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Família seguiu passos de argentino e mantém sapataria há 50 anos em Campo Grande

Fundador é o seu Leão, homem com traços indígenas que aprendeu em Corrientes o trabalho manual

Por Cassia Modena | 08/12/2025 08:00
Família seguiu passos de argentino e mantém sapataria há 50 anos em Campo Grande
Foto de Mario Ocampos e funcionários apoiada em pote antigo de cola de sapateiro usado até hoje (Foto: Henrique Kawaminami)

A segunda matéria da série Negócios de Família traz uma sapataria que está há quatro gerações no comando dos Ocampos e começou quando Inacio, argentino com traços indígenas, aprendeu a consertar sapatos na província de Corrientes.

RESUMO

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A Sapataria Leão, fundada pelo argentino Inacio na década de 1970 em Campo Grande, mantém-se como negócio familiar há quatro gerações. O estabelecimento, que começou no Bairro Monte Líbano, expandiu-se para três unidades na cidade, sendo referência em reparos de calçados, bolsas e artigos em couro. Após a perda de visão do fundador, seu filho Mario assumiu o negócio com a esposa Gilmara. Atualmente, os netos de Inacio administram as lojas: Tatiane comanda a matriz, enquanto seus irmãos Thiago e Rodrigo gerenciam as filiais no Carandá Bosque e Vilas Boas. A empresa se destaca pela qualidade do serviço e variedade de reparos oferecidos.

Na década de 1970, ele veio parar em Campo Grande, onde montou com a esposa e os filhos a primeira loja no Bairro Monte Líbano. Leão foi o nome que o imigrante escolheu para a sapataria porque era o seu signo na astrologia.

Amor pelo trabalho e vaidade eram as características mais fortes do fundador, que era chamado de seu Leão pelos clientes. A neta Tatiane Ocampos, 47, lembra dele com admiração. “Era um homem muito bonito, alto, com cabelo liso escorrido, que gostava de se vestir bem e de trabalhar”, descreve.

Família seguiu passos de argentino e mantém sapataria há 50 anos em Campo Grande
Seu Leão em pé e o filho Marcos, que teve no segundo casamento (Foto: Acervo da família)

Os primeiros anos foram bons porque a ferrovia instalada na cidade trazia bastantes clientes, porém, ninguém contava que Inacio perderia a visão após tomar um medicamento. O filho Mario foi quem deu continuidade ao negócio. “Meu pai ficou muito decepcionado e foi para Rio Verde. Depois retornou para cá, mas nunca voltou a enxergar completamente. Veio a catarata e ficou pior”, ele conta, hoje aos 71 anos.

Mario e a esposa Gilmara assumiram a sapataria Leão a partir daí. Campo Grande virou a capital de Mato Grosso do Sul, cresceu e eles chegaram a ter dezenas de funcionários para atender à demanda da época de ouro para quem dominava trabalhos manuais. Começaram a morar nos fundos da loja e expandiram o espaço alugando uma quitanda de frutas que ficava ao lado quando o comerciante, um turco conhecido como seu Ibrahim, morreu.

Gilmara era professora e começou a se ausentar mais da loja quando os filhos Thiago, Rodrigo e Tatiane aprenderam a profissão observando o pai trabalhando. Em meio a isso, seu Leão testemunhou a prosperidade do negócio que criou. Morreu deixando outro legado para a família, além da própria sapataria.

Família seguiu passos de argentino e mantém sapataria há 50 anos em Campo Grande
Mario na porta e os filhos Tatiane (de branco), Thiago (o bebê) e Rodrigo (sem camiseta), além do irmaõ (com o Thiago no colo) e dois funcionários antigos (Foto: Acervo da família)

O trabalho. Seu Leão ensinou que nada de material é nosso para sempre porque podemos perder. O que podemos e temos que preservar é o nosso nome, nosso trabalho e honestidade. Passei esse exemplo para os meus filhos, que são muito respeitadores. Todos estudaram e hoje trabalham na sapataria”, diz Mario.

Com a maior diversidade de produtos no mercado e o consumismo em alta, a clientela foi caindo nas sapatarias. Na Leão, o fluxo sempre foi contínuo e atendeu às necessidades da família, segundo Tatiane, que é neta de Inacio, filha de Mario e quem hoje cuida da loja do Monte Líbano ao lado do filho e com ajuda de dois funcionários.

O tempo de maior dificuldade foi durante a pandemia de covid-19. Depois dela, o rendimento seguiu caindo de patamar, mas hoje se mantém estável.

Três lojas e diversidade de serviços - Thiago e Rodrigo, outros dois filhos de Mario, cuidam de duas unidades abertas no Carandá Bosque e no Vilas Boas. O pai já não vai tanto às lojas depois que sofreu um acidente de trânsito e ficou com uma sequela no joelho, porém, segue a par de tudo o que acontece.

Família seguiu passos de argentino e mantém sapataria há 50 anos em Campo Grande
Da esq. para a dir.: Laerte (funcionário), Thiago (filho), Gilmara (mãe), Mario (pai), Tatiane (filha), Rodrigo (filho) e Antônio (funcionário) (Foto: Henrique Kawaminami)

Tatiane acredita que o segredo para a Leão estar aberta há cerca de 50 anos é a união da família, a disposição para atender os clientes com serviços que nem toda sapataria aceita hoje em dia e matéria-prima de qualidade para uso nos consertos.

A loja faz reparo também em bolsas e mochilas, enquanto a maioria das sapatarias da Capital se limita a calçados. Vende, ainda, cintos de couro e outros produtos de fabricação própria.

A gente faz solado, troca salto e o revestimento do salto, pintura. Forro interno que descasca, a gente troca também. Substituímos forro de bolsa, trocamos zíper, trocamos a alça, trocamos a cor de bolsa, de mala. Trocamos suporte. A gente faz de um tudo", detalha Tatiane.

Família seguiu passos de argentino e mantém sapataria há 50 anos em Campo Grande
Funcionário conserta sapato em oficina que fica no fundo da loja matriz (Foto: Paulo Francis)

Até a concorrência indica a empresa para quem precisa de serviços mais trabalhosos ou específicos. A administradora da loja matriz compartilha que o segredo para ser referência é não ter medo de não dar conta de um pedido e poder buscar no polo de produção de calçados no Brasil, Franca (SP), borrachas e outros materiais que fazem diferença no resultado.

"Se a gente não sabe fazer, a gente aprende. O cliente pergunta se dá e eu respondo que dá porque a gente vai conseguir fazer de algum jeito", fala Tatiane. A tradição e esse jeito de trabalhar fizeram a família ter clientes que, embora morando em outro estado, reservam seus consertos para levar à sapataria quando viajam para Campo Grande. Há também os que enviam pelos Correios.

Mario e os filhos querem abrir unidades fora de Mato Grosso do Sul. "A gente vê fábricas fazendo coisas novas e ficamos 'loucos' de vontade. Queremos levar essa modernização e o nosso trabalho para fora, inclusive para lugares onde nem o que fazemos aqui se faz ainda", sonha a filha.

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Quadro na matriz da sapataria reproduz ilustração em antiga caixa de sapatos e foi presente de um cliente (Foto: Paulo Francis)

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