Prefeito de Terenos usou porcos, touros e imóveis rurais em esquema de lavagem
Henrique Budke teria criado fachada agropecuária milionária para disfarçar recursos de fraudes e propinas
A denúncia apresentada pelo Ministério Público de Mato Grosso do Sul detalha como o prefeito de Terenos, Henrique Wancura Budke (PSDB), teria montado um verdadeiro “império rural” para dar aparência de legalidade a valores obtidos de forma ilícita. Segundo o órgão, investimentos em uma criação de suínos de R$ 3,7 milhões e em um rebanho de 20 touros Nelore PO (puro de origem), registrados em contratos de parceria pecuária, foram usados como fachada para lavagem de dinheiro.
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De acordo com a denúncia, Budke, ao lado de Valdecir Batista Alves e Rodrigo Rosa da Silva, adquiriu uma chácara destinada à construção de três barracões de suinocultura, cada um vinculado a um dos sócios. O empreendimento foi financiado pela cooperativa Copérdia e formalizado com notas fiscais emitidas em nome dos três envolvidos.
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Segundo o MPMS, "A confiança e a proximidade com o prefeito eram tantas que eles se tornaram sócios em negócios privados, seja na elaboração de projetos de crédito, seja na implantação de uma granja de suínos em sociedade, com alto investimento, segundo o próprio Valdecir, em seu interrogatório".
O valor do investimento chamou a atenção dos investigadores: R$ 3,7 milhões para erguer a estrutura. Segundo o Ministério Público, o modelo era economicamente inviável para a renda declarada dos participantes e tinha como objetivo principal forjar justificativa para a entrada de valores ilícitos no mercado formal.
Para os promotores, a suinocultura funcionava como “fachada” para dar legitimidade a recursos de propina e fraudes em contratos públicos. A estrutura, no papel, seria voltada à produção e engorda de suínos, mas, na prática, servia para que os denunciados explicassem um patrimônio elevado, sem conexão real com suas rendas oficiais.
Além dos porcos, a acusação aponta ainda o uso de contratos de comodato e parcerias pecuárias simuladas, muitas vezes em nome de familiares do prefeito, para misturar valores de origem ilícita com supostos rendimentos agropecuários. Essa mescla de recursos lícitos e ilícitos, conhecida como commingling, é considerada um expediente clássico de lavagem de capitais.
Os 20 touros Nelore
Outro ponto que reforça a acusação contra Budke é um contrato de parceria pecuária firmado com seu sogro, Orestes Hildebrand da Silva. Pelo acordo, o sogro se comprometeria a criar 20 touros Nelore PO de propriedade do prefeito, pagando anualmente o equivalente a um bezerro por touro entregue.
Na prática, segundo o Ministério Público, o contrato assegurava a preservação do patrimônio inicial (os touros) e ainda garantia a apropriação de lucros anuais (os bezerros), sem qualquer risco econômico para Budke. O documento descreve que essa operação, mais uma vez, não tinha racionalidade financeira, mas sim o objetivo de mascarar os valores recebidos de forma ilícita no exercício do cargo público.
A denúncia ressalta que cada touro, pesando em média 600 quilos, tem alto valor de mercado. Somados, os 20 animais ultrapassam R$ 200 mil. O montante, segundo o MP, é incompatível com a capacidade financeira declarada pelo prefeito, especialmente quando considerados os outros investimentos já identificados, como a própria granja de suínos.
Na avaliação dos promotores, Budke usou a granja de suínos e o rebanho de touros Nelore como fachada rural para justificar patrimônio incompatível com seus rendimentos oficiais, inserindo no sistema econômico valores de origem criminosa.
O MP enfatiza que, ao mesclar ganhos reais da atividade agropecuária com recursos provenientes de corrupção, o prefeito incorreu em branqueamento de capitais, ocultando e dissimulando a origem dos valores desviados.
“Restou claro que Henrique Budke fez uso de expedientes, tais como a subavaliação de imóveis e o uso de contratos familiares gratuitos, para tentar compatibilizar sua evolução patrimonial com os rendimentos declarados. Trata-se de manobras que configuram lavagem de capitais”, diz um trecho da denúncia.
Uma das propriedades em questão é a Fazenda Ipê Amarelo, em Cipolândia (Aquidauana). Segundo o documento, a fazenda tem 161,04 hectares e foi adquirida pelo prefeito por R$ 1,5 milhão. O Ministério Público fez uma análise de mercado na região, encontrando valor médio de R$ 27.047,98 por hectare. Isso significa que, pelo preço de mercado, o imóvel deveria custar aproximadamente R$ 4,35 milhões. A diferença ultrapassa R$ 2,85 milhões.
Na prática, Budke comprou a propriedade por apenas 34,44% do valor médio de mercado, o que levantou forte suspeita de subavaliação para ocultar patrimônio.
O Ministério Público também cita a Chácara Curé, em Terenos, como mais um indício de lavagem de dinheiro praticada pelo prefeito Henrique Budke. O imóvel, com 5 hectares, foi declarado em 2024 pelo valor de R$ 62,6 mil, mas, segundo avaliação de mercado feita pelos investigadores, deveria valer aproximadamente R$ 135,2 mil, ou seja, menos da metade do preço real.
Na denúncia, os promotores ressaltam o efeito dos ganhos ilegais, citando a evolução do patrimônio do prefeito desde a primeira eleição. "Para as eleições do ano de 2020, Henrique declarou ao Tribunal Superior Eleitoral patrimônio equivalente a R$ 776.210,57, enquanto na eleição do ano de 2024, sua declaração de bens foi no valor de R$ 2.468.418,61, ou seja, um aumento patrimonial de 318%."