Crise no governo Temer leva dólar à maior alta desde maxidesvalorização de 1999
O dólar marcou nesta quinta-feira, 18, a terceira maior alta da história ante o real, perdendo apenas para os dois episódios registrados durante a maxidesvalorização vista em janeiro de 1999, quando o Brasil abandonou o regime de bandas cambiais.
O escândalo envolvendo o presidente Michel Temer e uma possível anuência para a compra do silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha ainda pode levar à queda do governo e, mesmo que isso não aconteça, certamente prejudicará o andamento das reformas estruturais.
O dólar à vista no balcão subiu 8,07%, fechando a R$ 3,3868, o maior nível desde 16 de dezembro do ano passado. A alta porcentual só perde para 15 de janeiro (+11,10%) e 13 de janeiro (+8,91%) de 1999. O giro registrado pela clearing de câmbio da B3 foi de US$ 2,056 bilhões, bastante forte para a média recente O dólar futuro para junho avançava 7,42% por volta das 17h15, a R$ 3,3805. O volume de negócios era de US$ 30,195 bilhões.
O mercado de câmbio já abriu estressado e o dólar futuro entrou em leilão diversas vezes durante o pregão. A B3 informou que, exclusivamente para o pregão de hoje, expandiu os limites de negociação para os contratos futuro e mini de câmbio dos atuais 6% para 9% sobre o ajuste anterior.
No meio da tarde, quando surgiram rumores de que Temer poderia renunciar, a moeda norte-americana bateu mínimas, mas ainda assim com valorização de quase 6%. Pouco depois, o presidente veio a público, se defendeu das acusações e disse veementemente que não vai deixar o cargo por livre e espontânea vontade.
Com o mote de "não podemos deixar o País parar", Temer alegou que as reformas estavam avançando e que os indicadores econômicos já começaram a melhorar. "Todo esse esforço não pode ser jogado no lixo", comentou. Ele reforçou que não autorizou ninguém a comprar o silêncio de ninguém e disse desejar uma investigação plena e rápida. "Essa situação de dúvida não pode persistir. ... A investigação do STF será o território onde surgirão explicações", afirmou.
Nas cinco operações cambiais realizadas pelo BC hoje, a instituição negociou com o mercado um total de 88.000 contratos de swap (US$ 4,400 bilhões). Foram quatro leilões extraordinários, além da rolagem dos contratos que vencem em junho, que já estava prevista.
No fim da tarde, o presidente da autoridade, Ilan Goldfajn, comentou que tem usado os instrumentos disponíveis e trabalhado para atravessar esse período. Mais cedo, fontes da equipe econômica haviam afirmado que a primeira linha de defesa é mesmo o swap e, depois, leilões de linha. A mesma fonte comentou que seria "legítimo" usar as reservas internacionais, a exemplo do que aconteceu em 2008, com a crise financeira internacional.