Simone chutou o azar e fez padaria dar certo na frente de cemitério
Contra todas as apostas, há 7 anos ela, o marido e a mãe provaram que o sonho deu certo

Sentada em frente à padaria que construiu com esforço e ajuda do marido e da mãe, Simone Albuquerque, de 42 anos, olha com normalidade para a paisagem nada convencional. O imóvel fica na frente do cemitério Santo Amaro e, apesar de o lugar ser o fim de muitos sonhos, do outro lado da rua foi ali que eles começaram.
Ela conta que, durante muitos anos, as pessoas duvidaram que a padaria daria certo, já que outros empreendimentos não foram para frente no endereço. Anos antes da construção, o local era abrigo para pessoas em situação de rua.
“Era um ponto que ninguém acreditava, sempre foi muito feio e, conforme o tempo foi passando, não tinha locador. Só que era um ponto que eu e meu marido passávamos, e ele falava assim: olha, um dia eu vou ter esse ponto, um dia eu quero esse ponto. E foi assim, procuramos o dono e conseguimos. Isso tem 7 anos.”
Embora os comentários tenham chateado no começo, hoje a proprietária diz não se abalar, pois, para ela, o imóvel é a prova de que não existe lugar certo ou errado quando se trabalha com verdade e dedicação para conquistar o público.

“Antes tinha esse tabu de padaria em frente ao cemitério, tem gente que tinha medo por algo com água, que não existe. Elas sempre duvidaram se iria dar certo. Escuto isso até hoje, falando que não iria vingar. Tem um dia do ano que o cemitério enche, então naquela semana aumenta o fluxo de clientes, mas confesso que não vivo pelo cemitério. Ali tem pouco enterro também. A única coisa é que no Dia de Finados tem esse aumento.”
O marido de Simone, Adriano de Moura Gouveia, de 51 anos, faleceu há 8 meses por câncer. A doença não deu sinais claros, e ele partiu com 7 meses de tratamento. Ele foi uma das pessoas que mais acreditou no sonho da esposa em montar uma padaria e até ajudou na construção, literalmente. Ele meteu a mão na massa para erguer as paredes.
“Quando descobrimos, já tinha metástase. Ele foi a pessoa mais fundamental na minha vida. Ainda é muito complicado. Eu era dona de casa. Na verdade, era autônoma, vendia roupa e trabalhava. Ele se desligou para entrar nessa. Então, tudo que ele tinha de capital, ele investiu na padaria também".
Ela conta que no começo Adriano queria montar uma conveniência, mas logo foi convencido pela esposa de que ali merecia ser algo mais.
"Porque a gente sabia que o bairro aqui não tinha nenhuma estrutura legal. Então, através de um sonho de casal, de ter o seu próprio comércio, veio a ideia da padaria, que hoje eu tenho certeza que foi a melhor escolha.”

Para construir, foi preciso um financiamento no banco. Simone conta que a padaria patinou por pelo menos dois anos e meio até as coisas se estabilizarem. O marido precisou sair da padaria para voltar a trabalhar fora. O intuito era levantar dinheiro e manter a família.
“Foi muita persistência, foi muito trabalho para conseguir alavancar ela. Na época, estava no auge da energia solar. Então, o Adriano começou vendendo energia solar, foi para o Paraná, fez um curso, voltou. Um ano e meio depois, ele conseguiu a franquia e montou a própria empresa dele.”
A sociedade com a mãe, Marilene Albuquerque, veio depois de uns anos. Simone conta que ela e o marido sempre falavam em como ajudar os pais na velhice. “Ela é minha grande companheira. Toda essa fase da padaria, de altos e baixos, foi sempre nós duas juntas. Então, a gente sempre trabalhou muito juntas. E aí meu pai e o Adriano foram dando o contexto por fora, nos acompanhando por fora.”
No cardápio, alguns itens se destacam, como a chipa recheada com presunto e queijo, o bolo de laranja caseiro e o frango à parmegiana. Segundo ela, o intuito foi levar a cara de padarias de bairros mais caros com o preço de uma padaria popular. A junção tem dado certo.
A Padaria Pão e Prosa fica na Avenida Presidente Vargas, 1873, no bairro Vila Santo Amaro. O local funciona das 6h às 19h, de segunda a sábado, e das 6h às 12h aos domingos. Além das comidas típicas de uma padaria, o estabelecimento também conta com marmitex, ilha para self-service e cardápios variados. A chipa custa R$ 8, o bolo, R$ 41,90 o kg e a parmegiana pode ser consumida no prato feito a R$ 22 e no almoço por kg R$53,90.
Confira a galeria de imagens:
Acompanhe o Lado B no Instagram @ladobcgoficial, Facebook e Twitter. Tem pauta para sugerir? Mande nas redes sociais ou no Direto das Ruas através do WhatsApp (67) 99669-9563 (chame aqui).
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.