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Relíquia de 1910 mostra como Campo Grande se redesenhou no tempo

Mapa centenário e a versão atual revelam como nasceu e cresceu a capital de Mato Grosso do Sul

Por Bruna Marques | 26/08/2025 07:44
Relíquia de 1910 mostra como Campo Grande se redesenhou no tempo
Relíquia de 1910 mostra como Campo Grande se redesenhou no tempo
Primeiro mapa oficial de Campo Grande, datado de 1910, registra as ruas e áreas planejadas da então vila (Foto: Henrique Kawaminami)

A cada esquina de Campo Grande é possível perceber como a cidade mudou desde sua fundação, em 1899. Mas para entender de fato a transformação da capital sul-mato-grossense, não basta olhar para o presente: é preciso compará-lo ao que existia no passado.

RESUMO

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Campo Grande: Uma cidade em constante transformação. Uma análise de mapas históricos revela a profunda mudança da capital sul-mato-grossense desde sua fundação em 1899. O primeiro mapa, de 1910, mostra um vilarejo com ruas estreitas e poucos edifícios, contrastando com a metrópole atual, com bairros extensos e infraestrutura complexa. A chegada da ferrovia em 1914 foi um marco no desenvolvimento urbano, centralizando atividades e impulsionando o crescimento da cidade. Mapas antigos revelam ainda planos urbanos não concretizados, mostrando a dinâmica do planejamento urbano. Moradores compartilham suas experiências e perspectivas sobre a cidade. Relatos destacam o crescimento econômico, as oportunidades de trabalho e a melhoria na infraestrutura. O contraste entre o passado e o presente demonstra a evolução de Campo Grande, de um pequeno núcleo rural para uma capital moderna e em expansão.

Uma análise de mapas antigos e atuais revela uma cidade em constante evolução. No ARCA (Arquivo Histórico de Campo Grande), onde estão guardados documentos raros sobre a formação do município, encontra-se o primeiro mapa urbano, executado pelo engenheiro militar Themistocles Paes de Souza Brasil, em janeiro de 1910.

O documento, já em processo de decomposição, é manuseado apenas com luvas e máscara e permanece acondicionado em suporte de pH neutro para preservação. A reportagem esteve no local e viu de perto o mapa original, além de uma cópia feita em fevereiro de 1997, organizada por Cleonice Gardin e reproduzida por Gedeão Jorge.

Para o arquiteto Bruno Silva Ferreira, da Prefeitura de Campo Grande e especialista em patrimônio ferroviário, cada mapa é um fragmento vivo da história.

Relíquia de 1910 mostra como Campo Grande se redesenhou no tempo
Arquiteto manuseia com cuidado o primeiro mapa oficial de Campo Grande, preservado no Arquivo Histórico da cidade (Foto: Henrique Kawaminami)

“Cada traço de um mapa antigo guarda uma decisão histórica. Quando vemos o mapa de 1910, percebemos que ele não era apenas um registro técnico, mas um projeto de cidade: definia limites urbanos, destacava os córregos Prosa e Segredo e planejava ruas que moldaram a vida social da época”, afirma.

Ao comparar o mapa original com imagens atuais, as mudanças são profundas: áreas que antes eram sítios ou pastagens hoje concentram bairros residenciais e centros comerciais; praças e vielas antigas desapareceram, enquanto novas avenidas cortam o coração urbano.

Entre os exemplos mais visíveis está o Centro, que mantém o traçado original de ruas estreitas, mas ganhou avenidas largas e edifícios modernos. Regiões antes periféricas, como Anhanduizinho e Coophavila, que apareciam como áreas rurais em mapas da década de 1960, hoje abrigam milhares de moradores e serviços urbanos.

Segundo Bruno, a ferrovia foi um divisor de águas nessa evolução. “A chegada dos trilhos em 1914 transformou Campo Grande. Antes disso, eram apenas caminhos de terra, os ‘trieros’. A ferrovia não só trouxe desenvolvimento econômico, mas redesenhou a cidade, centralizando atividades no entorno da estação e criando bairros inteiros ao redor dela”, contextualiza.

Relíquia de 1910 mostra como Campo Grande se redesenhou no tempo
Mapa original de Campo Grande, de 1910 (à esquerda), ao lado da cópia restaurada, preservando os traços que revelam o início da formação urbana da cidade (Foto: Henrique Kawaminami)

Ele explica ainda que os mapas revelam planos urbanos que nunca se concretizaram. “O mapa de 1930 previa um Amambaí diferente, com ruas que nunca foram abertas e quartéis que seriam instalados na Rua Campo de Marte, que hoje é a Rua Arthur Jorge, mas acabaram sendo realocados para a Duque de Caxias. Esses documentos mostram que o planejamento urbano é um organismo vivo, sujeito a mudanças políticas e econômicas”, analisa.

Para o arquiteto, preservar essa memória é essencial para planejar o futuro. “Identificamos ao menos sete versões do primeiro mapa entre 1910 e 1920, cada uma com ajustes no traçado urbano. Isso prova que Campo Grande nasceu dinâmica e precisa continuar assim”, defende.

Bruno conclui com uma reflexão pessoal sobre pertencimento: “Eu não nasci aqui, sou de Mogi Mirim (SP), mas moro em Campo Grande desde 2007. Estudar e preservar essa história me fascina. Esta cidade tem um passado único e um planejamento muito avançado para sua época. Meu papel, hoje, é ajudar a manter essa memória viva para que as próximas gerações compreendam o valor de onde vivem”.

