Rock transforma intervalo de alunos do noturno em escola pública
No retorno das férias, estudantes do ensino noturno foram recebidos com show ao vivo e muita energia
Na noite de terça-feira, o pátio da Escola Estadual Joaquim Murtinho virou palco para algo além das aulas e provas. No retorno das férias de meio de ano, os estudantes do ensino noturno foram recebidos com guitarra, bateria, letras autorais e muita energia.
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Foi a primeira parada do projeto 'Vem pro Pátio – Leca Harper & A Cozinha Cabeluda', que vai circular por quatro escolas públicas da Capital, levando música ao vivo e o recado importante de que a arte é uma forma de expressão e pode ser respiro para quem vive a correria da vida estudantil noturna.
A ideia cheia de significado nasceu da inquietação de quem conhece por dentro a realidade das escolas. Professora da rede estadual, Leca Harper, que também é vocalista da banda, idealizou o projeto ao perceber o quanto os alunos da noite costumam ser esquecidos pelas ações culturais.
"Já fizemos circulação nos outros períodos e notamos que o noturno ficava um pouco sem receber ações. Geralmente é uma galera que trabalha, está cansada, e não tem acesso à cultura como quem estuda em horário comercial. Por isso criamos esse projeto", explica.
E a estreia contagiou o público e alcançou o objetivo esperado. “A recepção dos alunos é sempre calorosa. No começo, eles ficam um pouco acanhados, mas logo entram no clima. Para muitos, é o primeiro contato com música ao vivo, e isso abre outras possibilidades de fruição artística, fora dos ritmos que estão na mídia”, comenta Leca.
Além do Joaquim Murtinho, a turnê escolar ainda vai passar pelas escolas Orcírio Thiago de Oliveira, na Vila Progresso, Adventor Divino de Almeida e Arlindo de Andrade Gomes, no bairro Santo Amaro. Os encontros acontecem uma vez por mês, com previsão de encerramento em novembro, quando o grupo pretende apresentar uma nova proposta para dar continuidade ao projeto em 2026.
Além do entretenimento, o Vem pro Pátio quer provocar reflexões e, principalmente, abrir espaço para que os jovens se expressem. “A escola é múltipla. Sempre tem um aluno que se identifica com algo. Isso enriquece nossa troca. Eu acredito que a arte, qualquer uma, seja dança, pintura, leitura, escrita, é um caminho para aliviar a pressão. A gente precisa mostrar que existe uma saída saudável”, pontua.
Ela conta que foi ainda na adolescência que conheceu o poder transformador da música. “Comecei a tocar no ensino médio. Foi isso que me livrou de ser só uma nerd no canto. Me deu grupo, pertencimento”, avalia.
Quem também subiu ao palco na escola foi Guilherme Napa, baterista e vocal da banda, que pode reviver sua própria trajetória musical. “Comecei a tocar com 12, 13 anos, em escolas também. Hoje, voltar a esses espaços é nostálgico e importante. A gente vive uma realidade onde quase não se vê mais banda de garagem. Os jovens não têm incentivo para aprender um instrumento”, comentou.
Para ele, apresentar o rock autoral para um público jovem, acostumado com os hits das plataformas digitais, é uma missão quase pessoal. “Campo Grande é conhecida como a capital do cover. Então mostrar nosso som autoral é essencial pra cena local. Além disso, quem está aqui é quem consome e esse é um jeito de chegar neles”, defendeu.
Gabriel Silva, que completa o trio no baixo, viveu no Joaquim Murtinho sua primeira experiência musical em uma escola. “Geralmente toco na noite, então tocar aqui é diferente. Hoje em dia tem muita música sem instrumento, muita coisa eletrônica. É muito legal mostrar como funciona um baixo, uma guitarra, poder despertar curiosidade”, relata.
Com 27 anos e estudante de música na UFMS, ele acredita que o projeto serve como uma ponte entre gerações. “Tocamos músicas que aprendi com meus pais e agora repasso pra eles. É uma troca”, analisa.
Essa troca, inclusive, é o combustível do projeto. “Às vezes você não toca o coração de todo mundo, mas se um só se conectar com aquilo, já valeu e faz a diferença”, resume Leca.
Com patrocínio da Lei Paulo Gustavo via Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, o Vem pro Pátio mostra que é possível transformar um intervalo comum em uma experiência transformadora. "A música tem esse poder e eu sou prova disso. Se tirar a música de mim eu me torno uma pessoa triste", finaliza Leca.
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