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Interior

Delegada reage a ataques machistas e racistas na internet: “Eles serão punidos”

Caso foi registrado como injúria racial, com a mesma gravidade penal que o racismo e pode resultar em prisão

Por Dayene Paz | 07/10/2025 11:34
Delegada reage a ataques machistas e racistas na internet: “Eles serão punidos”
Delegada ao receber moção da Câmara, em Dourados. (Foto: Arquivo pessoal)

“Serão punidos”. É assim que a delegada adjunta da Polícia Civil, Thays do Carmo Oliveira de Bessa, resume o desfecho esperado para os autores dos ataques racistas e machistas que sofreu durante uma entrevista ao vivo em Dourados. O caso, ocorrido na última quinta-feira (2), foi registrado como injúria racial, crime que tem a mesma gravidade penal que o racismo e pode resultar em pena de reclusão.

RESUMO

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A delegada Thays do Carmo Oliveira de Bessa foi vítima de injúria racial e ataques machistas durante uma entrevista ao vivo em Dourados, Mato Grosso do Sul. Os comentários preconceituosos ocorreram enquanto ela falava sobre um caso de homicídio em transmissão pela página Folha de Dourados. Entre as mensagens ofensivas, usuários a chamaram de "feia" e "cracuda", sugerindo que deveria ser empregada doméstica. O caso resultou em ações criminais e cíveis contra os autores, sendo investigado como injúria racial, crime equiparado ao racismo desde a Lei 14.532/2023. A Adepol manifestou repúdio aos ataques, classificando-os como descabidos e covardes.

A delegada concedia entrevista à página Folha de Dourados sobre um flagrante de homicídio quando começaram a surgir comentários ofensivos. Entre as mensagens, um homem escreveu: “Nossa delegada feia, tá mais pra ser empregada doméstica aqui da minha casa que qualquer outra coisa, e tratar ela igual cachorro aqui.” Outros chegaram a chamá-la de “cracuda” e sugeriram que ela “lavasse louça”.

Thays conta que só soube das ofensas no dia seguinte, após receber uma ligação do chefe. “Estávamos no flagrante quando o jornalista me interpelou: ‘grava aqui com a gente’. Falei ali um pouco sobre o que havia acontecido, levei as autoras para a delegacia, deliberei. No outro dia soube dos comentários porque meu chefe me ligou”, relatou ao Campo Grande News.

“É um sentimento de indignação. A pessoa ataca e se sente protegida por um computador. A gente evolui como sociedade, mas o racismo continua. O fato de ser autoridade não é obstáculo para isso”, disse. Segundo ela, o autor apagou as mensagens, mas a ocorrência já havia sido registrada e as providências legais adotadas.

Natural de Goiás, Thays viveu muitos anos em Brasília e está há três anos e três meses em Dourados. Ingressou na Polícia Civil após ser aprovada em concurso e inicialmente atuou na Delegacia da Mulher, onde conduziu casos graves, inclusive de feminicídio. “Em um deles encontramos o autor duas horas após o crime. Ganhamos uma moção de aplauso na Câmara por isso”, recorda.

Ela afirma que, apesar de já ter participado de diversas entrevistas sobre crimes complexos, nenhuma repercutiu tanto quanto o episódio de injúria racial. “Enquanto mulher, a gente busca respeito. Que nossa condição de mulher, de profissional, seja reconhecida e que gênero e cor não sejam motivo de desqualificação”, desabafou.

Na sessão desta terça-feira na Assembleia Legislativa, a delegada recebeu apoio das deputadas Lia Nogueira, Gleice Jane e Mara Caseiro. "É por isso que continuam matando mulheres em Mato Grosso do Sul", analisou a Lia.

As 3 abriram a discussão sobre o caso e tiveram adesão dos parlamentares, O presidente da casa, Gerson Claro, decidiu engrossar repúdio encabeçado pelas deputadas e encaminhar pedido de providências coletivamente, em nome dos 24 deputados da casa.

A Adepol (Associação dos Delegados de Polícia de Mato Grosso do Sul) divulgou nota de repúdio ontem (7), classificando as ofensas como “descabidas e covardes”. “A associação existe para proteger a honra e as prerrogativas de todos os seus membros. Nenhum delegado está sozinho”, diz o comunicado.

A Polícia Civil identificou que os comentários vieram de diferentes regiões do país e não apenas de Dourados. Os autores serão responsabilizados criminal e civilmente. “A punição tem também um efeito pedagógico. Que sirva para lembrar que atrás da tela há um ser humano e uma sociedade que não tolera mais o preconceito”, concluiu a delegada.

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