O restaurador de rostos. O terror da guerra criou a plástica
A partir do momento em que a primeira metralhadora foi disparada na Guerra Mundial do inicio do século passado, uma coisa ficou evidente: a tecnologia militar havia superado as capacidades médicas. As balas rasgavam o ar a velocidades terríveis. Projéteis e bombas explodiam com tanta força que arremessavam homens como se fossem bonecas de pano. A munição contendo magnésio pegava fogo quando alojada na pele. Corpos eram surrados, entalhados e despedaçados, mas ferimentos no rosto podiam ser especialmente traumáticos.
280 mil soldados com rostos estraçalhados.
Narizes sumiam com as explosões. Mandíbulas quebravam. Línguas eram arrancadas. Globos oculares, deslocados. Em alguns casos, rostos inteiros foram destruídos. Antes do fim dessa guerra, 280 mil homens da França, da Alemanha e da Grã-Bretanha tiveram algum tipo de trauma na face. Os massacres atingiram escala industrial. Se sobrevivessem, eram relegados ao ostracismo e, muitas vezes, à repulsa. Aquela sociedade, como a de hoje, era muito ligada à aparência.
Harold Gilles, o corajoso médico que criou a cirurgia plástica.
Graças aos esforços e à coragem de um só médico, denominado Harold Gilles, homens com bochechas arrebentadas, mandíbulas destruídas e outras lesões assustadoras recuperaram a própria identidade. Gilles é o restaurador de rostos. Ao contrário dos amputados, os homens com feições desfiguradas não eram celebrados como heróis. Enquanto uma perna amputada podia despertar simpatia e respeito, um rosto danificado causava sentimentos de repulsa e nojo. Vencendo todos os obstáculos possíveis e imagináveis, Gilles foi o primeiro médico a criar uma “nova” medicina - a recuperação de rostos.
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