‘Inquérito é público’, diz secretário sobre assassinato de agrônomo
Barbosinha deu declaração em resposta à reclamação do deputado Maurício Picarelli sobre ‘vazamento’ da informação de que cheque dele estava na casa do homem morto
Tanto o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, José Carlos Barbosa, o Barbosinha, quanto o delegado-geral, Marcelo Vargas, acham muito difícil chegar ao responsável por divulgar que um cheque do deputado estadual Maurício Picarelli (PSDB) estava dentre os inúmeros outros apreendidos na casa do engenheiro agrônomo Sebastião Mauro Fenerich, 69 anos, que foi morto e teve o corpo carbonizado na segunda-feira (10).
O secretário afirma ainda que não há irregularidade em tornar pública a informação, uma vez que não foi decretado o sigilo para o inquérito. As declarações foram dadas em resposta à reclamação de Picarelli que afirma ter havido “vazamento seletivo” de informações.
O deputado pediu que uma investigação fosse feita e que haja providências a respeito do que ele chama de vazamento. “Por que só meu nome vazou? Essa é a pergunta que eu faço. Se na lista tinha várias pessoas, inclusive grandes empresários com cheques de R$ 500 mil porque só o meu nome? Por que essa perseguição seletiva?”, questionou o parlamentar em entrevista ao Campo Grande News na manha desta quinta-feira (13).
O secretário revelou que foi procurado por Picarelli na tarde de ontem (12) e ligou para Marcelo Vargas na mesma hora. “Falei com o delegado-geral, solicitando uma apuração, embora pelo que eu sei não foi decretado sigilo, então as informações são públicas”.
Barbosinha acredita que dentre os vários cheques achados na casa da vítima, o de Picarelli chamou mais atenção por se tratar de nome muito conhecido. “A dificuldade é que várias pessoas passaram pelo local e tiveram acesso as folhas de cheques. A perícia, os papiloscopistas, agentes da 2º DP [Delegacia de Polícia], da Delegacia de Homicídios”.
Marcelo Vargas acrescenta que no dia das buscas na casa do agrônomo até vizinhos estiveram no local para servires de testemunha.
Cheque – O cheque no nome é de R$ 50 mil. Em nota à imprensa, o parlamentar explicou que em 2014, ano em que foi reeleito para mais um mandato, fez negócios com o homem assassinado.
Picarelli detalhou ainda que Fenerich era funcionário do ex-deputado estadual Jerson Domingos (PMDB), hoje conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado), e pessoas conhecida de “todos” na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul.
Na manhã de hoje, o deputado ressaltou: “não faço nada obscuro”.
Agiotagem – A Polícia Civil trabalha com a possibilidade de que a vítima atuava como agiota, pela quantidade de cheques de terceiros encontrados na casa dela, em diversos valores.
Dessa forma, as suspeitas do crime recaem sobre algum cliente ou parceiro nas negociações irregulares de empréstimo. Uma das grandes questões da investigação é o fato de os cheques terem ficado intactos na casa, expondo os possíveis clientes.
O delegado Weber Luciano, da 2ª Delegacia de Policia Civil, não detalhou os achados da perícia, confirmando apenas a suspeita de que os cheques eram referentes a empréstimos a juros, prática que configura crime no Brasil, passível de pena de até 2 anos de reclusão.
A vítima foi encontrada carbonizada no porta-malas de Hyndai HB20, na rua Missão Salesiana, no Jardim Seminário, na região norte de Campo Grande, no fim da tarde de segunda-feira. Os restos mortais estão no Imol (Instituto de Medicina e Odontologia Legal) à espera da identificação por meio de exame de DNA.
Testemunha de 65 anos contou que viu quando dois homens, um deles em uma caminhonete, desceram dos veículos e atearam fogo no automóvel.
Na casa de Fenerich, além dos cheques, os peritos colheram impressões digitais, encontraram duas armas. O imóvel estava revirado.
O corpo foi encontrado na mesma região onde foi desovado o cadáver do ex-vereador Alceu Bueno, que também foi carbonizado pelos criminosos, em setembro do ano passado.