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O mês mais importante do ano

Por Ana Cristina Rosa (*) | 03/11/2025 08:30

Novembro é o período mais importante do ano no Brasil, país onde a maioria da população —que se autodeclara preta ou parda (56%, segundo o IBGE)— é cotidianamente excluída, criminalizada e morta pelo simples fato de ser negra. O mês da Consciência Negra é tempo de reflexão e debate sobre o efeito devastador do racismo institucionalizado no cotidiano nacional.

Contudo, apesar da escandalosa diferença de tratamento dedicado às pessoas em razão da aparência física (fenótipo), na prática, esta costuma ser uma época de reverberação da tese de que somos uma raça única —a raça humana, como disse o "sábio" (contém ironia) ator negro Morgan Freeman, num ato de desserviço planetário à promoção da equidade étnico-racial.

Afinal, se do ponto de vista genético não há distinção racial entre humanos, é inegável que do ponto de vista social a raça é um conceito não só existente, mas também determinante da qualidade e, sobretudo, das perspectivas de vida e morte. Não por acaso, "a cada 23 minutos, um jovem negro morre no Brasil", como destacou a ONU em campanha sobre a desigualdade racial nos indicadores nacionais de violência.

Dias atrás, dezenas de cadáveres de homens negros foram enfileirados em praça pública no Rio de Janeiro numa ilustração aterrorizante do racismo institucional e da falência do Estado Nação. Muito revelador que os nomes de uma centena dos assassinados pela polícia nos complexos da Penha e do Alemão não constem na denúncia que originou a megaoperação policial.

É imperioso deixar de lado as abstrações e admitir o extermínio da população negra brasileira.

Combater o crime organizado é fundamental, mas os alvos deveriam ser travados nas estruturas de lavagem de dinheiro que estão entranhadas na política, na economia e até nas instituições públicas. Existe estado paralelo porque o Estado Nação falhou na promoção de direitos básicos e essenciais como educação, saúde e segurança pública.

(*) Ana Cristina Rosa, jornalista especializada em comunicação pública e vice-presidente de gestão e parcerias da Associação Brasileira de Comunicação Pública (ABCPública), através da Folha de S.Paulo

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.