Após 19 anos na indústria, Ângela viu em brechó a cura para sua depressão
Hoje ela também ajuda outras mulheres que buscam mudar de vida e passam pelo mesmo dilema

Por muitos anos, a rotina de Ângela Cristina Oliveira Félix foi vestir o uniforme de líder de produção em uma indústria. Foram 19 anos de dedicação, até que um peso invisível começou a tomar conta. “No meio do caminho, acabei descobrindo uma depressão”, conta. Mesmo com o apoio da ex-patroa, que sugeriu um tempo de licença para cuidar da saúde mental, Ângela percebeu que não conseguiria voltar.
Em meio ao tratamento com remédios e terapias, ela buscava um fio de esperança para retomar a vida. Foi então que surgiu a ideia salvadora. “Eu já mexia há algum tempo com roupas usadas, e minha irmã me lembrou que eu gostava disso e deveria investir em um brechó”, lembra.
Foi nesse momento que a chave virou. O que começou como uma forma de ocupar a mente se transformou em um verdadeiro renascimento. “Comecei a me dedicar, a garimpar, e fui pegando gosto. Aí percebi que minha cabeça estava melhorando”, explica.

A paixão por dar vida nova às roupas logo se expandiu. Vieram os grupos de venda, as feiras em Campo Grande e, junto com as araras cheias de peças, histórias começaram a se misturar.
“Você acaba encontrando outras mulheres na mesma situação e, nesse contato, surgem trocas. Encontrei pessoas com histórias até piores que a minha”, conta.
Ângela faz questão de acolher cada cliente e colega de banca. “É muito gratificante. É um trabalho em que encontro pessoas comuns, cada uma com o seu leão diário”, explica. Para ela, o brechó se transformou em terapia, conexão e ajuda coletiva.
"Sinto que faz bem pra mim e consigo fazer o bem para quem cruza meu caminho. Tem a troca, tem a alegria e tem a companhia. É uma coisa muito fantástica mesmo", resume.
Desde 2021, quando decidiu se jogar de vez no mundo do brechó, Ângela sente que encontrou o seu lugar no mundo. "Eu falo que foi a cura da minha cabeça. Minha filha sempre diz que gosto tanto que se tornou uma diversão, e eu realmente não sinto que é um trabalho", relata.
A rotina é intensa e cheia de amor. "Segunda é um dia que eu gosto de sair para garimpar. Eu visito brechós, bazares, procuro peças que às vezes está jogadinha, que ninguém dá nada por ela. Eu trago para casa, lavo, passo e dou uma cara nova", detalha.
Terça é dia de curadoria, quarta-feira ela começa a postar nos grupos e no Instagram, e a partir daí a roda gira. Ela vende, entrega, atende, reposta. "Praticamente todos os sábados tem uma feira em Campo Grande e eu participo", conta.
"Nessa rotina eu sempre dou a mão para quem precisa. Já arrastei várias meninas comigo para feiras. Quem está na dúvida de entrar na área eu sempre digo que é um nicho que tem espaço para todo mundo, não tem essa coisa de competir", afirma.
Em casa, Ângela também abriu espaço para receber clientes. Para quem não pode ir ao local, ela começou a fazer lives, transmitindo a energia boa do brechó para as telas.
Para completar o novo estilo de vida, o projeto ainda deu origem a um varal solidário. "A gente montou um varal solidário que já tem uns dois anos. A gente colocou uma placa no Bairro onde minha mãe mora, que tem uma comunidade carente. Lá está escrito: 'Pegue o que precisar e doe o que puder'. Todas as peças que a gente não vende no brechó, levamos para colocar lá", conta.
A cada roupa vendida ou doada, Ângela diz que tem a sensação de renascimento. "Minha maior gratidão é pela minha família, que me apoiou muito. No auge do fundo do poço, eles jogavam a corda, desciam e me motivaram a sair daquele lugar'. Eu devo muito a eles. Hoje sou a prova de que se você tem quem te apoia, quem te incentiva, não tem como dar errado", finaliza.
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