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Capital

Sem ver saída, Carlos voltou a "viver do lixo" após perder emprego na pandemia

Conforme o catador e revendedores, a reciclagem tem se tornado caminho frequente durante os últimos meses

Aletheya Alves | 06/06/2021 09:44
 Carlos dos Santos, de 28 anos, se viu retornando ao comércio do lixo após perder emprego. (Foto: Kísie Ainoã)
 Carlos dos Santos, de 28 anos, se viu retornando ao comércio do lixo após perder emprego. (Foto: Kísie Ainoã)

Depois de passar parte da infância e adolescência trabalhando no antigo lixão de Campo Grande, Carlos dos Santos, de 28 anos, se viu obrigado a voltar à vida de catador após perder o emprego devido à pandemia. Para quem trabalha com revenda de recicláveis na região do Parque do Lageado, a impressão é de que o coronavírus "trouxe o lixo", mais uma vez, como realidade para quem se viu sem saída.

Aos 12 anos, Carlos ia diariamente ao lixão e, já adulto, conseguiu um emprego com carteira assinada. “Eu trabalhei em outra empresa e depois comecei em uma de limpeza. Fiquei nela até ser demitido por causa da pandemia e agora voltei a mexer com lixo. Não achava que isso fosse acontecer”, explica.

Morando a poucas quadras da empresa que recebe sua coleta, o catador relata que o coronavírus trouxe as memórias de como trabalhar catando recicláveis mais uma vez. “Eu já sabia mexer, sabia o que valia pegar então é mais fácil. Tem outras pessoas que começaram a fazer igual eu, não conseguem emprego e o jeito é esse”.

Trabalhador realizando separação de lixo reciclável em "bags" deixadas por catadores. (Foto: Kísie Ainoã)
Trabalhador realizando separação de lixo reciclável em "bags" deixadas por catadores. (Foto: Kísie Ainoã)

Logo no início da pandemia, ele conta que conseguia valores mais altos do que atualmente, mas a concorrência aumentou na mesma proporção que o desemprego cresce. “Como tem bastante gente mexendo com isso, a quantidade de lixo que eu consigo pegar diminuiu. Eu pego minha moto e preciso ir longe, de casa em casa, para tentar juntar um tanto bom”.

Enquanto não pensa em voltar a ter carteira assinada, o catador explica que imagina continuar no caminho do lixo. “É ruim por um lado, mas por outro eu consigo trabalhar sozinho e no meu horário. Vou continuar assim por um tempo bom até tentar de novo outra coisa”, diz.

Nesse cotidiano, Carlos pontua que seus trajetos são constituídos também pela necessidade de explicações.

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Preciso tomar cuidado e tento ser o mais educado que dá. Às vezes, as pessoas perguntam o motivo de eu estar mexendo no lixo, mas aí explico que é meu jeito de viver. Abro as sacolas, fecho de novo e deixo tudo arrumado", relata Carlos dos Santos.

Responsável por uma das empresas que compram de catadores para revender, Jesuel Silva, de 33 anos, também já viveu a realidade do antigo lixão. “Lá era feio, falando bem sinceramente, mas muita gente tinha parado de trabalhar com isso. A gente tem percebido que a quantidade de catadores aumentou durante o último ano mais uma vez”, conta.

De acordo com Jesuel, muitas pessoas que passaram a procurar lixo para revender lutam para entender o processo. “Tem muita gente que não sabe e trazem de pouco em pouco e assim conseguem quase nada de dinheiro. Quem já trabalhou ou conhece sabe que assim não funciona”.

Lixo reciclável comprado por empresas de revenda no Parque do Lageado. (Foto: Kísie Ainoã)
Lixo reciclável comprado por empresas de revenda no Parque do Lageado. (Foto: Kísie Ainoã)

Sobre a lucratividade das empresas, ele diz que não viu diferenças. “O que muda é que agora mais gente procura a gente com menor quantidade. Isso não mudou nosso rendimento, ficou difícil na verdade para quem recolhe”.

Também responsável pela compra e revenda dos materiais em outra empresa, Roseana Ferreira de Oliveira, de 31 anos, conta que enquanto vê mais pessoas transformando a coleta em cotidiano, tenta se livrar da sujeira.

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A gente começou aqui como catador e depois compramos, mas agora queremos sair disso. Até agora não me acostumei com o lixo, é sempre muita sujeira", Roseana explica.

Sobre ganhar dinheiro, ela diz que tanto quem faz a coleta quanto quem revende tem conseguido se sair bem. “A gente fica no ciclo de sempre precisar comprar e pagar quase sem lucro, é só ver onde eu moro. Os catadores têm se multiplicado, mas o lixo que dá para ser vendido não aumenta. É assim”.

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