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Economia

Home office pode ser alternativa contra greve, mas comerciantes ainda resistem

CDL estima prejuízo de R$ 10 milhões por dia ao comércio

Por Izabela Cavalcanti e Maria Gabriela Arcanjo | 17/12/2025 12:28
Home office pode ser alternativa contra greve, mas comerciantes ainda resistem
Consumidora olhando roupas em loja na Rua 14 de Julho (Foto: Henrique Kawaminami)

A greve dos motoristas de ônibus, que já chega ao 3° dia consecutivo em Campo Grande, tem obrigado o comércio a reagir da forma que podem. Iniciada no dia 15 de dezembro, a paralisação acontece em um dos períodos mais estratégicos do ano para o setor e já provoca mudanças rápidas na rotina dos lojistas, que devem começar a recorrer ao home office como alternativa para manter as atividades e não gastar tanto com o transporte alternativo.

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A greve dos motoristas de ônibus em Campo Grande, iniciada em 15 de dezembro, tem forçado o comércio local a buscar alternativas como o home office. Cerca de 20% dos comerciantes já adotaram o trabalho remoto, segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas, embora a medida seja limitada pela natureza presencial do varejo. O impacto econômico é significativo, com perdas estimadas em R$ 10 milhões diários, podendo chegar a R$ 12 milhões com a proximidade das festas. A paralisação, motivada pelo não pagamento integral dos salários, ocorre em momento crucial para o varejo, que esperava movimentar R$ 194 milhões nas compras natalinas.

A adoção do trabalho remoto foi uma das primeiras medidas articuladas pela CDL-CG (Câmara de Dirigentes Lojistas de Campo Grande), que desde o início da mobilização vem realizando reuniões diárias com empresários para avaliar os impactos reais.

Em um encontro virtual realizado na terça-feira (16), cerca de 200 comerciantes participaram do debate e 20% deles informaram que já estão colocando parte dos colaboradores em home office.

“A maioria das empresas que tem condições de fazer home office já está fazendo, isso foi uma das primeiras ações que fizemos”, afirmou o presidente da entidade, Adelaido Vila.

Apesar da medida, o cenário não é simples. Vila lembra que nesta época do ano, é comum que funcionários do setor administrativo, por exemplo, sejam deslocados para reforçar o atendimento presencial nas lojas, justamente por conta do aumento da demanda.

“Quando chega uma data como essa, como tem escassez de atendimento, geralmente pega colaborador do administrativo para reforçar o atendimento. Estamos com mais de 2 mil vagas abertas só no nosso setor”, destacou.

O proprietário de uma loja de roupas na Rua Marechal Rondon, Francisco Soares, disse que está com metade do efetivo, sendo que uma funcionária está trabalhando de casa e outras três foram dispensadas. Outros sete ainda estão presencialmente.

"Uma eu considero como home office, porque atende algumas coisas do celular. Mas, mesmo assim, ainda não é o nosso foco, porque é muito presencial. As demais eram freelancer e tivermos que demitir, não tem o que fazer. Estamos com metade do efetivo, devido não compensar o custo do transporte e as fracas vendas", relatou.

O Campo Grande News percorreu, pelo menos, 10 lojas pelo Centro, nas quais os empresários disseram que não tem como fazer home office por agora.

Em uma loja de roupas na Rua 14 de Julho, a proprietária Marta Araújo disse que não tem como colocar funcionário para trabalhar de casa. “São peças de roupa. Os clientes têm que vir até a loja e a gente mostrar, até mesmo porque eu não tenho e-commerce, eu só tenho loja física. Não dá para perder venda, mas também a gente não tem fluxo de pessoas na rua. E agora, com essa paralisação dos ônibus, não sei como que vai ser nossas vendas para o Natal”, lamentou.

A supervisora de vendas, Valdineia Gomes, trabalha em uma loja de aviamentos no Centro. Para ela, trabalhar de casa ainda se torna inviável. "No nosso segmento não tem como fazer de trabalhar em home office. No financeiro são os donos, então eles vem", disse.

Home office pode ser alternativa contra greve, mas comerciantes ainda resistem
Valdineia dando entrevista ao Campo Grande News (Foto: Henrique Kawaminami)

Ainda de acordo com ela, para alguns funcionários a empresa está pagando motorista ou está indo buscar em casa com o carro da loja.