Relíquia de 1910 mostra como Campo Grande se redesenhou no tempo
João de Almeida Gomes mora no loteamento Eparque 1 e foi em Campo Grande que conseguiu conquistar sua primeira casa própria (Foto: Osmar Veiga)

De vilarejo a Capital - O primeiro mapa de Campo Grande, datado de janeiro de 1910 e armazenado no ARCA, retrata uma cidade em seus primórdios. Nele, a área urbana aparece restrita a um pequeno núcleo quadriculado, cercado por estradas vicinais, áreas de pastagem e referências a fazendas e invernadas. A simplicidade do traçado revela uma cidade ainda rural, cuja organização urbana se limitava a poucas ruas e à ligação com regiões próximas, evidenciando o caráter inicial de um vilarejo em crescimento.

Já o mapa digitalizado de 2018 mostra uma realidade completamente distinta. A malha urbana é densa e complexa, com bairros distribuídos por toda a extensão do município, infraestrutura viária consolidada e rios mapeados digitalmente. O perímetro urbano ampliou-se de forma significativa, incorporando áreas que antes eram rurais e demonstrando um processo acelerado de urbanização e planejamento.

Relíquia de 1910 mostra como Campo Grande se redesenhou no tempo
Panorama da cidade já consolidada, com bairros densamente ocupados e infraestrutura estabelecida, em contraste com as áreas em expansão (Foto: Osmar Veiga)

A comparação entre os dois mapas expõe mais de um século de transformação: de um núcleo modesto em 1910, limitado e isolado, para uma capital moderna e expandida em 2018, fruto do crescimento populacional, econômico e da integração regional. Esse contraste não apenas evidencia a evolução física da cidade, mas também reflete mudanças sociais e econômicas que moldaram Campo Grande ao longo de seus 126 anos.

Campo Grande pelos olhos de quem vive nela - Nos últimos anos, Campo Grande ganhou novos bairros que simbolizam a expansão da Capital para diferentes regiões. Espaços como Washington Saito, Villaggio Santa Inês, Villaggio Vitória, Jardim Paris, Residencial Maria Neves, Figueiras do Parque, Jardim das Cássias, Zélia Gattai e o Eparque Campo Grande mostram uma cidade em crescimento, com áreas ainda em desenvolvimento e que atraem cada vez mais moradores em busca de qualidade de vida.

Relíquia de 1910 mostra como Campo Grande se redesenhou no tempo
Edith Rodrigues de Souza de Paula elegeu Campo Grande como a cidade das oportunidades (Foto: Osmar Veiga)

É nesses bairros, como o Eparque 1 e o Bela Laguna, que se cruzam histórias de quem decidiu fincar raízes e ajudar a desenhar o futuro da cidade. Para esses moradores, acompanhar as transformações de Campo Grande é também revisitar memórias. Aos 126 anos, a Capital se revela não apenas moderna, mas um organismo vivo, em permanente mudança, moldado pelo tempo e pelas escolhas de quem nela vive.

João de Almeida Gomes, 69 anos, paranaense, chegou à Capital em 1985 para visitar as irmãs e, três anos depois, decidiu ficar. “Quando cheguei, só tinha semáforo na Afonso Pena e na Mato Grosso. Mercado grande, só o Atacadão da Costa e Silva. Não tinha quase nada na cidade”, relembra.

Hoje, João vive no loteamento Eparque 1, na região do Portal Caiobá, onde mora há dois meses. “Para mim, Campo Grande é a melhor cidade do Brasil. Um terreno com água, esgoto, tudo pronto, ainda acho barato. Antigamente não tinha emprego, hoje tem trabalho para quem quer trabalhar. A cidade cresceu muito, tem mais de 200 mercados, e os bairros estão melhores que o Centro”, avalia.

Relíquia de 1910 mostra como Campo Grande se redesenhou no tempo
Vista aérea da área em desenvolvimento, com ruas recém-pavimentadas e poucos imóveis construídos, mostrando o crescimento planejado da cidade (Foto: Osmar Veiga)

Para o futuro, ele sonha alto: “Aqui tinha que ter um metrô, igual São Paulo. A cidade é grande e merece”.

Edith Rodrigues de Souza de Paula, 63 anos, também veio do Paraná e escolheu Campo Grande como lar há três décadas. Pensionista, ela já morou em bairros como Dom Antônio Barbosa, Coronel Antonino e Cophatrabalho, até conquistar a casa própria no Eparque 1.

“Sempre achei a cidade bem desenvolvida, morei em bairros com tudo por perto: mercado, posto de saúde. O que mais gosto é que aqui é uma cidade de oportunidades. Tudo que você faz, você vende. Trabalho tem para quem procura”, afirma.

A ligação com a cidade vai além da estrutura: “Foi na Igreja Universal, na Avenida Mato Grosso, que recebi a cura de um tumor no estômago. Aqui encontrei minha vida e minha saúde de volta. Daqui não saio".

Já Jhonatan Lima, 30 anos, nascido em Campo Grande, acompanha as mudanças mais recentes. Morador do Bela Laguna há dois anos, ele destaca os avanços na infraestrutura.

“Nos últimos anos, notei bastante asfalto. A maioria dos lugares é asfaltada agora. Tem bastantes mercados, bastantes lojinhas.” Para o futuro, espera mais investimento em saúde. “Seria bom se cada bairro tivesse um hospital ou, pelo menos, uma unidade de saúde. Fora isso, a cidade está boa e eu não me vejo morando em outro lugar".

Histórias como as de João, Edith e Jhonatan mostram que Campo Grande é, para muitos, mais que um endereço. É um lugar de oportunidades, de afetos e de expectativas para o futuro. Uma cidade que continua crescendo, guiada por quem acredita e aposta em seu potencial.

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