Hipólito construiu casa da família com manual enviado pelos Correios
Para economizar e se virar sozinho, ele conta que manual de carros também o salvou em muitos consertos
Na “rua da Câmara”, em Porto Murtinho, a casa de Hipólito Soares da Silva é uma das quatro projetadas e construídas pelo aposentado. Falando assim, a história parece comum, mas o ritmo da conversa muda quando ele conta que aprendeu o passo a passo graças a um manual recebido pelos Correios.
E a narrativa melhora: não são só as casas que ganharam “vida” graças às instruções; outro livro do mesmo gênero também garantiu que Hipólito se virasse sozinho com seu carro e economizasse com os consertos. Então, se você está aí jurando que os tutoriais do Youtube e TikTok são grandes inovações, dê uma olhada nessa história de bem antes da internet.
“Quando a gente veio para cá, tinha só o terreno e levantamos uma casinha de madeira para a nossa família. Isso foi em 1960 e era bem simples. Depois, com o tempo, meu irmão ficou na prefeitura e eu era um dos secretários. As pessoas vinham aqui em casa e não tinha lugar para a gente conversar”, introduz.
Foi nesse contexto que Hipólito decidiu que ele mesmo iria melhorar a situação. Sem formação ou dinheiro para contratar alguém, a ideia foi comprar o tal manual em 1985.
A encomenda era feita em contato com São Paulo e levava algumas semanas até chegar em Porto Murtinho. Com o livro em mãos, o morador fez a leitura, desenhou a casa como imaginava e seguindo as orientações das páginas.
Em geral, os objetivos principais eram conseguir levantar as paredes de concreto, fazer uma sala grande e ter uma varanda espaçosa para receber as visitas.
“Tinha um parente meu que levantava parede em Campo Grande. Eu projetei a casa, desenhei tudo e chamei ele para me ajudar a fazer aqui. E para você ver que deu certo, depois construí outras casas para a minha família aqui em volta”.
Como o manual do construtor foi funcional, Hipólito também comprou um livro do tipo para arrumar seu carro. Ele conta que já estava cansado de deixar o veículo no mecânico e resolveu aprender sobre os problemas mais comuns.
Depois disso, as idas ao profissional ficaram restritas a apenas situações mais complexas.
Animado em aprender, Hipólito nunca negou conhecimento e, além de se basear nos livros, também investiu naquilo que conseguia saber testando. Por exemplo, ele explica que o solo de Porto Murtinho precisa ser tratado para se tornar fértil, em geral.
Como sempre gostou de plantações, quis ter sua horta no quintal de casa. Com as folhas das árvores Sete Copas compõe substratos que são inseridos na terra. E vai utilizando outros “ingredientes” naturais para melhorar.
“Dá trabalho, mas faz bem para quem gosta. E outra coisa, se você fica aposentado sem fazer nada, começa a se adoentar. Então eu cuido da horta, fico com meu cachorro, cuido da casa e vou vivendo assim o dia”.
Ali, na casa em que construiu, vai guardando as memórias e, assim como fez conosco, aproveita para contar as histórias da cidade.
Mantém, por exemplo, as lembranças de quando Porto Murtinho viveu sua primeira enchente. “Ninguém acreditava que ia alagar tudo, as pessoas davam risada. Até que o Rio Paraguai foi aumentando e invadiu a cidade”.
O tempo passou e, longe de ver a cheia se manter, o morador narra que o nível do rio segue diminuindo. As casas antigas também foram se desfazendo e, hoje, quem faz questão de contar as histórias é que mantém a alma de Porto Murtinho viva.
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