Ninguém superficial tem relações profundas
Superficialidade e profundidade são escolhas que se revelam não apenas em grandes decisões, mas também nos pequenos gestos cotidianos. É no modo como nos relacionamos — nas conversas, nas ausências, nos silêncios — que se define a qualidade dos vínculos que construímos. E a verdade é simples: ninguém superficial consegue criar relações verdadeiramente profundas.
Amizades superficiais e amizades profundas
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Uma amizade superficial se mantém em frases prontas: “vamos marcar um café” que nunca acontece, “estou aqui para o que precisar” sem qualquer disponibilidade real. Esse tipo de relação se alimenta de encontros ocasionais, fotos para redes sociais e diálogos que não passam da superfície. É leve, pode até ser agradável, mas não cria raízes.
Já uma amizade profunda não depende da frequência, mas da autenticidade. É aquela em que o silêncio não constrange, em que os erros podem ser confessados sem medo, em que o tempo distante não apaga a intimidade. Amigos assim não estão apenas na alegria; permanecem na dor, sustentam o peso dos dias difíceis e oferecem ombro sem cobrar retorno.
Relações amorosas superficiais e amor verdadeiro
No amor, a superficialidade aparece no desejo de companhia sem compromisso, na necessidade de exibir o relacionamento mais do que vivê-lo, ou no medo de se mostrar vulnerável diante do outro. Relações assim se desgastam rapidamente, pois são construídas na aparência do que se quer parecer, e não na verdade do que se é.
O amor profundo, por outro lado, é feito de imperfeições aceitas, de diálogos que enfrentam desconfortos, de respeito mútuo ao crescimento individual. É um amor que não foge diante do conflito, mas o utiliza como caminho para amadurecer juntos. Ele não busca apenas prazer imediato, mas constrói significado ao longo do tempo.
Convivência superficial e relações de trabalho profundas
Até no ambiente profissional essa diferença se faz notar. Relações superficiais são baseadas em interesse, em networking vazio, em contatos que só existem quando há algo a ganhar. Elas se desfazem tão rápido quanto surgem.
Mas as relações profundas no trabalho se constroem no respeito, na confiança e na colaboração genuína. São aquelas em que o colega não é apenas “alguém útil”, mas um ser humano valorizado. Relações assim abrem espaço para diálogo, aprendizado mútuo e crescimento coletivo.
O preço da superficialidade A superficialidade pode parecer confortável. Ela não exige muito, não cobra entrega, não coloca em risco a imagem que desejamos manter. Porém, seu preço é a solidão. Relações superficiais nunca sustentam as dores inevitáveis da vida. Quando os ventos mudam e as tempestades chegam, descobre-se que, ao redor, há muitos rostos, mas poucos corações realmente presentes.
O valor da profundidade
A profundidade exige coragem: coragem de mostrar fraquezas, de confiar, de ouvir com paciência, de permanecer quando é mais fácil ir embora. Exige tempo, exige dedicação e, acima de tudo, exige verdade. Mas seu valor é incalculável, porque cria vínculos que resistem, que transformam, que dão sentido à vida.
Um convite à profundidade Seja nas amizades, no amor ou no trabalho, precisamos escolher: viver na superfície ou mergulhar. A superfície pode até ser confortável, mas é vazia. É na profundidade que a vida encontra sabor, sentido e eternidade nos encontros.
Por isso, este é um convite: abandone o raso. Abra mão das máscaras, das conveniências e das respostas automáticas. Permita-se mergulhar — em si mesmo e no outro. Porque a vida é curta demais para se viver em relações que não sustentam o peso da verdade.
Ninguém superficial tem relações profundas. Mas todos aqueles que ousam mergulhar descobrem que a profundidade não assusta: ela liberta.
(*) Cristiane Lang, psicóloga clínica especializada em oncologia
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