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Capital

Justiça por Sophia veio com 52 anos de prisão de réus

Apesar das várias teses apresentadas, jurados condenaram padrasto e mãe pela morte da criança de 2 anos

Por Anahi Zurutuza, Ana Beatriz Rodrigues e Kamila Alcântara | 05/12/2024 21:02
Sophia feliz ao posar para foto feita por pai (Foto: Reprodução das rede sociais)
Sophia feliz ao posar para foto feita por pai (Foto: Reprodução das rede sociais)

Era uma quinta-feira quando a equipe médica da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino, em Campo Grande, avistou uma garotinha aparentemente desacordada nos braços da mãe, se preparou para salvá-la, mas se deparou com um corpinho frágil, frio e rígido. A realidade era que não havia mais salvação. Sophia Ocampo, de 2 anos e 7 meses, já estava morta há algum tempo.

RESUMO

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O caso de Sophia Ocampo, uma menina de 2 anos e 7 meses, chocou o Brasil após sua morte em janeiro de 2023, resultante de agressões brutais por seu padrasto, Christian Campoçano Leitheim, e a conivência de sua mãe, Stephanie de Jesus da Silva. Durante o julgamento, evidências de violência sexual e física foram apresentadas, culminando na condenação de Christian a 32 anos de prisão e de Stephanie a 20 anos, por omissão. O exame necroscópico revelou traumas significativos, incluindo hemorragias e sinais de abuso sexual, enquanto a defesa de Stephanie alegou ignorância sobre a crueldade do companheiro. O caso gerou uma onda de indignação nas redes sociais, com a hashtag "Justiça por Sophia" se tornando um clamor popular por justiça e proteção às crianças.

A hashtag “Justiça por Sophia” tomou a internet dias depois daquele fatídico 26 de janeiro de 2023 e neste 5 de dezembro, exatamente um ano depois que os acusados de matá-la quebraram o silêncio pela primeira vez, precisamente numa quinta-feira, Christian Campoçano Leitheim, de 27 anos, e Stephanie de Jesus da Silva, 26, padrasto e mãe da menina, foram considerados culpados pela morte.

O réu foi condenado a 32 anos de prisão, sendo 20 anos por homicídio doloso (com a intenção de matar) por motivo fútil e meio cruel e mais 12 anos pelo estupro de Sophia. Já a ré teve pena calculada em 20 anos por se omitir do dever de cuidar ao ponto de permitir o assassinato.

Em cerca de 24 horas divididas em dois dias, jurados ouviram os depoimentos de policial que atendeu a ocorrência, da médica que recebeu Sophia na UPA, do médico legista que examinou o corpo e identificou a causa da morte, de amigos de Stephanie e de Christian, o psicólogo que levantou a hipótese de a ré sofrer de Síndrome de Estocolmo e a mãe do réu.

Além disso, ouviram as histórias pessoais dos integrantes das defesas e da acusação misturadas às argumentações, embora estivessem em lados opostos.

Stephanie (de verde) e Christian (branco) durante leitura da sentença (Foto: Juliano Almeida)
Stephanie (de verde) e Christian (branco) durante leitura da sentença (Foto: Juliano Almeida)

A criança morreu por sofrer trauma raquimedular na coluna cervical (nuca) e hemotórax bilateral (hemorragia e acúmulo de sangue entre os pulmões e a parede torácica). Exame necroscópico também mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen – sinal de que sofreu violência sexual pelo menos 21 dias antes da análise –, além de vermelhidão e inchaço na região íntima, indício de estupro recente.

Para a acusação, Sophia morreu após ser espancada pelo padrasto com a conivência da mãe. A defesa de Stephanie alegou que a mãe não sabia o quanto o marido era cruel com a filha, não testemunhou agressões no dia anterior à morte e nem enquanto estava no mesmo ambiente, enquanto advogados de Christian alegaram que a lesão fatal pode ter sido piorada enquanto o casal tentava, erroneamente, socorrer a criança em convulsão. Não levantaram hipótese de como o trauma na coluna cervical surgiu e quem o provocou, mas o réu negou ter sido ele o causador do ferimento que levou a menina à morte.

Já a advogada Herika Ratto apresentou aos jurados uma nova explicação para o óbito, isentando a cliente de qualquer participação. Levantou a tese de que Sophia morreu quase que de forma instantânea após entrar no banheiro de casa com o padrasto pouco antes de ser levada pela mãe à UPA, onde o óbito foi constatado.

A defesa de Stephanie também pediu clemência para a cliente, alegando que ela estava presa no ciclo da violência doméstica ao ponto de não conseguir proteger a filha. A própria ré chamou o ex-marido de pedófilo, psicopata e manipulador. “Um monstro”.

Stephanie de Jesus chora durante julgamento (Foto: Paulo Francis)
Stephanie de Jesus chora durante julgamento (Foto: Paulo Francis)

No primeiro dia de júri, o último depoimento da manhã de terça-feira (4) foi bastante indigesto. Para o médico legista, Fabrício Sampaio Morais de Paiva, responsável pela necrópsia, no dia 27 de janeiro de 2023, termos técnicos ajudam a esclarecer o que aconteceu. Mas, para os leigos – jurados e plateia –, não foi fácil saber como a violência empregada contra a garotinha deixou marcas no corpo dela.

Os detalhes viscerais daquele exame arrancaram suspiros de horror do público, que tentava digerir as verdades difíceis de engolir. O pai de Sophia, Jean Ocampo, não suportou e chorou em vários momentos. Ao lado dele, o marido, Igor Andrade, também não aguentou e deixou que a indignação transbordasse pelos olhos.

Depoimento de amigo de Christian também chamou a atenção. Convocado pela defesa do acusado, Mateus Siqueira afirmou que estava com o padrasto da pequena quando soube que a criança estava morta. Naquele momento, segundo a testemunha, o réu passou a se culpar. “Eu estava junto com o Christian e quando a notícia da morte chegou por mensagem, o Christian: dizia ‘a culpa foi minha, eu matei a Sofia’”, narrou.

Stephanie chorou muito durante todo o julgamento, enquanto Christian demonstrou abalo apenas ao depor e ao pedir para sair do plenário no início dos debates entre acusação e defesas.

Rebatendo os defensores da ré, a advogada Janice Andrade, assistente da acusação, fez discurso emocionado. “Eu sou mãe, e me recuso chamar ela de mãe, ela é genitora. Porque mãe cuida, mãe protege. Vieram aqui falar que não sabem o que aconteceu aquele dia. Como que não sabem? Sendo que quem estava lá eram só os dois”.

A defesa do padrasto finalizou a argumentação mostrando áudios trocados pelo cliente e a mãe da menina na hora da descoberta da morte e também com a mãe dele. Veja:

Na guerra de narrativas, contudo, venceu a tese da acusação, encabeçada pelos promotores Lívia Carla Guadanhim Bariani e José Arturo Iunes Bobadilla.

Ambos foram considerados culpados e o juiz Aluízio Pereira dos Santos, que presidiu o julgamento, partiu para o cálculo das penas, chegando ao total de 52 anos de prisão. Os réus ainda podem recorrer da sentença.

Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, durante leitura da sentença (Foto: Juliano Almeida)
Aluízio Pereira dos Santos, da 2ª Vara do Tribunal do Júri, durante leitura da sentença (Foto: Juliano Almeida)

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