ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram Campo Grande News no TikTok Campo Grande News no Youtube
NOVEMBRO, QUARTA  05    CAMPO GRANDE 22º

Meio Ambiente

Expansão agrícola ainda é a principal causa da perda de vegetação em MS

Anuário climático aponta avanço da agropecuária e destaca práticas que reduzem emissões

Por Inara Silva | 05/11/2025 14:23
Expansão agrícola ainda é a principal causa da perda de vegetação em MS
Área desmatada em Aral Moreira, interior do Estado. (Foto: Arquivo/MPMS)

A expansão agrícola continua sendo o principal vetor de mudança no uso da terra em Mato Grosso do Sul, com efeitos diretos sobre as emissões de gases de efeito estufa e a perda de cobertura vegetal. É o que revela o Anuário Estadual de Mudanças Climáticas 2025, elaborado pelo CBC (Centro Brasil no Clima) e pelo ICS (Instituto Clima e Sociedade). O documento indica, no entanto, que novas práticas produtivas estão abrindo caminho para uma transição mais sustentável no campo.

RESUMO

Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!

A expansão agrícola continua sendo o principal fator de mudança no uso da terra em Mato Grosso do Sul, segundo o Anuário Estadual de Mudanças Climáticas 2025. A vegetação nativa, que cobria 51% do território em 1985, foi reduzida para 39% em 2023, enquanto as pastagens cresceram de 29% para 51%. Apesar dos desafios ambientais, como o aumento do desmatamento e das queimadas, o estado conseguiu reduzir em 6% suas emissões líquidas de gases de efeito estufa entre 2000 e 2023. Isso foi possível graças à modernização da pecuária, recuperação de pastagens degradadas e adoção de sistemas produtivos mais eficientes.

Com base em dados do MapBiomas (2024) e do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa, o estudo mostra que a paisagem rural do Estado mudou nas últimas décadas. Em 1985, a vegetação nativa cobria 51% do território, mas em 2023 esse percentual caiu para 39%. No mesmo período, as pastagens cresceram de 29% para 51%, e as áreas agrícolas passaram a ocupar 10% do território.

O avanço foi impulsionado principalmente pela produção de soja, milho e pecuária bovina, consolidando o Estado entre aqueles que mais modificaram o uso original do solo.

Expansão agrícola ainda é a principal causa da perda de vegetação em MS

Desafios - O levantamento alerta para os riscos ambientais, pois a degradação de pastagens e as queimadas ainda preocupam. Após um período de estabilização entre 2017 e 2021, o desmatamento voltou a crescer, com aumento de 77,3% na área desmatada entre 2022 e 2023. Já as queimadas avançaram sobre 447 mil hectares, um salto de 104%. Como consequência, as emissões líquidas do setor de uso da terra e florestas subiram 80%.

Grande parte da devastação ocorreu no Cerrado, que cobre 60% do Estado, mas também atingiu áreas do Pantanal e da Mata Atlântica, ainda sob pressão da expansão da fronteira agrícola.

Mesmo assim, o anuário ressalta os avanços tecnológicos e produtivos que têm permitido reduzir impactos ambientais. Programas como o Plano ABC+ 2020-2030 e o MS Carbono Neutro fortalecem práticas de baixo carbono e contribuem para equilibrar produtividade e conservação. O desafio, segundo o relatório, é manter o ritmo de regeneração ambiental diante da expansão da agricultura, que segue mais acelerada.

Expansão agrícola ainda é a principal causa da perda de vegetação em MS
Fonte: Reprodução do Anuário Estadual de Mudanças Climáticas 2025

Efeito estufa - Apesar dos desafios, o anuário mostra que Mato Grosso do Sul conseguiu reduzir suas emissões líquidas de gases de efeito estufa, o saldo entre o que emite e o que é capaz de absorver. Essa redução, conforme o estudo, decorre da modernização da pecuária, da recuperação de pastagens degradadas e da adoção de sistemas produtivos mais eficientes e integrados.

