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Capital

Sem salário há 7 dias, motoristas de ônibus aprovam greve a partir de segunda

Decisão foi tomada em duas assembleias simultâneas do STTCU-CG realizadas nesta madrugada

Por Mylena Fraiha e Dayene Paz | 11/12/2025 06:23
Sem salário há 7 dias, motoristas de ônibus aprovam greve a partir de segunda
No pátio da Ana Maria do Couto, motoristas votam a favor da greve geral (Foto: Mylena Fraiha).

Após duas assembleias realizadas simultaneamente nas garagens do Consórcio Guaicurus, na manhã desta quinta-feira (11), o STTCU-CG (Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo e Urbano de Campo Grande) deliberou pela deflagração de greve geral a partir da próxima segunda-feira (15). A decisão foi tomada por mais de 200 motoristas que chegaram aos pátios para iniciar o turno de trabalho, mas estão há sete dias sem receber o salário, previsto para ter sido pago no dia 5 de dezembro.

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Motoristas de ônibus de Campo Grande decidiram entrar em greve a partir de segunda-feira (15) devido ao atraso de sete dias no pagamento dos salários. Em assembleias realizadas nas garagens do Consórcio Guaicurus, mais de 200 trabalhadores votaram pela paralisação. Além dos salários atrasados, a categoria reivindica o pagamento da segunda parcela do 13º salário e do vale mensal, ambos com vencimento previsto para 20 de dezembro. O sindicato da categoria afirma que é a primeira vez que ocorre atraso no pagamento dos salários, sendo que anteriormente os atrasos se limitavam ao adiantamento salarial.

Segundo o sindicato e motoristas, é a primeira vez que ocorre atraso no salário — até então, os atrasos se limitavam ao adiantamento salarial, o vale, que corresponde a 40% da remuneração. Além do salário atrasado, a categoria teme o atraso do pagamento da segunda parcela do 13º, que vence no dia 20 de dezembro, e do próprio vale do mês, também previsto para o dia 20.

As assembleias ocorreram nas garagens localizadas na Avenida Gury Marques, na Vila Cidade Morena, e na Rua Marina Luiza Spengler, no bairro Ana Maria do Couto, com primeira chamada às 4h da manhã.

O presidente do sindicato, Demétrio Freitas, presidiu a assembleia na garagem da Avenida Guaicurus, que reuniu mais de 100 trabalhadores. Todos votaram a favor da greve. A reunião começou antes das 4h30, horário em que motoristas chegam para liberar os primeiros ônibus.

Sem salário há 7 dias, motoristas de ônibus aprovam greve a partir de segunda
No pátio localizado no bairro Ana Maria do Couto, o primeiro carro saiu às 4h37, após a deliberação pela greve (Foto: Mylena Fraiha).

No pátio da Ana Maria do Couto, a assembleia foi conduzida pelo secretário-geral do STTCU/CG, Santino Cândido Meira. Cerca de 100 motoristas participaram. Santino perguntou quem apoiava a paralisação, e a maioria levantou a mão. Quando perguntou quem era contra, ninguém se manifestou.  Após a deliberação, o primeiro carro saiu às 4h37.

Santino disse que a realização das assembleias nas garagens, logo às 4h30 da manhã, segue uma lógica de logística dos trabalhadores. “O trabalhador do transporte coletivo tem horário muito rotativo. Se marcarmos assembleia às 8h30 ou 9h, ele está recém-largando o primeiro pega. Então fica complicado o deslocamento".

Ao Campo Grande News, Demétrio reiterou que a categoria só voltará ao trabalho depois de receber as três pendências de uma só vez. “Se até segunda-feira não tiver o pagamento, vai continuar tudo parado. Nós temos o décimo terceiro que é dia 19 na sexta-feira. Mas o vale que o tratamento que nós temos dia 20. Tem até segunda-feira pra fazer os três pagamentos de uma vez só. Porque não adianta a gente receber só o pagamento do atrasado e chegar na sexta-feira não recebeu isso".

