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Saúde e Bem-Estar

Contra qualquer indicação médica, tadalafila vira pré-treino perigoso

Especialistas alertam para riscos cardíacos do uso indiscriminado do medicamento

Por Kamila Alcântara | 02/05/2025 07:03
Contra qualquer indicação médica, tadalafila vira pré-treino perigoso
Cartela de tadalafila usado por campo-grandense (Foto: Arquivo Pessoal)

O corpo musculoso dos sonhos pode estar custando a saúde do coração de muitos jovens — inclusive em Campo Grande. Ainda não há levantamento regional, mas o uso da tadalafila, medicamento indicado para disfunção erétil, virou febre no mundo fitness brasileiro e, em 2024, já ocupa a terceira posição entre os medicamentos mais vendidos do país.

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Vendas de tadalafila, medicamento para disfunção erétil, disparam no Brasil, tornando-se o terceiro mais vendido em 2024. Impulsionado por sua popularidade no mundo fitness como pré-treino, o remédio teve um aumento expressivo nas vendas, saltando de 21,4 milhões de caixas em 2020 para 31,1 milhões apenas no primeiro semestre de 2024. A receita gerada ultrapassou R$ 1,2 bilhão, representando o maior crescimento anual entre os 20 medicamentos mais vendidos. Apesar da crescente popularidade, não há comprovação científica dos benefícios da tadalafila para ganho de massa muscular. Especialistas alertam para os riscos do uso indiscriminado, principalmente entre jovens, que podem sofrer graves consequências cardiovasculares, como infarto, AVC e queda brusca de pressão. A médica Tatiana Guimarães destaca a falta de controle na prescrição e venda do medicamento, reforçando a necessidade de orientação médica para qualquer tipo de pré-treino, devido aos potenciais efeitos colaterais e interações medicamentosas.

Popularizada até em letras de música, a "tadala" tem sido usada como pré-treino por quem busca músculos mais definidos e veias aparentes. A lógica por trás do uso como suplemento esportivo envolve o relaxamento do endotélio, camada que reveste internamente as artérias. A teoria é que isso favorece a chegada de mais sangue aos músculos, o que supostamente estimularia seu crescimento.

Quem faz uso contínuo da substância acredita que os benefícios compensam os riscos. É o caso de um morador do Bairro Centenário, em Campo Grande, que prefere não se identificar. Aos 31 anos, ele usa o medicamento desde que começou a treinar, há dois anos.

"No fim das contas, qual produto hoje em dia não tem efeito colateral? Os ganhos da tadala superam o lado negativo. Não ajuda só nos treinos, mas também na disposição para o dia a dia", afirmou em entrevista ao Campo Grande News.

O campo-grandense já planeja partir para estratégias mais agressivas. “Estou buscando definição e perda de peso, mas daqui um ano quero aumento de massa muscular”, contou, mencionando a intenção de iniciar o uso de oximetolona, esteroide anabolizante que auxilia na produção de hemácias.

Um levantamento da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), feito a pedido da BBC News Brasil, mostra que as vendas saltaram de 21,4 milhões de caixas em 2020 para 47,2 milhões em 2023. Só no primeiro semestre deste ano, já foram comercializadas 31,1 milhões de unidades.

Outro estudo, da Close-Up International, instituição que monitora dados do mercado farmacêutico , revelou que a tadalafila ficou atrás apenas da losartana e da metformina entre os medicamentos mais vendidos em 2024. O resultado: uma receita que ultrapassou R$ 1,2 bilhão no ano passado, o maior crescimento anual entre os 20 remédios mais comercializados.

Alerta médico - Para a médica Tatiana Guimarães, pós-graduada em endocrinologia e doutoranda em Saúde Pública, a tadalafila entrou para a lista dos chamados “medicamentos da moda”, ao lado das canetas para emagrecimento. Ela faz um alerta sobre os perigos da banalização do uso, especialmente entre jovens.

"Hoje é a tadalafila, ontem foi o Ozempic, o Wegovy, e em breve será o Mounjaro. Sem um controle rigoroso na prescrição e comercialização, o uso seguirá descontrolado. É uma questão de saúde pública. As pessoas tomam porque ouviram que dá resultado, mas ignoram os riscos reais", afirma a especialista.

Ela reforça que os principais perigos envolvem o sistema cardiovascular. “Infarto, AVC, queda brusca da pressão arterial. Como é um vasodilatador, esses efeitos podem surgir de forma silenciosa e se agravar com o tempo, principalmente em usuários jovens que consomem o remédio por motivos estéticos ou para melhorar a performance. Há efeitos colaterais relevantes e interações medicamentosas que precisam ser analisadas”, conclui.

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