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Em Pauta

O processo judicial era uma enorme faca com cabo de prata

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 06/08/2025 07:10
O processo judicial era uma enorme faca com cabo de prata

Viviam os tempos da chamada República Velha, lá pelos idos dos anos 1.920. Em Bela Vista havia dois chefes políticos tradicionalmente rivais: Militão Loureiro e Simão Coelho. Eram os “coronéis", grandes proprietários de terra que controlavam a política através do “voto de cabresto”. Quando o Militão subia na política, o outro tomava o caminho de sua fazenda, deixava a cidade…e vice-versa.


O processo judicial era uma enorme faca com cabo de prata

O cargo de suplente de juiz ficou vago.

Certa vez estava por cima o Militão quando vagou o cargo de primeiro suplente de juiz. Militão obteve sua própria nomeação para o cargo. Por motivos políticos, o novo suplente entrou em choque com o juiz Cordeiro de Lima, aliado do Simão. O Militão não demorou a reagir aos ataques do juiz. Escalou dois de seus homens, o Horácio e o Alemão Preto e ordenou-lhes: “vão lá na casa do juiz e surrem-no bastante”. Chegaram na casa do juiz e meteram bala. O juiz foi ferido levemente. Logo depois do tiroteio, Militão saiu à calçada e encontrou com os dois capangas. Os homens garantiram que haviam “feito o serviço”. “ Então passe para o Paraguai”, respondeu Militão. Estava armada a encrenca.


O processo judicial era uma enorme faca com cabo de prata

O delegado era aliado do Militão.

O juiz resolveu retirar-se para tratamento em outra cidade. O delegado era pessoa ligada ao Militão, mas estava obrigado a fazer o inquérito policial. E na falta do juiz, o Militão, seu suplente, assumiu o poder judiciário local. O Simão não se conformava com o fato do processo não andar. Denunciou, com grande celeuma, o emperramento processual.


O processo judicial era uma enorme faca com cabo de prata

A chegada do Delegado Especial.

Afinal, chegou um Delegado Especial em Bela Vista com a incumbência de dar celeridade ao processo. Era um advogado recém-formado e reconhecidamente tímido. Ao chegar em Bela Vista foi festejado pela turma do Simão. O Militão resolveu visitar o Delegado Especial e quando cobrado, afirmou que o processo estava em sua casa “por segurança”. E convidou: “daqui a meia hora eu o espero em minha casa, vamos tomar um café e o senhor verá o processo”. O Delegado Especial, zangado, perguntou-lhe: “o senhor já abriu o sumário?”


O processo judicial era uma enorme faca com cabo de prata

O sumário era uma “sumária”.

Quando o Delegado Especial chegou na casa do Militão, foi convidado ao escritório e apresentado a uma enorme faca, com bainha e cabo de prata. “Aqui está! Não o sumário que o senhor está me exigindo, para fazer o jogo dos meus contrários, mas a “sumária”, com a qual mando “sumariar” os indivíduos quando me querem desmoralizar”, disse o Militão. Não precisa dizer que o Delegado Especial não amanheceu na cidade. Foi embora. E os que morreram foram o processo e o célebre “sumário”.

 

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