Buscar diagnósticos com IA pode acabar até em crises de pânico
Você pesquisa seus sintomas na internet? Psicóloga explica que o hábito pode ser armadilha; saiba tudo
Quem nunca sentiu uma dor no corpo ou algo fora do normal e correu para a internet para ver o que poderia ser? Ninguém escapa do medo e do impulso de buscar um diagnóstico dado pelos “falsos médicos virtuais”. Se antes a pesquisa era alimentada por consultas incessantes ao “Dr. Google”, agora ela ganha uma nova roupagem na Inteligência Artificial. Quando a busca pelas possíveis doenças vira rotina, o nome dado é hipocondria digital.
O ato pode parecer um alívio momentâneo, mas pode desencadear crises de ansiedade e até de pânico. Ou seja, o que era para ser auxílio virou gatilho. Quem explica melhor é a psicóloga Cristiane Lang.
Você está com dor no peito? Pode ser ansiedade. Ou uma embolia pulmonar. Em menos de três segundos, o chatbot de saúde jogou essas opções na tela. O coração dispara, não por causa da suposta embolia, mas pelo abismo da incerteza. A mente entra em colapso, e o corpo acredita. Bem-vindo ao novo transtorno que ninguém está diagnosticando oficialmente, mas que está em toda parte: a hipocondria digital.
Vivemos em uma era marcada pela velocidade. Tudo acontece em tempo real: a comunicação, o consumo, as informações. A saúde também entrou nesse ritmo. Com a chegada da inteligência artificial aos sistemas médicos, a promessa é clara: diagnósticos mais rápidos, eficientes e acessíveis. Mas com essa promessa surge um novo fenômeno silencioso e crescente, que é a ansiedade provocada pela busca imediata por diagnósticos, muitas vezes sem mediação humana.
A psicóloga não nega que as ferramentas podem ter contribuído com a medicina, mas ressalta que ela não considera o fator mais importante em uma consulta: o ser humano. Por mais que a tecnologia avance, ela ainda não consegue compreender o aspecto mais delicado da prática médica, como a complexidade emocional, por exemplo.
Muitos pacientes, ao sentirem um sintoma, buscam na IA a resposta que desejam evitar ouvir de um médico: “O que eu tenho?”. Aplicativos que analisam sintomas, sites de autodiagnóstico e chats com inteligência artificial estão ao alcance de um clique. Em questão de segundos, a pessoa pode se deparar com uma possível doença grave. E é aí que o medo se instala, muitas vezes de forma desproporcional à realidade clínica.
Ou seja, em vez de aliviar, essa busca por respostas rápidas pode gerar um ciclo vicioso de insegurança e pânico. Afinal, a IA entrega possibilidades, não certezas. E sem um profissional de saúde para contextualizar o resultado, o paciente fica à mercê da própria interpretação, que quase sempre é tomada pelo medo.
Essa hipocondria digital se manifesta na busca obsessiva por diagnósticos, no desejo de “decifrar” o corpo a todo custo, como se o mal pudesse ser antecipado, evitado ou controlado pela tecnologia. A cada nova pesquisa, a ansiedade aumenta. A pessoa sente que está doente mesmo sem confirmação. E mesmo após consultas reais com médicos, continua desconfiada, achando que “talvez a IA tenha visto algo que o médico não viu”.
Segundo a psicóloga, o processo de um diagnóstico é multifatorial. Envolve escuta, empatia, interpretação do histórico pessoal e familiar e, muitas vezes, um suporte emocional essencial.
Na ânsia por respostas tecnológicas, esquecemos que ser humano é mais do que ser biológico. O sofrimento não se limita aos exames; ele se manifesta no modo como se vive a espera, o susto, o medo e a esperança.
Como usar a IA com responsabilidade na saúde
Cristiane pontua que não é preciso abandonar o uso da IA, mas aprender a usar com responsabilidade. Entender que ela não substitui profissionais qualificados e que é apenas uma ferramenta.
A ansiedade por diagnósticos pode ser um reflexo de algo mais profundo, como medo da morte, necessidade de controle, traumas passados. Psicoterapia pode ser uma grande aliada nesse processo.
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