Enquanto Mounjaro é fortuna no Brasil, versão paraguaia circula sem restrição
Sem receita e sem perguntas, qualquer pessoa compra emagrecedor em farmácias de Pedro Juan Caballero

Enquanto milhares de brasileiros esperam maio para comprar legalmente nas farmácias o mais recente lançamento da indústria farmacêutica mundial para perda de peso, produto similar ao Mounjaro é vendido indiscriminadamente em farmácias do Paraguai.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Medicamento similar ao Mounjaro, para perda de peso, é vendido livremente no Paraguai, enquanto brasileiros aguardam sua chegada oficial em junho. O Lipoless, com o mesmo princípio ativo, custa dez vezes menos nas farmácias paraguaias, em comparação ao Mounjaro importado legalmente. A venda sem receita e a entrega em domicílio facilitam o acesso ao medicamento, levantando preocupações sobre riscos à saúde. Profissionais de saúde brasileiros alertam para os perigos do uso de medicamentos sem a aprovação da Anvisa. A falta de regulamentação e testes adequados pode acarretar efeitos colaterais graves e comprometer tratamentos. A facilidade de compra no Paraguai e a alta demanda criaram um mercado paralelo, com revendedores cobrando preços exorbitantes pelo Lipoless no Brasil.
Não precisa apresentar receita médica, os atendentes fornecem explicações sobre como usar o produto e tem estabelecimento que ainda entrega na casa do comprador, nas principais cidades de Mato Grosso do Sul, por uma pequena taxa extra de R$ 50.
O presidente do SinMed/MS (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul), Marcelo Santana demonstrou preocupação com o uso de medicamentos importados que não passaram pelo aval da Anvisa.
“Esses medicamentos podem apresentar riscos à saúde dos pacientes, pois não possuem a supervisão necessária para garantir a sua eficácia, segurança e qualidade. A falta de testes adequados e a ausência de informações claras sobre o seu uso podem levar a sérios efeitos colaterais e a complicações indesejadas, colocando em risco a saúde dos brasileiros”, afirmou, em nota.
Além disso, segundo Santana, a utilização de medicamentos sem registro na Anvisa fere a legislação brasileira e pode prejudicar a trajetória de tratamento adequado para os pacientes.
“É fundamental que os profissionais de saúde e a população estejam cientes da importância de optar por produtos que estejam devidamente regulamentados, pois isso assegura que os tratamentos prescritos sejam confiáveis e eficazes”.
Em farmácias de Pedro Juan Caballero, cidade separada por uma rua de Ponta Porã (MS), o Lipoless, que tem o mesmo princípio ativo do Mounjaro, custa R$ 540. A caixa tem quatro seringas, suficientes para um mês de tratamento.
O valor do produto vendido em território paraguaio é de um décimo do custo médio do Mounjaro importado de forma legal. Oficialmente, o medicamento Tirzepatida da farmacêutica Eli Lilly chega ao Brasil apenas em 7 de junho, apesar de ter sido aprovado pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) em 2023.
Usado no tratamento de diabetes tipo 2, o Mounjaro é a novidade para fazer frente ao Ozempic (Semaglutida) e já vem sendo indicado por médicos através do chamado “off label”, mas o custo do produto oficial impede o acesso para quem não tem dinheiro.
Essa, no entanto, não é a realidade da faixa de fronteira com o Paraguai. O Campo Grande News apurou nesta terça-feira (29) que a procura pelo “Mounjaro paraguaio” aumentou consideravelmente nas últimas semanas em farmácias de Pedro Juan Caballero.
“Temos o Lipoless, que é igual ao Mounjaro, e o Semaglix, igual ao Ozempic, que custa R$ 361 a ampola de 3 ml”, disse a vendedora de um desses estabelecimentos, em conversa por WhatsApp.
Lucro fácil – O sucesso dos emagrecedores milagrosos está fazendo muita gente ganhar dinheiro. Com a facilidade em adquirir produtos similares no comércio do país vizinho pela proximidade e pelo preço, até profissionais de clínicas de emagrecimento “importam” as versões paraguaias e revendem aos pacientes, cobrando até dez vezes mais.
Morador de Dourados que traz encomendas do Paraguai diz que os pedidos são frequentes desde o sucesso do Ozempic. “Donos de clínicas de emagrecimento são os que mais fazem encomendas. As clínicas fecham pacote de dois meses com os pacientes, cobram em torno de R$ 2 mil para aplicar enzima de emagrecimento. As pessoas vão uma vez por semana na clínica, recebem o medicamento, tiram as medidas do corpo”, conta o morador, na condição de não ter o nome revelado por medida de segurança.
Segundo ele, algumas farmácias até fazem entrega na casa do cliente, enviando os produtos através dos chamados “freteiros” – motoristas que fazem o percurso diariamente entre Ponta Porã e Dourados, por exemplo.
Em Campo Grande, o “Mounjaro paraguaio” também está dando lucro para os revendedores informais. Morador da Capital relatou ao Campo Grande News ter amigo que fornece o produto por valores entre R$ 3.500 e R$ 4.000, dependendo da dosagem.
Empresário também ouvido na condição de anonimato conta que é fácil encontrar os emagrecedores no comércio de Pedro Juan Caballero e até mesmo nas grandes lojas de importados, “até porque a venda lá não é proibida”.
Ele revelou que um amigo médico havia trazido 200 canetas de Tirzepatida numa quinta-feira e no dia seguinte só tinha duas disponíveis. Segundo o empresário, o Mounjaro verdadeiro é bem mais caro. Quando encontrado no comércio do Paraguai, custa em torno de R$ 3.500. “Aqui em Campo Grande tem médico vendendo por até R$ 9 mil uma caneta de 10 mg”.
De acordo com a PRF (Polícia Rodoviária Federal), apesar da grande procura por esses produtos, não há apreensões frequentes de emagrecedores. Os mais encontrados com “muambeiros” são o ácido hialurônico para preenchimento labial e o Lipostabil, injetável utilizado para combater tecidos adiposos no abdome, na cintura e nas coxas.
Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.