O Xucro de Terenos e o caso com a bruxa
O Xucro de Terenos é mais um de milhares que habitavam o Mato Grosso do Sul. Uma alma feita de veneno. Um eterno revoltado. Vivente que o destino marcou com o ferro da brutalidade. Vivia nas estradinhas de Terenos. Nunca pensou em ter uma casa.
Para que ter casa?
O Xucro dizia que “Carancho não tem casa, e vive”. Cotia também. Bicho-preguiça e tamanduá não tem casa. E todos vivem. Oco de pau, galho de árvore, trançado de cipó, moita de capim e buraco de cupim também podem ser casa. Pra que, então, casa de esteio, com fogão de girau, porta e janela? Xucro que é xucro de verdade, pode viver no largo, fazer fogo no chão e viver no relento. Quando bicho macho quer, procura fêmea. Homem é igualzinho. Essa era a filosofia do Xucro.
Sapo jia, repelido pela saparia.
O Xucro era inadaptável. Não possuía amigos. Era como um sapo jia, repelido pela saparia. Tinha de viver só. Era sua sina. O campeiro da fazenda do pai de uma famosa política dizia que o Xucro era como argola de laço, brutos da mesma têmpera. Até que certo dia, o Xucro, cansado de viver só, resolveu se casar. Chamou a bruxa casamenteira.
Dois palmos de fumo.
A bruxa manquitolando, era caolha. O Xucro deu-lhe dois palmos de fumo para o cachimbo e um pente de tartaruga em troca de um noivado. A bruxa correu o sertão. Passou por todas as fazendas entre Terenos e Aquidauana tentando arrumar casamento para o Xucro. “Quer se casar com o Xucro?” As respostas variavam de “Deus me livre” a “Que pergunta besta?” A bruxa picou o fumo, carregou o cachimbo e regressou. Chegou à árvore onde estava o Xucro e contou-lhe o que acontecera.
Caiu morta.
O Xucro indignou-se. Pegou a bruxa pelos cabelos e exigiu que fosse ela a noiva. Solteiro é que não ficaria. A bruxa arregalou os olhos, deu um grito e caiu para trás, morta. Enjeitado até pela bruxa, o Xucro passou a vaguear com destino a Campo Grande, passando fome, dormindo ao relento. Repudiado por todos, perverso e vingativo, sem amigos, sem carinho e sem mulher, dizem que vive até hoje.
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