Amizade feita no YouTube virou ateliê com cerâmica no muro

As cerâmicas coladas em uma casa de esquina denunciam que ali, entre a tinta azul e a porta, acontece arte. Quem passa pela Rua Clemente Pereira, próximo à Avenida Ernesto Geisel, dá de cara com um ateliê que nasceu a partir de vídeos no YouTube. Os conteúdos publicados pela artista visual Maristela Lisboa encantaram a ceramista Erlita Semedo Pedrosa, que, depois de anos trabalhando em casa, finalmente encontrou uma parceria para abrir o próprio espaço.

No local, diversos animais e cenários são pintados em pratos de porcelana, canecas, jarros, pratos e bules de cerâmica. Erlita é surpreendida enquanto trabalha em mais uma peça. Simpática, ela conta como conheceu Maristela e explica que o objetivo da fachada é justamente mostrar a arte para quem passa – e, claro, convidar as pessoas a criarem seus próprios objetos e pinturas no curso que ambas ministram.

“Conheci ela por um vídeo no YouTube. Fiquei assistindo às aulas que ela dava e achei que fosse de outro estado. Aí vi que era daqui. Depois disso, veio o ateliê Pedbarro”, explica.

Durante décadas, ela foi professora, diretora e coordenadora de escolas em Campo Grande. Quando se aposentou, encontrou na cerâmica uma forma de continuar a educar, mas agora com as mãos mergulhadas na argila.

A cerâmica virou mais que ofício, virou terapia, segundo ela. Para fazer o que mostra para os alunos hoje, ela precisou fazer cursos em São Paulo, estudou o torno, aprendeu todas as técnicas. Inclusive, o forno é xodó da ceramista, que diz que entre os dois existe algo mágico. Claro, a fala é no simbólica, mas os olhos expressam a alegria que Erlita sente na profissão que escolheu e a acolheu.

“Sempre gostei da cerâmica. Quando eu parei mesmo de lecionar foi que eu comecei, porque eu sabia que ali, além de ocupar meu tempo, iria continuar em um trabalho para não parar. Eu acho que a cerâmica é também terapêutica. Então isso para mim foi demais. Quando a gente abre o forno, que vê aquelas peças já esmaltadas, aquelas peças brilhando, lindas, porque fui eu que fiz isso, olha, o coração bate forte de alegria, de contentamento em saber que eu fiz aquela peça. Então ele é um xodózão, tudo que eu faço é muito carinhoso, eu amo”.

Maristela pinta desde a adolescência. Começou com Dourados e, desde então, são mais de 30 anos entre pincéis, cores e ensinamentos, já que completou 10 anos como professora.

Ela se formou em Artes Visuais e nunca se afastou da pintura. Antes da parceria, ela tinha um ateliê pequeno, que foi cenário dos vídeos gravados para o YouTube. Lá ela ensinava a fazer as peças e dava dicas sobre o porcelanato.

“Meu objetivo era fazer faculdade e foi o que eu fiz. Me sinto muito feliz porque há mais de 20 anos caminhando não parei. Isso que é o importante, seguir no objetivo. Sempre fiz curso e quis me aprofundar na área, porque o material mudou muito, os que tinham há 10 anos atrás vão evoluindo e você tem que se aperfeiçoar. Resolvi abrir o ateliê para passar o conhecimento para alguém continuar”.

Ela comenta que, na grade do curso, ensina a pintar de canecas a pratos, no estilo clássico e contemporâneo.

“A pintura na porcelana a gente chama de terceira queima. A primeira é o biscoito, a segunda a vitrificação, que é o esmalte, e a terceira é pintar em cima do esmalte. A gente se uniu porque é arte do fogo. Mostro o clássico, que são as rosas, onde você pinta todo o fundo, e o moderno, que é o decalque, só o contorno, algo mais minimalista. Tem um pessoal que não larga o antigo, mas não está aberto para o novo. Eu prefiro o clássico, gosto das rosas”, comenta.

O espaço foi inaugurado em fevereiro e as expectativas são altas para ambas as artistas.

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