Com a aprovação da greve, o sindicato deve encaminhar ainda nesta quinta-feira as notificações à Prefeitura, Câmara Municipal, hospitais, Polícia Militar e Justiça. Caso os pagamentos não sejam realizados até segunda-feira, nenhum ônibus deverá circular em Campo Grande.

Sem salários — A incerteza sobre o pagamento tem provocado tensão nas garagens desde a última semana. Um motorista de 58 anos, que pediu para não ser identificado e que acompanhou a assembleia da garagem no Ana Maria do Couto, contou que, em mais de 30 anos de profissão, nunca havia enfrentado atraso no salário. “Eu trabalho aqui desde 1990 e é a primeira vez que acontece atraso no pagamento. Do pagamento em si nunca aconteceu. Às vezes, atrasava o vale, mas o salário não.”

Outro motorista, de 49 anos, que acompanhou a assembleia na garagem da Gury Marques, afirmou que a categoria “chegou ao limite”. Ele disse que trabalha desde 1991. “Em 91 a gente parava mesmo. Não tem como ficar sem salário, quem trabalha sem receber? A conta não espera, os filhos não esperam, é uma falta de respeito com a gente. Sei que é ruim para a população, mas a gente não pode ficar calado.”

Sem salário há 7 dias, motoristas de ônibus aprovam greve a partir de segunda
Santino Cândido Meira, secretário-geral do sindicato, durante votação (Foto: Mylena Fraiha)

Locaute — Essa é a segunda paralisação que foi realizada neste ano. A última ocorreu no dia 22 de outubro, após 47 horas de atraso no pagamento do vale. Na época, também surgiram denúncias de suposto locaute praticado pelo sindicato em conluio com o Consórcio.

Devido a isso, foi aberta investigação preliminar pelo MPT (Ministério Público do Trabalho) para apurar possível prática de locaute, quando empresas estimulam a paralisação para pressionar o poder público. A investigação foi instaurada após relatos de ex-motoristas e denúncias feitas à imprensa e ao Legislativo de que o sindicato teria deflagrado paralisações e greves sem consultar a categoria, especialmente durante momentos de negociação entre o Consórcio e a Prefeitura.

O STTCU, porém, sustenta que o procedimento preparatório de investigação já foi arquivado e que não há fundamento para as acusações. Durante assembleia realizada nesta quinta-feira (11), o secretário-geral do sindicato, Santino Cândido Meira, voltou a negar qualquer prática de locaute e classificou as suspeitas como indevidas. “Eu não relevo essa questão de ‘locaute’ que é mencionada na imprensa. Não vou entrar em detalhes porque não cabe ao sindicato. Ao sindicato cabe, na realidade, defender o direito do trabalhador”, afirmou.

Segundo ele, o Ministério Público já ouviu o sindicato e reconheceu que não houve irregularidades. “Nós fomos inquiridos pelo Ministério Público sobre essa questão e simplesmente respondemos as nossas ações, como trabalhamos, e fomos felizes por respeitar as regras que existem na legislação. O Ministério Público automaticamente nos informou que a denúncia foi cancelada, foi arquivada”, disse.

Ao comentar sobre o contexto das acusações, Santino afirmou que o sindicato não tem participação nem conhecimento sobre as disputas contratuais entre a Prefeitura e o Consórcio Guaicurus. “Nós temos ciência de que existe uma relação entre poder concedente e concessionária. O contrato entre eles eu não tenho conhecimento e nem procuro, porque não é algo que cabe ao trabalhador saber”, declarou.

Santino ainda criticou o fato de os trabalhadores ficarem no meio de conflitos entre as partes. “Enquanto representante dos trabalhadores, eu fico muito sentido que se chegue a essa posição, onde tanto o consórcio quanto a prefeitura têm essa briga e, infelizmente, nós ficamos ali no meio, como — com todo respeito — o ‘João Bobo’, esperando que os dois se acertem para que possamos desenvolver melhor o nosso trabalho. A gente sente muito isso".

A reportagem tenta contado com a prefeitura e também com o Consórcio Guaicurus a respeito da decisão dos motoristas tomada em assembleia.

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