"Quando o carro vai buscar, já vem quatro de uma vez só, então facilita. A situação está bem complicada, tanto para os funcionários que estão vindo, outros que não puderam vir. Tem funcionário que não veio, pelo trajeto de ter que levar filho na babá e vir", explicou.

Crise - O impacto econômico da greve já é significativo. Segundo estimativa da CDL, a paralisação provoca uma perda aproximada de R$ 10 milhões por dia na economia local até quinta-feira (18). A partir daí, o prejuízo deve aumentar para cerca de R$ 12 milhões diários, impulsionado pelo pagamento do 13º salário e pela proximidade das festas de fim de ano.

Mais do que manter os trabalhadores ativos, o grande desafio do comércio também tem sido atrair os consumidores.

“O que estamos buscando fazer é tentar trazer o trabalhador para o espaço de serviço. Mas também estamos pensando como trazer cliente. O grande desafio está sendo trazer o cliente, ontem passando pelo Centro estava praticamente vazio”, relatou o representante da CDL.

A greve ocorre em um momento considerado crucial para o varejo da Capital. Um levantamento divulgado no início de dezembro apontava que 77,5% das compras de Natal seriam feitas de forma presencial, com expectativa de movimentação de R$ 194 milhões no comércio local. Com menos ônibus circulando, a redução no fluxo de pessoas ameaça diretamente esse cenário, além de impor custos adicionais às empresas.

A ACICG (Associação Comercial e Industrial de Campo Grande) manifesta indignação e repúdio diante da continuidade da greve do transporte coletivo, que já impõe prejuízos significativos ao comércio local.

“Desde o início da paralisação, empresários têm relatado ausência significativa de trabalhadores, atrasos na abertura das lojas, queda nas vendas, dificuldades na entrega de mercadorias e aumento expressivo dos custos operacionais. Cabe ressaltar que o empresário já cumpre, por força de lei, o custeio do vale-transporte e, ainda assim, diante da greve, está sendo novamente penalizado ao arcar com despesas adicionais para manter o funcionamento das empresas, como transporte alternativo, reorganização de escalas e flexibilização de horários — soluções paliativas que não podem ser tratadas como permanentes”, diz parte da nota.

Ainda de acordo com a ACICG, será ampliado o diálogo com outras entidades representativas do setor empresarial e “não descarta a adoção de instrumentos legais cabíveis para defender os interesses do comércio e da economia local.”

Home office pode ser alternativa contra greve, mas comerciantes ainda resistem
Centro de Campo Grande com poucos consumidores nesta quarta-feira (Foto: Henrique Kawaminami)

Entenda - A greve dos motoristas de ônibus foi decidida em assembleia no dia 11 de dezembro, após o não pagamento integral dos salários da categoria, que deveria ter ocorrido no dia 5 de dezembro.

Já no dia 12 de dezembro, o Consórcio Guaicurus informou ter efetuado o pagamento de 50% dos salários devidos, mas a medida não foi suficiente para suspender a paralisação.

Durante coletiva de imprensa nos dias 15 e 16 de dezembro, a Prefeitura de Campo Grande afirmou que o pagamento havia sido feito o repasse de R$ 3 milhões.

Na audiência de conciliação, que foi realizada nesta terça-feira, no TRT-24 (Tribunal Regional do Trabalho da 24ª Região), o diretor-presidente do Consórcio Guaicurus, Themis Oliveira, foi questionado sobre os recursos repassados pela Prefeitura. Ele confirmou que o município efetuou o repasse na sexta-feira (12), mas admitiu que o valor não foi direcionado prioritariamente para o pagamento da parcela salarial atrasada dos motoristas.

Segundo Themis, o consórcio enfrenta uma situação financeira mais ampla e complexa, e o pagamento de salários, por si só, não garantiria o retorno imediato dos ônibus às ruas. “Hoje o consórcio não tem caixa disponível para pagar essa outra parcela de 50%. Confirmo [o depósito da prefeitura], mas é preciso olhar isso de uma maneira maior. Só salário não faz a frota ir para rua. Eu tenho que pagar diesel, pagar peça e uma série de questões”, disse.

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