Justiça por Sophia veio com 52 anos de prisão de réus
Apesar das várias teses apresentadas, jurados condenaram padrasto e mãe pela morte da criança de 2 anos
Era uma quinta-feira quando a equipe médica da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) do Bairro Coronel Antonino, em Campo Grande, avistou uma garotinha aparentemente desacordada nos braços da mãe, se preparou para salvá-la, mas se deparou com um corpinho frágil, frio e rígido. A realidade era que não havia mais salvação. Sophia Ocampo, de 2 anos e 7 meses, já estava morta há algum tempo.
RESUMO
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O caso de Sophia Ocampo, uma menina de 2 anos e 7 meses, chocou o Brasil após sua morte em janeiro de 2023, resultante de agressões brutais por seu padrasto, Christian Campoçano Leitheim, e a conivência de sua mãe, Stephanie de Jesus da Silva. Durante o julgamento, evidências de violência sexual e física foram apresentadas, culminando na condenação de Christian a 32 anos de prisão e de Stephanie a 20 anos, por omissão. O exame necroscópico revelou traumas significativos, incluindo hemorragias e sinais de abuso sexual, enquanto a defesa de Stephanie alegou ignorância sobre a crueldade do companheiro. O caso gerou uma onda de indignação nas redes sociais, com a hashtag "Justiça por Sophia" se tornando um clamor popular por justiça e proteção às crianças.
A hashtag “Justiça por Sophia” tomou a internet dias depois daquele fatídico 26 de janeiro de 2023 e neste 5 de dezembro, exatamente um ano depois que os acusados de matá-la quebraram o silêncio pela primeira vez, precisamente numa quinta-feira, Christian Campoçano Leitheim, de 27 anos, e Stephanie de Jesus da Silva, 26, padrasto e mãe da menina, foram considerados culpados pela morte.
O réu foi condenado a 32 anos de prisão, sendo 20 anos por homicídio doloso (com a intenção de matar) por motivo fútil e meio cruel e mais 12 anos pelo estupro de Sophia. Já a ré teve pena calculada em 20 anos por se omitir do dever de cuidar ao ponto de permitir o assassinato.
Em cerca de 24 horas divididas em dois dias, jurados ouviram os depoimentos de policial que atendeu a ocorrência, da médica que recebeu Sophia na UPA, do médico legista que examinou o corpo e identificou a causa da morte, de amigos de Stephanie e de Christian, o psicólogo que levantou a hipótese de a ré sofrer de Síndrome de Estocolmo e a mãe do réu.
Além disso, ouviram as histórias pessoais dos integrantes das defesas e da acusação misturadas às argumentações, embora estivessem em lados opostos.
A criança morreu por sofrer trauma raquimedular na coluna cervical (nuca) e hemotórax bilateral (hemorragia e acúmulo de sangue entre os pulmões e a parede torácica). Exame necroscópico também mostrou que a criança sofria agressões há algum tempo e tinha ruptura cicatrizada do hímen – sinal de que sofreu violência sexual pelo menos 21 dias antes da análise –, além de vermelhidão e inchaço na região íntima, indício de estupro recente.
Para a acusação, Sophia morreu após ser espancada pelo padrasto com a conivência da mãe. A defesa de Stephanie alegou que a mãe não sabia o quanto o marido era cruel com a filha, não testemunhou agressões no dia anterior à morte e nem enquanto estava no mesmo ambiente, enquanto advogados de Christian alegaram que a lesão fatal pode ter sido piorada enquanto o casal tentava, erroneamente, socorrer a criança em convulsão. Não levantaram hipótese de como o trauma na coluna cervical surgiu e quem o provocou, mas o réu negou ter sido ele o causador do ferimento que levou a menina à morte.
Já a advogada Herika Ratto apresentou aos jurados uma nova explicação para o óbito, isentando a cliente de qualquer participação. Levantou a tese de que Sophia morreu quase que de forma instantânea após entrar no banheiro de casa com o padrasto pouco antes de ser levada pela mãe à UPA, onde o óbito foi constatado.
A defesa de Stephanie também pediu clemência para a cliente, alegando que ela estava presa no ciclo da violência doméstica ao ponto de não conseguir proteger a filha. A própria ré chamou o ex-marido de pedófilo, psicopata e manipulador. “Um monstro”.
No primeiro dia de júri, o último depoimento da manhã de terça-feira (4) foi bastante indigesto. Para o médico legista, Fabrício Sampaio Morais de Paiva, responsável pela necrópsia, no dia 27 de janeiro de 2023, termos técnicos ajudam a esclarecer o que aconteceu. Mas, para os leigos – jurados e plateia –, não foi fácil saber como a violência empregada contra a garotinha deixou marcas no corpo dela.
Os detalhes viscerais daquele exame arrancaram suspiros de horror do público, que tentava digerir as verdades difíceis de engolir. O pai de Sophia, Jean Ocampo, não suportou e chorou em vários momentos. Ao lado dele, o marido, Igor Andrade, também não aguentou e deixou que a indignação transbordasse pelos olhos.
Depoimento de amigo de Christian também chamou a atenção. Convocado pela defesa do acusado, Mateus Siqueira afirmou que estava com o padrasto da pequena quando soube que a criança estava morta. Naquele momento, segundo a testemunha, o réu passou a se culpar. “Eu estava junto com o Christian e quando a notícia da morte chegou por mensagem, o Christian: dizia ‘a culpa foi minha, eu matei a Sofia’”, narrou.
Stephanie chorou muito durante todo o julgamento, enquanto Christian demonstrou abalo apenas ao depor e ao pedir para sair do plenário no início dos debates entre acusação e defesas.
Rebatendo os defensores da ré, a advogada Janice Andrade, assistente da acusação, fez discurso emocionado. “Eu sou mãe, e me recuso chamar ela de mãe, ela é genitora. Porque mãe cuida, mãe protege. Vieram aqui falar que não sabem o que aconteceu aquele dia. Como que não sabem? Sendo que quem estava lá eram só os dois”.
A defesa do padrasto finalizou a argumentação mostrando áudios trocados pelo cliente e a mãe da menina na hora da descoberta da morte e também com a mãe dele. Veja:
Na guerra de narrativas, contudo, venceu a tese da acusação, encabeçada pelos promotores Lívia Carla Guadanhim Bariani e José Arturo Iunes Bobadilla.
Ambos foram considerados culpados e o juiz Aluízio Pereira dos Santos, que presidiu o julgamento, partiu para o cálculo das penas, chegando ao total de 52 anos de prisão. Os réus ainda podem recorrer da sentença.
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