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Meio Ambiente

Linhas com cerol ferem araras e ameaçam ave que é um dos símbolos da Capital

Nesta sexta-feira (15), arara Canindé perdeu o movimento das asas apenas 5 meses depois de aprender a voar

Adriano Fernandes | 16/05/2020 08:15
Bióloga Larissa Tinoco e Fernanda Fontoura, biólogas do Instituto Arara Azul, retirando linha com cerol da arara Canindé. (Foto:Luiz Carlos Lunes).
Bióloga Larissa Tinoco e Fernanda Fontoura, biólogas do Instituto Arara Azul, retirando linha com cerol da arara Canindé. (Foto:Luiz Carlos Lunes).

A quantidade de araras Canindé que ficam presas em linhas de pipa com cerol tem aumentado na Capital, mesmo com a proibição de aglomerações por conta do novo coronavírus. Somente nos últimos 20 dias, três araras ficaram feridas pelas linhas cortantes. Um reflexo da inconsequência de quem descumpre o isolamento social, comete um crime e ainda ameaça a ave símbolo de Campo Grande.

De janeiro até agora foram pelo menos 5 aves atingidas, o que revolta pesquisadores que monitoram as aves desde o ovo. No caso mais recente, ocorrido na manhã de sexta-feira (15) um animal jovem perdeu a capacidade de voar apenas cinco meses depois de deixar o ninho pela primeira vez.

A ararinha era monitorada desde o seu nascimento pelas biólogas Larissa Tinoco e Fernanda Fontoura, que também fizeram o resgate em uma empresa da Rua Manoel da Costa Lima, próximo ao cruzamento com a Avenida Ernesto Geisel.

Momento em que a ave foi tirada da grade.(Foto: Instituto Arara Azul) 
Momento em que a ave foi tirada da grade.(Foto: Instituto Arara Azul)

“É muito triste e revoltante ao mesmo tempo. Eu chorei muito. A monitorávamos desde o ninho, acompanhamos todo o processo de desenvolvimento e ver o animal daquele jeito... Perdendo a liberdade por causa da irresponsabilidade das pessoas que usam esse tipo material...”, desabafa Larissa.

As biólogas são colaboradoras do projeto Aves Urbanas do Instituto Arara Azul e foram acionadas por uma moradora da região. Ao chegarem no local, o animal estava nas grades do portão de uma empresa, com a linha enrolada em seu corpo, sangramento intenso e grave lesão na asa direita.

O animal foi capturado e a linha foi cuidadosamente retirada pelas biólogas. “Sempre tentamos fazer o mais rápido possível para diminuir o sofrimento do animal. Nessa em específico foi muito grave, cortou músculos, vasos e chegou no osso. Se tivesse atingido a artéria ela teria morrido em duas horas”, detalha.

Confira o vídeo da captura:


Após ser desprendida da linha a ave foi levada para o Cras (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), para onde também foram levadas as outras 2 aves. Elas foram capturadas nos bairros Marcos Roberto e no São Conrado. A arara capturada nesta sexta-feira teve o ligamento da asa rompido, passou por cirurgia e ficará aos cuidados da equipe do Centro, mais nunca mais vai poder voar. Um prejuízo para espécie, mas também para o trabalho das pesquisadoras.

A arara havia nascido em um ninho que fica em um condomínio no Jardim das Nações, e que é um dos 249 cadastrados pelo Instituto na Capital. “Toda a semana nós íamos até o ninho para pesar, medir, já havíamos colhido sangue, tudo isso para coletar o máximo de informações sobre como esses animais tem se desenvolvido na cidade”, explica.

A ararinha havia voado pela primeira vez em janeiro deste ano, mas ainda dependia dos cuidados dos pesquisadores e principalmente dos pais.

“Mesmo depois que elas aprendem a voar as araras são dependentes dos pais para se alimentarem por pelo menos um ano. Provavelmente os pais vão voltar por mais alguns dias no ninho em busca do filhote. As araras são aves extremamente fiéis elas sempre voltam”, completa Larissa.

Veterinário operando a asa da arara que foi cortada com cerol. (Foto: Larissa Tinoco) 
Veterinário operando a asa da arara que foi cortada com cerol. (Foto: Larissa Tinoco)

Em janeiro deste ano em um único dia outras duas araras ficaram presas em linhas com cerol, no Parque do Lageado e no Jardim Joquei Club. O receio da pesquisadora é que os casos de animais feridos com linhas cortantes continue aumentando durante a pandemia, colocando em risco a população de aves na Capital.

Em dez anos do projeto Aves Urbanas mais de 600 filhotes foram monitorados em Campo Grande. Atualmente, estima-se que pelo menos 700 aves da espécie Canindé tenham morada na Capital.

O nosso apelo é para que as pessoas parem de soltar pipa com estes matérias, pois não representam um risco só para estes animais, mas para os próprios moradores”, diz.

Vender e soltar pipa com cerol ou outros materiais cortantes é crime e pode ser penalizado com muita. O material é uma mistura de cola com vidro moído ou limalha de ferro que é aplicado em linhas de pipa durante as competições entre praticantes.

Corte profundo feito na asa da arara. (Foto: Larissa Tinoco) 
Corte profundo feito na asa da arara. (Foto: Larissa Tinoco)

Em operação no último final de semana de combate a aglomerações com foco em locais onde ocorrem as disputas com pipa a Guarda Municipal recolheu 192 materiais (linha de cerol e chilena) e 124 pipas e conduziu três pessoas à delegacia.

O material foi incinerado nesta sexta-feira (15) no Parque Ayrton Senna. Neiva Guedes, presidente do Instituto Arara Azul e referência nacional na preservação de aves cobra mais fiscalização das autoridades e conscientização da população.

Pedimos a população que denuncie. Que as autoridades fiscalizem e que os culpados sejam punidos. A arara Canindé é ave símbolo da cidade. Devemos monitorá-la protege-la para que continue colorindo e alegrando o nosso dia a dia”, comenta.

Quem flagrar pessoas soltando pipa na Capital pode fazer uma denúncia á Guarda Municipal pelos números (67) 3314-9955 e 153. Em casos de araras presas as linhas de cerol a população deve entrar em contato com o WhatsApp do Instituto Arara Azul pelo (67) 9 9647-2347 ou com a Polícia Militar Ambiental no (67) 3357-1501.

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