Entre as ações destacadas está o Programa Precoce MS, que promove o abate antecipado e o melhor manejo nutricional e genético do rebanho. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) confirmam que, entre 2020 e 2024, o rebanho bovino do Estado caiu de 19,02 milhões para 18,74 milhões de cabeças, sem redução na produção de carne, reflexo direto da eficiência produtiva.

O relatório ressalta que o Estado integra o Consórcio Brasil Verde e participa ativamente do Plano ABC+, que oferece financiamento e assistência técnica a práticas sustentáveis, como o plantio direto, a fixação biológica de nitrogênio e o reflorestamento. Essas iniciativas, somadas ao manejo sustentável da terra, levaram a uma redução de 6% nas emissões líquidas entre 2000 e 2023, fazendo de Mato Grosso do Sul o único estado do Centro-Oeste a alcançar a descarbonização do setor agropecuário nesse período.

Produção integrada - O levantamento mostra ainda que Mato Grosso do Sul lidera nacionalmente na adoção de sistemas integrados de produção, como a ILP (Integração Lavoura-Pecuária) e a ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta). Em 2020, cerca de 30% das pastagens estavam degradadas, mas o apoio de programas como o Plano ABC+ e de políticas de incentivo à agricultura de baixo carbono estimulou a recuperação dos solos e a melhoria da produtividade, sem necessidade de abrir novas áreas.

Esses modelos combinam lavoura, pecuária e florestas em um mesmo espaço, o que melhora a fertilidade do solo, aumenta a captura de carbono e reduz a pressão pelo desmatamento. Atualmente, 1,5 milhão de hectares de florestas plantadas faz parte dessa estratégia de mitigação das emissões e recuperação de solos, conforme dados da Embrapa citados no anuário.

Expansão agrícola ainda é a principal causa da perda de vegetação em MS
Gado em sistemas integrado de produção. (Foto: Anuário Estadual de Mudanças Climáticas 2025)

Análise - Doutor em Irrigação e Drenagem, o professor Ricardo Gava, da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), explica que o Estado tem sido exemplo nacional e internacional em manejo sustentável.

Ele ressalta que muitos criticam o cultivo de grãos como a soja, mas esquecem que ela é o principal insumo para a produção de ração usada na criação de peixes, frangos e bovinos, bem como na produção de leite e ovos, o que mantém os mercados abastecidos e os preços mais acessíveis.

Gava destaca que, conforme o Código Florestal Brasileiro (Lei nº 12.651/2012), a exigência de preservação no Cerrado é de 20% do território, enquanto Mato Grosso do Sul mantém 39% de cobertura nativa, o dobro do mínimo legal.

Segundo o professor, manejos agrícolas e pecuários sustentáveis têm conseguido estocar mais carbono do que emitem, com eficiência superior até mesmo à do Cerrado nativo. Ele afirma que esses resultados são comprovados por estudos científicos e refletem o investimento do Estado em ciência, tecnologia e pesquisa aplicada.

Um exemplo de estudo é o coordenado pelo engenheiro agrônomo e professor doutor da UFMS, Paulo Eduardo Teodoro, que pesquisou e mapeou o fluxo de carbono nos três biomas do Estado (Pantanal, Mata Atlântica e Cerrado), considerando quatro tipos de uso e ocupação do solo: vegetação nativa, pastagem, soja e eucalipto.

O objetivo foi identificar quais dessas áreas funcionam como fontes ou sumidouros de carbono e, a partir dos dados coletados, desenvolver um modelo matemático capaz de ser aplicado por meio de satélites.

O estudo, inédito no país, revelou que solos com eucalipto emitem menos dióxido de carbono (CO₂) do que os demais tipos de uso avaliados. Segundo Teodoro, esse trabalho envolve equipamentos modernos e equipes qualificadas, fruto de políticas públicas voltadas à inovação.

Gava defende que fundos internacionais de preservação ambiental deveriam reconhecer o esforço de Mato Grosso do Sul e direcionar mais recursos para apoiar iniciativas que unem produtividade e conservação.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.