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Um novo olhar para gestão integrada

Por Keyvan Macedo (*) | 18/09/2025 13:30

Recentemente, duas empresas que assumiram o compromisso voluntário de divulgar a Resolução 193 da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) publicaram seus relatórios anuais, apresentando informações financeiras relacionadas à sustentabilidade. Trata-se, sem dúvida, do início de um novo marco para a gestão integrada das organizações.

A publicação da resolução 193, feita em outubro de 2023, colocou o Brasil no protagonismo mundial, como a primeira regulamentação nacional da diretriz IFRS (sigla em inglês da entidade de Normas Internacionais de Relatório Financeiro). Essa publicação aconteceu às vésperas da COP28, realizada em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

Em inúmeros painéis durante a conferência, o Brasil foi colocado como referência para que outros países pudessem seguir o mesmo exemplo e fazer a regulação nacional sobre o tema. Curiosamente, as primeiras divulgações ocorrem dois anos após Dubai, quando o Brasil está na contagem regressiva para sediar a COP30, em Belém, no mês de novembro.

Com a crise climática que a cada ano tem afetado mais e mais empresas, de todos os setores econômicos e em todo o planeta, reconhecer os impactos financeiros relacionados ao tema é de fundamental importância.

Quantificar os impactos climáticos deve fazer parte da gestão de riscos de todas as empresas. A visibilidade desses riscos permitirá a escolha de ações de mitigação e adaptação para tornar o negócio mais resiliente às mudanças climáticas.

O custo da inação pode significar a descontinuidade de muitos negócios. A análise de quais são os possíveis efeitos econômicos permitirá que executivos e alta gestão das empresas possam fazer ajustes na estratégia corporativa a médio e longo prazo.

Empresas brasileiras já entenderam que precisarão se adequar a essa abertura de informações, independentemente da obrigatoriedade de fazer esse reporte. Parece uma simples divulgação financeira, mas isso representa uma reviravolta no processo de gestão e governança.

Esse foi um dos temas de grande repercussão na semana do clima que aconteceu no início de agosto, em São Paulo. Importante ressaltar que a publicação da resolução CVM 227 facilitou a adoção voluntária das normas IFRS S1 e IFRS S2, sobre informações financeiras relacionadas à sustentabilidade e clima, respectivamente, aprimorando a CVM 193.

Com certeza, a adoção dessas resoluções será o novo balizador de detecção do greenwalshing (expressão usada para empresas que alegam fazer uma gestão ambiental, porém sem ações concretas na gestão do negócio). Até mesmo porque a divulgação dessas informações requererá uma asseguração mais robusta por parte das empresas de auditoria.

Se as assegurações dos relatórios de sustentabilidade eram feitas de forma limitada, agora elas deverão ser razoáveis –o mesmo critério adotado nas demonstrações financeiras. Muito se fala da matriz de materialidade que as empresas adotam para determinar quais são os temas importantes, tanto do ponto de visto interno quanto externo de seus stakeholders.

O reporte das informações financeiras relacionadas à sustentabilidade passa a adotar uma lógica distinta de materialidade, tendo como referência a materialidade financeira. Para leigos, isso pode parecer apenas uma questão semântica, mas, para os especialistas, significa que só serão divulgados os temas com impactos financeiros relevantes, o que tende a reduzir significativamente o número de assuntos reportados.

(*) Keyvan Macedo, coordenador do curso Mercado e Regulação do Carbono da Trevisan Escola de Negócios e head de Negócios Globais da Waycarbon, através da Folha de S.Paulo

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.