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Capital

Mais uma operação busca drogas e objetos furtados no “Carandiru” de Campo Grande

Fiscalização recolheu uma mesa de sinuca de bar e objetos sem procedência comprovada

Por Gabi Cenciarelli e Judson Marinho | 29/10/2025 17:36
Mais uma operação busca drogas e objetos furtados no “Carandiru” de Campo Grande
Cerca de 30 agentes participaram da ação articulada pelo vereador André Salineiro (Foto: Paulo Francis)

Cerca de 30 agentes participaram da operação nesta quarta-feira (29), no conjunto, invadido há 20 anos e conhecido como “Carandiru”, no bairro Mata do Jacinto, em Campo Grande. A mobilização foi apresentada como tentativa de “mostrar a presença do poder público” e responder a denúncias de tráfico e furtos, mas o resultado ficou aquém do aparato envolvido.

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Uma operação policial realizada no conjunto habitacional conhecido como "Carandiru", no bairro Mata do Jacinto, em Campo Grande, resultou na apreensão de veículos irregulares, drogas e produtos sem comprovação de origem. A ação, articulada pelo vereador André Salineiro, contou com cerca de 30 agentes de diferentes órgãos públicos. O local, invadido há 20 anos após a falência da Construtora Degrau Ltda., abriga 45 famílias que vivem em condições precárias. Os moradores criticam a falta de políticas públicas habitacionais e alegam que, apesar das promessas de realocação feitas pela prefeitura há dois anos, nenhuma solução foi apresentada para resolver o impasse.

A ação reuniu equipes da Guarda Civil Metropolitana (ROMU), Trânsito e Ambiental), Polícia Militar, Polícia Civil, Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social), Vigilância Sanitária, Conselho Tutelar e Energisa, que foi acionada para verificar irregularidades na rede elétrica.

Durante a vistoria, somente homem de 40 anos foi preso, por receptação e furto de energia. Além disso, foram apreendidos dois carros e uma moto com documentação irregular, uma pequena porção de maconha e objetos sem comprovação de origem, como máquinas e ferramentas.

Bar improvisado no térreo, apontado por moradores como ponto de troca de produtos furtados, foi interditado pela Vigilância Sanitária por funcionar sem alvará, e do local foram recolhidos equipamentos e uma mesa de sinuca.

Mais uma operação busca drogas e objetos furtados no “Carandiru” de Campo Grande
Moradores relatam medo de despejo e cobram alternativas de moradia (Foto: Paulo Francis)

A Semadur também identificou ligações clandestinas de energia e de esgoto irregulares na estrutura do prédio.

O inspetor Iveraldo Pulse Ogeda, da Guarda Civil Metropolitana, detalhou o trabalho das equipes. “Quando chegamos ao local, havia três veículos irregulares e um deles tinha mais de R$ 20 mil em multas. A fiscalização lavrou as notificações e fez o recolhimento ao Detran (Departamento Estadual de Trânsito). Também encontramos uma porção de maconha e produtos sem procedência, como máquinas e ferramentas, que o morador não soube explicar”, relatou.

A solicitação foi feita pelo vereador André Salineiro, que defendeu a operação como resposta às demandas da comunidade. “É constante nas reuniões sobre segurança pública a reclamação dos moradores daqui. Esse local é usado por meliantes para esconder produtos de furto e roubo. A operação visa justamente isso: mostrar que o poder público está em cima e não vai permitir que o imóvel continue servindo ao crime”, afirmou.

Mais uma operação busca drogas e objetos furtados no “Carandiru” de Campo Grande
Crianças e famílias vivem há quase duas décadas no conjunto “Carandiru” (Foto: Paulo Francis)

“A gente não está aqui porque quer” - Dentro do conjunto, porém, o sentimento é outro. As famílias que vivem no “Carandiru” há quase duas décadas afirmam que o problema não é a ausência de polícia, e sim a falta de moradia digna e de políticas públicas. Por medo de represálias, nenhuma quis se identificar.

“A gente não está aqui porque quer, está porque precisa. Não tem pra onde ir”, disse uma moradora de 36 anos. “O que estão tentando é despejar as famílias, mas pra onde vai todo mundo? Pra debaixo da ponte? A prefeitura nunca veio aqui. Tem gente com inscrição na Emha há 10, 20 anos e nunca conseguiu uma casa.”

Outra mulher, de 28 anos, cria seis filhos e quatro netos no local. “Se for pra sair daqui, vou pra rua. Aqui pelo menos tem um teto. O prédio pode estar irregular, mas é melhor do que ficar em barraco ou na chuva. E não é mercado, não. É o nosso espaço, um monte de criança mora aqui.”

Mais uma operação busca drogas e objetos furtados no “Carandiru” de Campo Grande
Bar improvisado no térreo foi interditado por funcionar sem alvará (Foto: Paulo Francis)

Uma terceira moradora, de 47 anos, reclama que as operações acabam penalizando quem tenta viver de forma pacífica. “Tem muita gente que não tem nada a ver com o que os outros fazem, mas toda vez que acontece alguma coisa, a culpa cai em cima da comunidade. Aqui tem mãe de criança autista, gente com diabetes, vizinha que acabou de ter gêmeos. Ninguém aparece pra ajudar, só pra apontar o dedo. Quando é pra fazer festa pras crianças, ninguém vem. Mas quando tem operação, vem todo mundo.”

Promessas antigas, mesmo impasse - As moradoras também criticam a ausência do poder público. “A prefeita nunca botou o pé aqui. Prometeu casa digna, disse que iam remover a gente pra um lugar melhor, mas isso faz dois anos. A gente não quer casa de graça, quer pagar pela nossa. É mais barato construir moradia do que continuar com isso aqui abandonado.”

Segundo elas, 45 famílias vivem hoje no conjunto, muitas desde 2004. “A maioria trabalha o dia todo e volta à noite. O problema não é vontade, é falta de oportunidade”, resume uma das entrevistadas.

Histórico que se repete - O “Carandiru” é parte do antigo Residencial Atenas, invadido em 2005 após a falência da Construtora Degrau Ltda. Desde então, o prédio virou sinônimo de impasse: mistura de moradia precária, comércio improvisado e operações que se repetem.

Em junho de 2023, a operação “Abre-te Sésamo” já havia cumprido mandados em 46 apartamentos e aberto oito inquéritos por tráfico. Em setembro deste ano, a Justiça de Campo Grande transferiu o processo de reintegração de posse para uma vara de direitos difusos e coletivos, reconhecendo que o caso exige articulação entre Judiciário e poder público.

O despacho destacou que o prédio “não possui condições mínimas de habitabilidade segura” e que a desocupação isolada é inviável diante da falta de alternativas de moradia.

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