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Capital

Delegado conta como foi montar "quebra-cabeças" de crime que "não deixa rastro"

“Essas ordens (de mandar matar) não vêm por escrito. Não deixam registro”, destacou Tiago Macedo

Lucia Morel e Anahi Zurutuza | 17/07/2023 14:05
Juiz Aluízio Pereira e a testemunha, delegado Tiago Macedo dos Santos (Foto: Paulo Francis)
Juiz Aluízio Pereira e a testemunha, delegado Tiago Macedo dos Santos (Foto: Paulo Francis)

Questionado pelos promotores do Ministério Público que atuam na acusação da família Name pelo assassinato de  Matheus Coutinho Xavier, um dos delegados que investigou o caso, Tiago Macedo dos Santos contou como foi possível montar o quebra-cabeças que ligou a morte do jovem ao grupo classificado como milícia armada.

“Essas ordens (de mandar matar) não vêm por escrito. Não deixam registro”, destacou, dizendo que a atuação precisou ligar peças e que muitas vezes, em casos como esse, não haverá provas físicas ou mesmo ligações e troca de mensagens.

Ele citou que foram usados, como elementos de prova, os rastros da tornozeleira eletrônica usada por um dos homens apontados como pistoleiros dos Name, José Moreira Freire, o “Zezinho”, que morreu em troca de tiros na cidade de Mossoró (RN); e, ainda, dados do celular do pai de Matheus, Paulo Xavier, que entre 2008 e 2013 trabalhou para a família de Jamilzinho; e depoimentos de envolvidos e testemunhas.

“A filha do Juanil relatou que o pai nutria fortes vínculos com Zezinho há duas décadas. Zezinho, já condenado, era monitorado por tornozeleira. Dados da tornozeleira mostraram ele perto da casa de Paulo Xavier dias antes. Essa informação corrobora que não se trata de crime de homicídio comum, mas um crime de encomenda. Zezinho era um pessoa especial para a organização, seria pistoleiro dos Name”, afirmou Tiago.

Juanil Miranda Lima é o segundo pistoleiro acusado de assassinar Matheus. Ele é considerado foragido e, por conta disso, responde pelo crime em outra ação que corre na Justiça, que determinou a suspensão dos trâmites até que ele seja recapturado.

Plenário do Tribunal do Júri (Foto: Paulo Francis)
Plenário do Tribunal do Júri (Foto: Paulo Francis)

Conforme o delegado Tiago, que hoje atua na Superintendência de Segurança Pública da Sejusp (Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública), “grupos poderosos não deixam vestígios” e “são vários componentes dentro de um quebra-cabeças que foi montado e corroboraram com a investigação”.

Ele cita, por exemplo, que a arma usada no assassinato de Matheus nunca foi encontrada. “É praxe em grupos armados formados para a execução de desafetos a troca de armas, para inviabilizar a prova técnica. Isso foi feito também com o carro. Não é um crime de bairro. É algo meticulosamente engendrado. Não é uma logística de acaso”.

A prova cabal, entretanto, surgiu dentro da prisão, em bilhete de detento que ouvia a comunicação entre os presos da Omertà no Presídio de Mossoró (RN). Nele, ele citava que diversas armas estavam escondidas e onde, assim, a polícia conseguiu chegar até elas.

Temos de analisar todos os elementos e montar o quebra-cabeças. Muitas vezes, não teremos um diálogo, uma prova”, sustentou, afirmando que os outros dois julgados hoje, Marcelo Rios e  Vladenilson Daniel Olmedo, conhecido como Vlad, recebiam as ordens e passavam para os executores. “Isso ocorre de forma cifrada e particular”.

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