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Artes

Filme “Carne Amarela” é gravado em Coxim com elenco e equipe locais

A proposta do filme é colocar Coxim na tela a partir de suas próprias referências

Por Thailla Torres | 20/12/2025 07:50
Filme “Carne Amarela” é gravado em Coxim com elenco e equipe locais
A proposta do filme é colocar Coxim na tela a partir de suas próprias referências

Coxim voltou a ser cenário de infância, memória e criação. Até domingo, a cidade recebe as filmagens do curta-metragem de ficção “Carne Amarela”, dirigido por Gleycielli Nonato Guató e produzido por Marcus Teles. Ambos nasceram em Coxim e escolheram a cidade como locação única do filme, que conta com elenco local, moradores atuando pela primeira vez no audiovisual e uma equipe formada, em sua maioria, por profissionais coxinenses.

RESUMO

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O curta-metragem "Carne Amarela", dirigido por Gleycielli Nonato Guató e produzido por Marcus Teles, está sendo filmado em Coxim, Mato Grosso do Sul. A produção conta com elenco e equipe majoritariamente locais, incluindo a atriz Maria Agripina no papel principal e o veterano Breno Moroni.O filme aborda temas como preservação do Cerrado, memória e identidade cultural, tendo o pequi como elemento central da narrativa. Com financiamento da Política Nacional Aldir Blanc, o projeto também possui caráter formativo, envolvendo moradores locais em sua primeira experiência com audiovisual.

A proposta do filme é  colocar Coxim na tela a partir de suas próprias referências, o Cerrado, o pequi, a infância, o modo de viver e a relação com a terra. A história nasce do desejo de registrar o que ainda existe e de lembrar o que vem se perdendo ao longo do tempo.

“Eu planejei muito trazer esse filme para Coxim. Gravar aqui, com pessoas da cidade, com artistas da terra, é muito emocionante. A maioria do elenco é coxinense e boa parte da equipe também. Isso faz muita diferença”, conta a diretora Gleycielli, que também assina o roteiro, inspirado em textos literários de sua autoria.

O curta é baseado no poema Carne Amarela e no conto É Tempo de Ouro no Cerrado. As duas obras carregam lembranças de uma Coxim marcada pela convivência com a natureza, pelos rios, pelas frutas do Cerrado e pelas brincadeiras ao ar livre.

“Eu vivi uma infância muito conectada à terra. A gente colhia pequi, ingá, goiaba, fazia doce de caju. Muitos desses lugares hoje viraram bairros. O filme é um lembrete do que ainda existe e do que não pode desaparecer”, explica Gleycielli.

O pequi, fruto central da narrativa, aparece como símbolo de resistência e identidade. Para a diretora, ele representa não apenas alimento, mas história e sustento. “O pequi já sustentou muitas famílias. Ele resiste ao fogo e ao tempo, mas não resiste ao machado. O filme quer despertar esse sentimento de pertencimento, principalmente nas crianças.”

Mulheres à frente da criação

A personagem principal, Zoraide, é inspirada nas mulheres da família da diretora — mãe, tias, avó e bisavó. Quem interpreta a personagem é Maria Agripina, mãe de Gleycielli e figura importante do teatro em Coxim.

“Ver minha mãe dando vida à Zoraide é muito forte para mim. A personagem leva o nome de uma tia que faleceu na pandemia. Este filme reúne muitas histórias pessoais”, relata.

Outro destaque da produção é que todos os cargos de direção são ocupados por mulheres. A equipe reúne profissionais da cidade e da região, incluindo artistas e trabalhadores com trajetórias fora do audiovisual, que participam do set pela primeira vez.

Para o produtor executivo Marcus Teles, filmar em Coxim foi uma decisão natural. “A história nasce daqui. A paisagem, a luz, o jeito de viver, tudo isso faz parte do filme. Gravar em outro lugar não faria sentido”, afirma.

Segundo ele, o processo de escolha das locações foi guiado pela memória e pelo cotidiano da cidade. “Coxim mistura o urbano e o rural o tempo todo. Não fomos atrás de cenários prontos. A cidade já oferecia tudo o que o filme precisava.”

O projeto também tem caráter formativo. Oito moradores de Coxim participam do set pela primeira vez, acompanhados por profissionais experientes. “A ideia é abrir caminhos. Mostrar que o audiovisual também pode ser uma possibilidade para quem vive aqui”, diz Marcus.

O filme conta ainda com a participação do ator Breno Moroni, conhecido por interpretar o personagem Mascarado na novela A Viagem e por uma carreira extensa no cinema e na televisão. Carne Amarela marca seu 101º trabalho audiovisual.

“Ele chega com muita experiência, mas com simplicidade. Contribui sem descaracterizar o espírito do filme”, avalia o produtor.

Embora trate de questões como desmatamento, queimadas e perda de territórios, o curta adota uma abordagem sensível, voltada também ao público infantil. “As crianças entendem o sentimento de perda e de pertencimento. Quando algo pertence a você, você aprende a cuidar”, explica a diretora.

Durante a semana, a equipe participou de uma atividade formativa com o professor Alexandre Lopes, do IFMS – Campus Coxim, para discutir práticas de um audiovisual mais inclusivo e conectado com a realidade local.

A expectativa é que Carne Amarela circule por festivais no Brasil e fora do país, mas, acima de tudo, que dialogue com a própria cidade onde foi feito.

“Queremos que Coxim se veja, se reconheça e perceba que suas histórias merecem estar no cinema”, afirma Marcus.

Para Gleycielli, o filme também representa um retorno às origens. “Eu sou uma Guató de Coxim. Este filme fala muito sobre de onde eu vim e sobre quem eu sou.”

As filmagens seguem até o fim da semana. Como o fruto que dá nome ao filme, Carne Amarela nasce para atravessar o tempo, guardar memória e lembrar que permanecer também é um ato de cuidado.

O projeto conta com investimento da Política Nacional Aldir Blanc (PNAB), do Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura, com execução do Governo do Estado, via Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul.