competitividade.
É hora de simular qual a nova estrutura de necessidade de capital de giro. Além disso, extremamente importante reavaliar quais margens sua empresa está obtendo por região geográfica, entender se a fábrica ou o centro de distribuição ainda fazem sentido onde estão.
Fato é que todos enfrentarão as novas regras. Mas nem todos vão largar do mesmo ponto.
O que fazer já: revisar sua malha logística, simular impacto no caixa, testar cenários com e sem crédito imediato.
O que deve ser feito já: reavaliar a localização industrial, renegociação de prazos com fornecedores e clientes.
O que já passou da hora: parar de tratar incentivo como margem. A reforma precisa sair “do fiscal” e entrar no plano estratégico das empresas.
Pois o que antes era economicamente viável, pode virar prejuízo.
(*) Darcio Zarpellon, executivo financeiro, através do Estadão
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