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Em Pauta

A vida das crianças fugitivas das tropas guaranis no Morro Azul

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 12/12/2024 10:00
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Miranda era uma vila pobre e esquecida. Isolada e tristonha. A capela e algumas casas eram na verdade uns ranchões quase todos cobertos de palha. As notícias chegavam a Miranda pela lancha da Bacia do Prata que saia de Corumbá. Um ou outro cavaleiro lá chegava com notícias que ouvira, sempre com meses e meses de atraso. Os fazendeiros estavam alarmados com a constante invasão das patrulhas paraguaias que, além do medo que levavam às famílias, roubavam o gado que encontravam. Combinavam como deveriam agir em caso de ataque. Quem lideraria a fuga para os morros, em caso de ataque paraguaio, seria João Mamede de Faria. E o ataque chegou. Fugiram para o Morro Azul, para onde iriam também os indígenas da região, tradicionais inimigos dos guaranis.


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Uma festa no mato.

Enquanto os adultos viviam na mais profunda miséria e com medo dos paraguaios, para as crianças os anos no mato foram uma festa continua. Ignorando o perigo da invasão, o veneno das cobras, o bote traiçoeiro das sucuris, as crianças tiveram uma infância cheia der aventuras. Era correr o campo à procura de guavira, de pitanga, de um araçá mais doce e mergulhar nos córregos e lagoas. Armavam arapucas para garantir o jantar de rolinhas e pombas. Nas lagoas, pegavam traíras, que levavam limpas para casa.


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Que brinquedos havia? Ouro?

Ora, atropelar as emas e roubar seus ninhos, apostar corrida com as seriemas, espantar os jacarés escondidos nos aguapés. O tempo era todo das crianças e elas se divertiam. Colecionavam ovos de passarinhos. Amansar caturritas e carregá-las nos ombros era de fazer inveja para as demais crianças. Na falta de cãezinhos, criar um bichinho do mato era uma alegria. Em horas de sol quente, lá pelo meio-dia, o pó de ouro brilhava no leito de córregos. As crianças juntavam esse pó em pequenos pedaços de pano, mas os adultos julgavam que nada valiam, mandavam jogar fora.


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O sarampo tomou conta.

Era uma festa diária. Até que o sarampo reinou. Um febrão danado, um olhar brilhante e vermelhão na pele. Só uma nenêzinha que ainda mamava não teve o estraga festa. Não havia remédio. Até que uma das mães apareceu rezando e fazendo chá de sabugueiro.

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