Aposentado por obrigação, Antônio quer novo trabalho aos 83 anos
Lei Federal obrigou saída dos Correios e aposentado agora luta por nova chance no mercado de trabalho
No dia 31 de julho deste ano, Antônio Malheiros Neto, de 83 anos, encerrou oficialmente um ciclo de 17 anos nos Correios, onde passou por quase todos os setores: administrativo, coleta, triagem e entrega. “Os últimos 10 anos trabalhei tanto que não tive tempo nem de envelhecer. Minha meta era parar só quando fizesse 90 anos, porque me sinto com um vigor que cada dia que passa fico mais novo”, resume.
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Mesmo aposentado e já 80+, ele não pensa em sossegar e tenta de tudo para voltar ao mercado. “Eu não quero parar, porque se eu parar, eu perco o pique. Mas arrumar um trabalho com 83 anos está sendo muito difícil”, explica.
O vigor vem de uma vida inteira dedicada ao esporte. Professor de educação física, foi técnico de basquete em Corumbá, diretor do Corumbaense e até jogador profissional, chegando a atuar pelo Botafogo do Rio e conquistar o título de campeão brasileiro em 1967.
“Eu nunca parei com a atividade física. Acho que é isso que garantiu a disposição até hoje. Eu acordo às 5h, pego a bicicleta, vou me exercitar e ainda corro no Belmar Fidalgo nos finais de semana”, conta.
Natural de Corumbá, Antônio se mudou para Campo Grande em 1999, depois de encerrar a carreira como professor. Tentou voltar à área, mas esbarrou na idade. “Eu já tinha 65 anos e aqui formavam 300, 400 professores de educação física por ano. Experiência eu tinha, mas com 65 era muito difícil arrumar vaga”, relata.
Foi então que, em 2007, prestou concurso para os Correios. Passou em segundo lugar. “Com 65 anos, foi um caso inédito. Muita gente dizia que eu não podia mais trabalhar, mas entrei com pedido para assumir a vaga com base no Estatuto do Idoso. Fiquei lá até me obrigarem a sair agora, por causa da lei que impede quem tem mais de 75 de trabalhar em empresa federal. Isso é absurdo. Hoje em dia todo mundo fala em valorizar a terceira idade e vem uma lei dessas”, critica.
A demissão compulsória foi um baque. Além da perda financeira do salário e benefícios, o que mais pesa é a falta da rotina. “Eu era o primeiro que chegava e o último que saía. Em dez anos nunca faltei um dia. Eu não esperava ser dispensado assim", avalia.
Hoje, ele divide os dias entre o curso superior em Processos Gerenciais, no qual está no último semestre, e as aulas informais de basquete que oferece como voluntário no Belmar. Mas não se conforma em ficar apenas nisso. “Eu tenho um estúdio montado, tenho curso de computação, de manutenção de computadores. Já tive loja, academia, fui professor, trabalhei com som, com propaganda. Posso atuar em várias áreas. Só quero uma oportunidade", afirma.
Com uma memória afiada, Antônio guarda lembranças preciosas. Foi interno no Colégio Marista de Poços de Caldas, onde em 1958 a Seleção Brasileira treinou antes de conquistar a primeira Copa do Mundo. “Eu era chamado de Corumbá pelos jogadores. Jogava bola com eles, inclusive com o Pelé. Isso é uma coisa que levo para a vida”, lembra.
Ele também já recebeu moção de reconhecimento na Câmara Municipal de Campo Grande pelos serviços prestados como professor e como funcionário dos Correios. Mas, para ele, o maior reconhecimento seria poder continuar ativo. “Posso ter o melhor currículo do mundo, posso ser um super-homem, mas tenho 83 anos. A idade pesa. Ainda assim, eu só queria que me dessem a chance de mostrar que posso contribuir”, diz.
Com vários planos ainda em mente, Antônio insiste que parar não é um deles. “Eu queria parar só com 90 anos. E até lá, se depender de mim, vou continuar correndo atrás”, finaliza.
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