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Capital

Caciques ocupam sede da Funai contra a troca de coordenador regional

Lideranças fizeram votação simbólica pela manhã e pedem permanência de Elvis Terena no cargo

Por Mylena Fraiha e Maria Gabriela Arcanjo | 10/11/2025 12:37

Cerca de 28 caciques de diferentes regiões de Mato Grosso do Sul ocuparam, na manhã desta segunda-feira (10), a sede da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), em Campo Grande, em protesto contra a possível substituição do coordenador regional, Elvis Terena. O grupo também realiza uma votação simbólica sobre a permanência dele no cargo.

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Cerca de 28 caciques de diferentes etnias ocuparam a sede da Funai em Campo Grande (MS) em protesto contra a possível substituição do coordenador regional, Elvis Terena. A manifestação ocorre após o Conselho do Povo Terena solicitar a troca no comando do órgão ao Ministério dos Povos Indígenas. Lideranças Terena, Kadiwéu, Kinikinau e Atikum classificaram o pedido de substituição como unilateral e sem consulta prévia. O grupo, que realiza uma ocupação pacífica, exige resposta oficial do governo federal sobre a permanência do atual coordenador, que assumiu o cargo em 2023, no início do governo Lula.

A ocupação ocorre após o Conselho do Povo Terena encaminhar uma carta ao MPI (Ministério dos Povos Indígenas) e à presidência da Funai pedindo a troca no comando regional do órgão em Campo Grande. O documento, obtido pelo Campo Grande News, cita que o pedido foi feito “em atenção às lideranças das aldeias da Terra Indígena Buriti” e representa uma solicitação de “diversas lideranças indígenas de Mato Grosso do Sul”.

No entanto, a movimentação provocou reação imediata de outras lideranças, que classificaram o pedido como uma decisão “unilateral” e “sem consulta prévia” às bases. Representantes das etnias Terena, Kadiwéu, Kinikinau e Atikum, além de lideranças urbanas ligadas à OTGD (Organização Todos do Povo Terena da Grande Dourados), se reuniram desde as primeiras horas do dia na sede da Funai para manifestar apoio à continuidade de Elvis Terena no comando da unidade. Há caciques de Sidrolândia, Dois Irmãos do Buriti, Miranda e Campo Grande.

Caciques ocupam sede da Funai contra a troca de coordenador regional
Ana diz que grupo está na sede “para garantir que a voz das lideranças seja ouvida" (Foto: Maria Gabriela Arcanjo).

De acordo com a cacica Ana Batista Figueiredo, representante do CNPI (Conselho Nacional de Política Indigenista), o grupo está na sede “para garantir que a voz das lideranças seja ouvida antes de qualquer decisão vinda de Brasília”.

“Houve o desrespeito de uma minoria ao vir aqui retirar o nosso coordenador. Enquanto isso, iremos ocupar a Funai. Será uma ocupação pacífica, mas não sairemos até termos resposta da Funai e do MPI”, afirmou Ana, que também representa mulheres indígenas de várias regiões do Estado.

O cacique Jasiel Gabriel, da Aldeia Lagoinha, em Sidrolândia, disse que o grupo entende a carta como um gesto político isolado. “Nós estamos aqui para apoiar nosso coordenador. Caso a substituição aconteça, vamos ocupar esse lugar e manter fechado até termos uma resposta da ministra Sônia Guajajara e da Funai de Brasília. Todas as ações que envolvem troca de cargo têm que ser comunicadas previamente às lideranças”, afirmou.

Caciques ocupam sede da Funai contra a troca de coordenador regional
Jasiel disse que o grupo de 28 caciques entende a carta como um gesto político isolado (Foto: Maria Gabriela Arcanjo).

Já o cacique Clenivaldo Pires, de Miranda, classificou a tentativa de substituição como “autoritarismo” e defendeu que a maioria das comunidades atendidas pela coordenação regional está satisfeita com o trabalho de Elvis. “Não aceitamos decisões monocráticas. O coordenador tem feito um bom trabalho, tem visitado as aldeias e buscado projetos. Não há motivo para mudança”, disse.

Segundo os organizadores, o protesto tem caráter pacífico e permanecerá ativo até que o governo federal se manifeste oficialmente sobre a permanência ou não do coordenador. “Nós não estamos aqui para brigar, estamos aqui para sermos ouvidos”, resumiu o cacique Jasiel Gabriel.

Esta é a segunda manifestação pública em menos de uma semana em defesa de Elvis Terena. Na quarta-feira (5), o mesmo grupo de lideranças se reuniu na sede da Funai e elaborou uma carta de repúdio à tentativa de substituição. O documento foi encaminhado à presidente da Funai, Joênia Wapichana, ao secretário executivo do MPI, Eloy Terena, e à Presidência da República.

Troca de cargos — Elvis Terena assumiu o comando da coordenação regional da Funai em Campo Grande em 2023, após o início do governo Lula. Ele afirma que a atual gestão herdou uma estrutura fragilizada, após anos de enfraquecimento institucional.

“Mesmo com a Funai passando por sete anos de desmonte nos governos [Michel] Temer e [Jair] Bolsonaro, conseguimos arrumar a casa. Todo o recurso que chega até nós está sendo usado em benefício do nosso povo. Fortalecemos projetos, ampliamos o diálogo com as aldeias e estamos presentes nas comunidades,” afirmou Elvis.

Caciques ocupam sede da Funai contra a troca de coordenador regional
Elvis diz que votação é uma forma simbólica de mostrar que a maioria das lideranças mantém confiança na atual gestão (Foto: Maria Gabriela Arcanjo).

Conforme noticiado anteriormente, as lideranças afirmam que o pedido de substituição teria sido articulado por um pequeno grupo da Terra Indígena Buriti, supostamente com influência do secretário executivo do MPI, Luiz Eloy Terena, e do coordenador do Conselho Terena, Valcélio Figueredo.

Segundo Elvis, a votação organizada nesta segunda-feira é uma forma simbólica de mostrar que a maioria das lideranças mantém confiança na atual gestão. Ele disse ainda que respeita o direito à divergência, mas criticou o fato de não ter sido consultado ou comunicado sobre o pedido formal de substituição.

“Nunca houve conversa sobre eu sair da Funai ou assumir outro cargo. Eu acredito que haja uma interferência política do secretário executivo do MPI querendo colocar pessoas de confiança dele em cargos federais”, declarou o atual coordenador regional do órgão.

Elvis também deu detalhes sobre a reunião ocorrida na quinta-feira (6) e afirmou que, em nenhum momento, foi mencionado o envio dele para outro cargo no MPI. Disse ainda que nem sabia qual seria o cargo cogitado pelos cinco caciques e que não passa por sua cabeça aceitar a proposta. “Nessa reunião não houve essa conversa. Eles apenas pediram desculpas, dizendo que foi um mal-entendido, e afirmaram que não vão voltar atrás”.

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